Frei Betto : Nós, os burros
NÓS, OS BURROS Aluno, em 1964 , do curso de jornalismo, ficava a Escola, no Rio, próxima ao aterro do Flamengo, então um canteiro de obras. Ali pastavam animais de carga. Um grupo de colegas, no qual me incluía, não suportava o tom laudatório do professor Hélio Vianna, ao se referir ao marechal Castelo Branco, seu cunhado, e primeiro a ocupar a Presidência em nome da ditadura. Decidimos pregar-lhe uma peça. Sequestramos um burro no aterro e o enfiamos na sala de aula. No corredor do andar de cima, ficamos a observar a reação do professor de história. Hélio Vianna entrou na sala e, para a nossa decepção, ali permaneceu em companhia do muar, durante 50 minutos. Dado o sinal, retirou-se impassível, sem demonstrar contrariedade ou queixar-se à direção. Deu mais trabalho fazer o burro descer do que subir os degraus da faculdade. Na semana seguinte o episódio parecia mergulhado no olvido. Hélio Vianna entrou em classe e - novo desaponto - não nos passou nen