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Mostrando postagens com o rótulo literatura

Um (in)certo conceito de maçã

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Giovanni Domenico Cerrini, Il ratto d' Europa Literatura, filosofia, ciência: hoje, as nossas ferramentas para compreender o mundo desenvolvem-se separadamente, lamenta o intelectual e humanista. No entanto, a cultura é o que nos salva, especialmente na Europa. Excertos. N ietzsche, Heráclito e Dante são os heróis do seu novo livro, Poetry of thought [Poesia do pensamento], mas vão ter de ficar para depois. George Steiner recebe-nos em casa, em Cambridge, numa confidencialidade divertida, entre uma fatia de bolo e um café. Nos primeiros dias do Eurostar, propôs que se desse um shilling ao primeiro garoto que visse um peixe no Túnel da Mancha. "Os pais ficaram aterrorizados!", goza o professor de Literatura Comparada. É essa mistura de malícia e erudição, inteligência e simpatia, que caracteriza George Steiner. Nascido em 1929 em Paris, de mãe vienense e de um pai tcheco que teve a presciência do horror nazi, este mestre da leitura poliglota decifrou Homero e Cí

Brasília: Prazer inflacionado

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Histórias Reais da Capital Federal                                                                                "Posso resistir a tudo, menos à tentação..."                                                                       (Oscar Wilde) U m amigo meu - respeitabilíssimo executivo de um banco público sediado em Brasília -, homem de boa e tradicional famiglia paulistana, casado, pai de três filhos e de caráter impoluto , o amigo navegante logo perceberá adiante, teve de se mudar a trabalho para o Distrito Federal, e qual não foi sua surpresa observou algumas notáveis diferenças entre Brasília e São Paulo. De início, notou que a frase mais pronunciada (e ouvida) pelas bandas da capital federal era: "Você sabe com quem está falando? " Meu ingênuo amigo estranhou o fato, acostumado a ouvir, mais comumente, na Chuiça(*): "Saia da frente, companheiro. Tô com pressa..." Mas as diferenças não páram por aí não. Acostumado às bandalheiras por aqui,

Saramago: A passagem do grande pessimista

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  "Não pergunte o que é o homem,  mas sim o que ele faz daquilo que fizeram dele" (Jean Paul Sartre) Três portas principais Ler e imaginar são duas das três portas principais — a curiosidade é a terceira — por onde se acede ao conhecimento das coisas. Sem antes ter aberto de par em par as portas da imaginação, da curiosidade e da leitura — não esqueçamos que quem diz leitura diz estudo —, não se vai muito longe na compreensão do mundo e de si mesmo. Construir humanidade Nem todos os lugares onde o homem vive são sempre humanos. A função dos que tem a responsabilidade de governar, e também dos artistas, consiste na obrigação de tornar o mundo cada dia mais humano. Por viver em comunidade, a nossa missão, que não é histórica nem muito menos divina, consiste em construir humanidade. Essa tem que ser uma preocupação diária, para que a queda de todos os dias se detenha. A pergunta fundamental das humanidades Do ponto de vista empresarial, não fazem falta as humanidades.

Cadernos: A desejada morte do editor

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Editores By José Saramago   V oltaire não tinha agente literário. Não o teve ele nem nenhum escritor do seu tempo e de largos tempos mais. O agente literário simplesmente não existia. O negócio, se assim lhe quisermos chamar, funcionava com dois únicos interlocutores, o autor e o editor. O autor tinha a obra, o editor os meios para publicá-la, nenhum intermediário entre um e outro. Era o tempo da inocência. Não quer isto dizer que o agente literário tenha sido e continue a ser a serpente tentadora nascida para perverter as harmonias de um paraíso que, verdadeiramente, nunca existiu. Porém, direta ou indiretamente, o agente literário foi o ovo posto por uma indústria editorial que havia passado a preocupar-se muito mais com um descobrimento em cadeia de best-sellers que com a publicação e a divulgação de obras de mérito. Os escritores, gente em geral ingênua que facilmente se deixa iludir pelo agente literário do tipo chacal ou tubarão, correm atrás de promessas de vulto

Adoráveis brincadeiras de dizer verdades

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Comentário: Muito se pergunta qual mais vale, se uma vida ou uma obra. No caso do genial Carlito, dúvida alguma há: a obra de uma vida.

Fica o mundo mais pobre: morreu o imortal Saramago

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Saramago - Ponto final à vida do gênio que escrevia sem pontos ou vírgulas "Todos sabemos que cada dia que nasce  é o primeiro para uns e  será o último para outros  e  que, para a maioria, é so um dia mais."   (José Saramago) J osé Saramago, Prémio Nobel da Literatura em 1998, morreu nesta sexta-feira em sua casa localizada em Lanzarote, onde residia com a mulher Pilar del Rio. O escritor português tinha 87 anos e encontrava-se doente há algum tempo. O seu estado de saúde teria se agravado na última semana. José Saramago nasceu em Azinhaga, concelho de Golegã, a 16 de novembro de 1922, embora o registo oficial mencione o dia 18. Entre as obras publicados constam: "Manual de Pintura e Caligrafia", "Levantado do Chão", "Memorial do Convento", "O Ano da Morte de Ricardo Reis", "A Jangada de Pedra", "História do Cerco de Lisboa", "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", Ensaio sobre a Cegueira","T

Literatura: Biografia de Saramago chega ao Brasil em 16 de maio

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Letras & Literatura Primeira biografia de José Saramago chega ao Brasil em 16 de maio   13/05/2010   A primeira biografia de José Saramago , 87, chegará às livrarias brasileiras no próximo domingo (16), com uma tiragem de 20 mil exemplares pela editora LeYa. "Saramago: uma Biografia", do escritor também português João Marques Lopes, acompanha a vida de um dos escritores mais importantes da história da literatura portuguesa. A obra foi publicada em Portugal em 21 de janeiro deste ano. Do seu nascimento em Azinhaga, Golegã até o lançamento de seu mais recente e polêmico livro "Caim", Saramago e sua carreira literária são radiografados por Lopes em 248 páginas. O exemplar percorre também a vida política do Nobel de Literatura e destaca os episódios polêmicos, como a demissão de jornalistas do "Diário de Notícias", tempo em que era diretor do jornal português. O biógrafo detalha o veto de "O Evangelho Segundo Jesus

Contos: O invejoso

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Clássicos                                                                               O INVEJOSO "A inveja tem a vantagem de corroer o invejoso por dentro "  François-Marie Arouet (*) Z adig procurou consolo, na filosofia e na amizade, dos males que lhe causara a sorte. Possuía, num arrabalde de Babilônia, uma casa arranjada com excelente gosto, onde acolhia todas as artes e divertimentos dignos de um homem de bem. De manhã, franqueava a biblioteca a todos os sábios; e a mesa, de noite, à gente de boa companhia. Mas logo viu como são perigosos os primeiros. Explodiu entre eles uma grande querela acerca da lei de Zoroastro que proibia comer grifo. — Como proibir carne de grifo — diziam uns, — se esse animal não existe? — Tem de existir — diziam outros, — visto que Zoroastro não quer que o comam. Zadig procurou harmonizá-los, dizendo: — Se houver grifos, não os devemos comer; se não os houver, muito menos os comeremos; e assim

Literatura: O Banqueiro Anarquista

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Mestres da Literatura   O Banqueiro Anarquista Fernando Pessoa Tínhamos acabado de jantar. Defronte de mim o meu amigo, o banqueiro, grande comerciante e açambarcador notável, fumava como quem não pensa. A conversa, que fora amortecendo, jazia morta entre nós. Procurei reanimá-la, ao acaso, servindo-me de uma idéia que me passou pela meditação. Voltei-me para ele, sorrindo. - É verdade: disseram-me há dias que V. em tempos foi anarquista... - Fui, não: fui e sou. Não mudei a esse respeito. Sou anarquista. - Essa é boa! V. anarquista! Em que é que V. é anarquista?... Só se V. dá à palavra qualquer sentido diferente... - Do vulgar? Não; não dou. Emprego a palavra no sentido vulgar. - Quer V. dizer, então, que é anarquista exatamente no mesmo sentido em que são anarquistas esses tipos das organizações operárias? Então entre V. e esses tipos da bomba e dos sindicatos não há diferença nenhuma? - Diferença, diferença, há... Evidentemente que há diferença. Mas não é a que V. j

Ficção: Uma sátira infanto-juvenil ao culto às "celebridades"

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Dica de leitura - Infanto-juvenil Aventura satiriza consumismo e culto às celebridades   "Obra infanto-juvenil mostra que neste mundo, a vaidade pode se transformar num vício muito pior que o consumo de drogas."  (Beto Junqueyra) U ma carta misteriosa vai levar Os Natos - um grupo de elite encarregado de missões especiais - para uma aventura sem limites - eles farão uma volta ao mundo, passando por todos os países que falam a Língua Portuguesa, numa gincana internacional que acontece no ano de 2010.  O objetivo da gincana é desvendar uma série de mensagens deixadas pelo poeta Luís de Camões, espalhadas em diversos locais do nosso planeta. Ao decifrar essas mensagens, a equipe vencedora poderá encontrar um tesouro deixado pelo famoso escritor português.  Até então, julgava-se que Camões havia morrido pobre e esquecido. Mas uma carta datada de 1580, encontrada numa pequena igreja do interior de nosso país, trouxe esta surpreendente revelação - o autor de 'Os

Literatura: ABL celebra o centenário de Euclides da Cunha

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10/08/2009 ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS VAI DEDICAR QUATRO MESES DE SUA PROGRAMAÇÃO CULTURAL ÀS CELEBRAÇÕES DO CENTENÁRIO DE MORTE DE EUCLIDES DA CUNHA Walnice Nogueira Galvão abrirá Ciclo de Conferências no dia 11.8, falando sobre "Os desafios de editar Euclides da Cunha" A Academia Brasileira de Letras vai dedicar quatro meses (agosto, setembro, outubro e novembro) de sua programação cultural às celebrações do centenário de mortde Euclides da Cunha , promovendo, no total 16 grandes eventos, organizados em torno de um Ciclo de Conferências, uma série de mesas-redondas e a exposição "Euclides, Um Brasileiro". Na próxima terça-feira, às 17h30min, no Teatro R. Magalhães Jr., a professora de Teoria Literária e Literatura Comparada da USP, Walnice Nogueira Galvão, inaugura o Ciclo de Conferências, coordenado pelo Acadêmico Alberto Venancio Filho, falando sobre "Os desafios de editar Euclides da Cunha". Segundo Walnice, "

Humm...Boa é, mas será também bonitinha?

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V E R D A D E A porta da verdade estava aberta, mas só deixava passar meia pessoa de cada vez. Assim não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava só trazia o perfil da meia verdade. E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil. E os meios perfis não coincidiam. Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta. Chegaram ao lugar luminoso onde a verdade esplendia seus fogos. Era dividida em metades diferentes uma da outra. Chegou-se a discutir qual a metade mais bela. Nenhuma das duas era totalmente bela. E carecia optar. Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia. Perdoe-me, mas amigo, amigo de verdade, não é aquele que lhe diz coisas agradáveis; é aquele que lhe diz coisas úteis.

Cápsula de Cultura: O ABC da Crise

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Dica de leitura Diante da recessão Por Roberto Saturnino Braga* Muito se tem dito e escrito , quase uma pletora de textos e discursos sobre a crise da economia mundial tem saído por todos os canais da mídia e do movimento editorial nos últimos meses. Nenhuma comparação foi feita com os escritos nos anos 1930, mas duvido que metade de tal soma de descrições, apreciações e prognósticos tenha sido feita durante a grande crise daqueles anos. E entretanto, no meio dessa demasia, pode-se recomendar, sem receio de ilusão por facciosismo, a coletânea de textos editados pela Fundação Perseu Abramo sob o título de O ABC da Crise . Para os brasileiros, poderíamos indicar como leitura obrigatória para todos os que buscam o difícil entendimento desses fenômenos econômico-político-sociais que escapam a qualquer enquadramento em equações do tipo das que tratam das ciências exatas, na medida em que são fortemente influenciados por fatores humanos, políticos e psicológicos. Trata-se de um su