OPINIÃO: Uma nova cultura para as finanças pessoais

  
"Em vez de educar para o trabalho, educar para a vida. 
A escola não deve preparar o indivíduo para um sétimo da vida,  
 deve prepará-lo, isto sim, para toda a vida"
(Domenico De Masi - Sociólogo)
Por Germano Rigotto*
Uma boa novidade tem surgido no horizonte das famílias brasileiras, o que pode ser a semente de uma importante mudança cultural. Falo da prática de tratar as finanças pessoais com um olhar mais criterioso.

Não exageradamente tecnicista e profissional, até para não perder a leveza do ambiente doméstico, mas de um modo suficiente para controlar melhor os gastos e acompanhar com mais detalhe a evolução do orçamento familiar. De um jeito de organizar receitas e despesas que contribui, inclusive, para o relacionamento entre pais e filhos, maridos e esposas. A transparência e a verdade, afinal, são valores que precisam ser cultivados também – e principalmente – dentro de casa.

É um processo educativo. Especialistas em infância atestam que a noção de limites deve alcançar os aspectos relacionados ao dinheiro. É preciso ter noção de sua finitude. Mais: num tempo em que a sedução do consumismo ronda o cotidiano, é prudente não deixar que a pecúnia protagonize a vida dos filhos. E esse é um risco não apenas para os mais abastados, senão que para a classe média. A ânsia de tudo prover, se não for bem conduzida, pode gerar uma falsa sensação de comodismo, vaidade e isolamento. E eis que as boas intenções dos pais tendem a criar uma desordem moral, um desvirtuamento.

Mas essa nova lógica não gera repercussão apenas caseira. Influencia ainda em pelo menos dois aspectos da macroeconomia: poupança e endividamento. O aumento dos índices de poupança é uma meta que o Brasil ainda precisa perseguir, o que depende desse esforço individual da população. 
  • Dinheiro guardado, principalmente numa hora de crise, é garantia de estabilidade e superação. 
Quem tem apuro no orçamento doméstico também se endivida menos e, por consequência, tem menor risco de inadimplir. O excesso de dívidas pessoais, a propósito, esteve no epicentro da última crise internacional protagonizada pelos EUA. Aqui, o crescimento da inadimplência já dá sinais de preocupação.

Seria louvável e produtivo que o ensino formal incorporasse estudos nesse sentido. Talvez não seja necessário criar disciplinas específicas para tanto. Porém, desde o ensino fundamental, é possível incluir conteúdos sobre o trato do dinheiro, o que vai estimular crianças, adolescentes e jovens a terem uma postura de responsabilidade diante de seus proventos e patrimônios no futuro. Na esteira de tantos assuntos que compõem o currículo escolar, certamente haveria espaço para essa abordagem.

Enfim, o dado empírico de que um acompanhamento mais cuidadoso das finanças pessoais está entrando no cotidiano familiar é algo a ser comemorado e reforçado. Sinal de maturidade e equilíbrio. E agora se pode avançar em busca de uma contribuição ainda maior vinda das nossas escolas e universidades, tarefa que envolve a decisão de governos e gestores. Há margem para um bom debate a respeito disso – e muitas evoluções. 
(*) Germano Rigotto é Presidente do Instituto Reformar de Estudos Políticos e Tributários e ex-governador do Rio Grande do Sul.

Fonte: www.germanorigotto.com.br

Comentários: O Clipping do Tato concorda e avaliza o artigo, lembrando que não basta educar para produzir e consumir. Há-se que educar para uma vida responsavelmente sustentável.

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