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Realidade: O homem, a sociedade e a inexistência da humanidade

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Salvador Dali   "Deixemos de ser egoístas;  passemos a pensar só em nós mesmos" (Mestre Sábio) Por Fernando Pessoa A única realidade social é o indivíduo , por isso mesmo ele é a única realidade. O conceito de sociedade é um puro conceito; o de humanidade uma simples ideia. Só o indivíduo vive , só o indivíduo pensa e sente. Só por metáfora ou em liguagem translata se pode aludir ao pensamento ou ao sentimento de uma coletividade. Dizer que Portugal pensa, ou que a humanidade sente é tão razoável como dizer que Portugal se penteia ou que a humanidade se assoa. Sendo o indivíduo a única realidade social, não é todavia o único elemento social. Esse indivíduo vive em dois meios ou ambientes - um o ambiente físico, outro o ambiente social, ou sociedade. É esse o valor do elemento sociedade - é o meio, um dos meios, em que o indivíduo vive.  O sábio realismo de Aristóteles viu isto bem; e assim se assentou a tese política grega - que a sociedade existe par

Livros: Um pouco mais de desassossego

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 Realidade - Claude Monet "… esse episódio da imaginação a que chamamos realidade." ( Bernardo Soares) H á dois dias que chove e que cai do céu cinzento e frio uma certa chuva, da cor que tem, que aflige a alma. Há dois dias… Estou triste de sentir, e reflito-o à janela ao som da água que pinga e da chuva que cai. Tenho o coração opresso e as recordações transformadas em angústias. Sem sono, nem razão para o ter, há em mim uma grande vontade de dormir. Outrora, quando eu era criança e feliz, vivia numa casa do pátio ao lado a voz de um papagaio verde a cores. Nunca, nos dias de chuva, se lhe entristecia o dizer, e clamava, sem dúvida do abrigo, um qualquer sentimento constante, que pairava na tristeza como um gramofone antecipado. Pensei neste papagaio porque estou triste e a infância longínqua o lembra? Não, pensei nele realmente, porque do pátio fronteiro de agora, uma voz de papagaio grita arrevesadamente. Tudo se me confunde. Quando julgo que recordo, é outra co

Desassossego: Da inutilidade de guerras e revoluções

A s guerras e as revoluções - há sempre uma ou outra em curso - chegam, na leitura dos seus efeitos, a causar não horror mas tédio.  Não é a crueldade de todos aqueles mortos e feridos, o sacrifício de todos os que morrem batendo-se, ou são mortos sem que se batam, que pesa duramente na alma: é a estupidez que sacrifica vidas e haveres a qualquer coisa inevitavelmente inútil. Todos os ideais e todas as ambições são um desvario de comadres homens.  Não há império que valha que por ele se parta uma boneca de criança.  Não há ideal que mereça o sacrifício de um comboio de lata.  Que império é útil ou que ideal profícuo? Fernando Pessoa - Livro do Desassossego

Literatura: A aula de filosofia política por Fernando Pessoa

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Saramago morreu. Morreu? Não. Apenas deitou-se. "Não se levanta nem precisa levantar-se. Está bem assim. O mundo que elouqueça, o mundo que estertore em seu redor. Continua deitado sob a racha da pedra da memória". (Homem Deitado - Carlos Drummond de Andrade) E que dizer de Fernando Pessoa, então? Seriam os banqueiros, "anarquistas"? E por falar em bancos, l embrei-me de um, dentre tantos e inúmeros contos geniais de Fernando Pessoa, em que destila ironia, consciência, crítica e sabedoria. Trata-se de " O Banqueiro Anarquista " , que como bem disse a professora, escritora e poetisa Leila Brito: "Que aula de Filosofia Política!...".  Transcrevo, abaixo, um pequeno trecho que pode ser lido na íntegra no Blog do Fernando Pessoa: [...] - Fui sempre mais ou menos lúcido. Senti-me revoltado. Quis perceber a minha revolta. Tornei-me anarquista consciente e convicto - o anarquista consciente e convicto que hoje sou. - E a teoria, que V. te

Pessoa: "A vida moderna é um ócio agitado"

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Pensamentos                                                                         VIDA MODERNA  "Se hesitamos em ter dó do toxicômano que se satura de cocaína, por que haveríamos de ter dó desses toxicômanos ainda mais estúpidos, que absorvem velocidade em vez de cocaína? (...) A velocidade dos veículos arrebatou a velocidade de nossas almas. Vivemos muito lentamente e é por isso que tão facilmente nos entediamos. A vida tornou-se para nós o campo. Não trabalhamos bastante e pretendemos trabalhar demais. Movemo-nos muito rapidamente de um ponto onde nada está sendo feito para outro ponto onde não há nada a fazer, e chamamos isto a pressa febril da vida moderna. Não é a febre da pressa, mas a pressa da febre. A vida moderna é um ócio agitado, uma fuga dentro da agitação ao movimento ordenado" Fonte:  Fernando Pessoa: 59

Literatura: Curiosidades sobre Fernando Pessoa

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Os deuses vendem quando dão. Compra-se a glória com desgraça. Ai dos felizes, por que são Só o que passa! Baste a quem baste o que lhe basta O bastante de lhe bastar! A vida é breve, a alma é vasta: Ter é tardar. Foi com desgraça e com vileza  Que Deus ao Christo definiu: Assim o oppoz à Natureza E Filho o ungiu. ( "O das Quinas" in Mensagem)                                                            Curiosidades: A personalidade múltipla de Pessoa A personalidade múltipla de Fernando Pessoa, e sua criação de três grandes poetas imaginários, distintos entre si, é o que mais tem surpreendido a todos que se aproximam de sua literatura. Fernando Pessoa criou entidades completas, e não só deu-lhes vida psicológica, mas inventou seus traços físicos, seus pequenos gostos e manias e até fez suas assinaturas. Leia mais: Blog do Fernando Pessoa

Aniversário: 121 anos de Pessoa

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A Arte mente

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"Toda arte é, antes de tudo, subversiva. " (Jacques Lacan) A arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em os libertar deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial libertação. O que sinto, na verdadeira substância com que o sinto, é absolutamente incomunicável; e quanto mais profundamente o sinto, tanto mais incomunicável é. Para que eu, pois, possa transmitir a outrem o que sinto, tenho que traduzir os meus sentimentos na linguagem dele, isto é, que dizer tais coisas como sendo as que eu sinto, que ele, lendo-as, sinta exactamente o que eu senti. E como este outrem é, por hipótese de arte, não esta ou aquela pessoa, mas toda a gente, isto é, aquela pessoa que é comum a todas as pessoas, o que, afinal, tenho que fazer é converter os meus sentimentos num sentimento humano típico, ainda que pervertendo a verdadeira natureza daquilo que senti. Tudo quanto é abstracto é difícil de compreender, porque é difícil de conseguir para ele a

Felizes os que sofrem

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Mesmo que eu quisesse criar, a única arte verdadeira é a da construção. Mas o meio moderno torna impossível o aparecimento de qualidades de construção no espírito. Por isso se desenvolveu a ciência. A única coisa em que há construção, hoje, é uma máquina; o único argumento em que há encadeamento o de uma demonstração matemática. O poder de criar precisa de ponto de apoio, da muleta da realidade. A arte é uma ciência… Sofre ritmicamente. Não posso ler, porque a minha crítica hiperacesa não descortina senão defeitos, imperfeições, possibilidades de melhor. Não posso sonhar, porque sinto o sonho tão vivamente que o comparo com a realidade, de modo que sinto logo que ele não é real; e assim o seu valor desaparece. Não posso entreter-me na contemplação inocente das coisas e dos homens, porque a ânsia de aprofundar é inevitável, e, desde que o meu interesse não pode existir sem ela, ou há-de morrer às mãos dela ou secar . Não posso entreter-me com a especulação metafísica porque sei de sobr