#DiaDoAdvogado Oração às moças e moços
Ei−la aí a cólera santa! Eis a ira divina!
Quem, senão ela, há de expulsar do templo o renegado, o blasfemo, o profanador, o simoníaco?
Quem, senão ela, exterminar da ciência o apedeuta, o plagiário, o charlatão?
Quem, senão ela, banir da sociedade o imoral, o corruptor, o libertino?
Quem, senão ela, varrer dos serviços do Estado o prevaricador, o concussionário e o ladrão público?
Quem, senão ela, precipitar do governo o negocismo, a prostituição política, ou a tirania?
Quem, senão ela, arrancar a defesa da pátria à covardia, à inconfidência, ou à traição?
Quem, senão ela, ela a cólera do celeste inimigo dos vendilhões e dos hipócritas?
A cólera do justo, crucifixo entre ladrões?
A cólera do Verbo da verdade, negado pelo poder da mentira?
A cólera da santidade suprema, justiçada pela mais sacrílega das opressões?
Todos os que nos dessedentamos nessa fonte, os que nos saciamos desse pão, os que adoramos esse ideal, nela vamos buscar a chama incorruptível.
É dela que, ao espetáculo ímpio do mal tripudiante sobre os reveses do bem, rebenta em labaredas a indignação, golfa a cólera em borbotões das fráguas da consciência, e a palavra sai, rechinando, esbraseando, chispando como o metal candente dos seios da fornalha.
Esse metal nobre, porém, na incandescência da sua ebulição, não deixa escória.
Pode crestar os lábios, que atravessa. Poderá inflamar por momentos o irritado coração, de onde jorra.
Mas não o degenera, não o macula, não o resseca, não o caleja, não o endurece; e, no fundo são da urna onde tumultuam essas procelas, e donde borbotam essas erupções, não assenta um rancor, uma inimizade, uma vingança.
As reações da luta cessam, e fica, de envolta com o aborrecimento ao mal, o relevamento dos males padecidos.
Rui Barbosa - In Oração aos moços
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