Mobilidade: Trens e liberdade
Trains and Freedom
Foto: Japão prepara para 2030 o trem voador Maglev - que levita a 10 centímetros do solo- para voar entre Tokyo e Osaka (distantes em 553 quilômetros), em apenas uma hora
"Se os trens representam um coletivismo desalmado,
podem me incluir nessa"
(Paul krugman)
Por Paul Krugman
Falarei um pouco mais sobre este assunto - não é nada sério, apenas uma observação pessoal depois de um longo e difícil dia lendo projetos de candidatos a orientandos. (Minha sugestão de rejeitar todos os candidatos que se dissessem “apaixonados” pelos temas de suas pesquisas foi rejeitada, embora com óbvia relutância.)
Seja como for, na minha experiência pessoal, os trens são a mais libertadora das três formas de transporte mecanizado que costumo usar. Os aviões são péssimos: os invasivos procedimentos de segurança, a obrigação de desligar os aparelhos eletrônicos na decolagem e na aterrissagem, a falta de algum lugar para ir no caso de querermos nos levantar.
Os carros – bem, se deixarmos de lado os engarrafamentos (diga-me o quanto você se sentiria livre esperando durante uma hora na fila para entrar no Lincoln Tunnel), o grande problema dos carros está no fato de termos de dirigi-los, o que nos impossibilita de fazer outras coisas.
Mas, a bordo de um trem, posso ler, ouvir música, acessar a internet por meio da conexão sem fio do computador, levantar e ir até o vagão refeitório para saborear iguarias de terminal; ah, e não tenho de me submeter às restrições da Guerra aos Líquidos.
Quando posso, prefiro viajar de trem até Boston, por exemplo, mesmo que isto me tome algumas horas a mais, simplesmente porque o tempo é mais bem aproveitado assim.
É verdade que os trens só partem em determinados horários; se amanhã eu quisesse ir de trem do belo centro de Trenton até Washington, teria de escolher entre os 21 horários de partida, separados por intervalos de aproximadamente uma hora, ou menos, ao passo que, se viajasse de carro, eu poderia partir a hora que quisesse. Grande coisa.
Eu vejo a comparação entre trens e aviões mais ou menos assim: os aviões são muito mais rápidos, e serão cada vez mais rápidos, mesmo que adotemos os trens de alta velocidade; entretanto, há certos custos relativos a uma viagem de avião que podem ser evitados ou minimizados viajando de trem, e estes custos são os mesmos quer se trate de um voo transcontinental ou um pulo até a metade do caminho pelo Corredor Nordeste.
Primeiro é preciso ir até ao aeroporto e, depois, sair do aeroporto, o que costuma ser um problema maior do que entrar e sair de estações de trem, que em geral ficam no centro das cidades. É preciso fazer fila para cumprir o ritual da segurança; depois, gasta-se mais um tempo para embarcar. Portanto, se considerarmos apenas o tempo de viagem, a coisa fica assim:
Suponhamos que eu estabeleça estes custos fixos para 2 horas; suponhamos que os aviões voem a 800 quilômetros por hora; e suponhamos que viajamos em trens do tipo TGV que percorrem 320 quilômetros em uma hora. O ponto de cruzamento ocorrerá a 4.672 quilômetros. Seria ainda mais rápido viajar de avião de um lado ao outro do continente – mas não entre Boston e Washington, ou entre São Francisco e Los Angeles. Considerando minha preferência pelas viagens de trem, é possível que eu viajasse de trem para Chicago, mas não para o Texas.
Em trajetos curtos, há algo semelhante a um ponto de cruzamento entre trens e automóveis, que tem a ver com sua origem e destino desejados. Eu viajaria e viajei de trem para Newark; e costumo viajar de carro para New Brunswick.
Eu vejo a comparação entre trens e aviões mais ou menos assim: os aviões são muito mais rápidos, e serão cada vez mais rápidos, mesmo que adotemos os trens de alta velocidade; entretanto, há certos custos relativos a uma viagem de avião que podem ser evitados ou minimizados viajando de trem, e estes custos são os mesmos quer se trate de um voo transcontinental ou um pulo até a metade do caminho pelo Corredor Nordeste.
Primeiro é preciso ir até ao aeroporto e, depois, sair do aeroporto, o que costuma ser um problema maior do que entrar e sair de estações de trem, que em geral ficam no centro das cidades. É preciso fazer fila para cumprir o ritual da segurança; depois, gasta-se mais um tempo para embarcar. Portanto, se considerarmos apenas o tempo de viagem, a coisa fica assim:
Suponhamos que eu estabeleça estes custos fixos para 2 horas; suponhamos que os aviões voem a 800 quilômetros por hora; e suponhamos que viajamos em trens do tipo TGV que percorrem 320 quilômetros em uma hora. O ponto de cruzamento ocorrerá a 4.672 quilômetros. Seria ainda mais rápido viajar de avião de um lado ao outro do continente – mas não entre Boston e Washington, ou entre São Francisco e Los Angeles. Considerando minha preferência pelas viagens de trem, é possível que eu viajasse de trem para Chicago, mas não para o Texas.
Em trajetos curtos, há algo semelhante a um ponto de cruzamento entre trens e automóveis, que tem a ver com sua origem e destino desejados. Eu viajaria e viajei de trem para Newark; e costumo viajar de carro para New Brunswick.
- Mas a questão é que há um nicho que poderia ser servido por trens rápidos.
E nem me pergunte sobre a liberdade de movimento que sinto em Nova York, onde o metrô nos leva praticamente a toda parte, em comparação a, digamos, Los Angeles, onde temos de nos preocupar constantemente em evitar o trânsito e encontrar uma vaga para estacionar.
Assim, se os trens representam um coletivismo desalmado, podem me incluir nessa.
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