Gestão: pesquisa aponta amebas brasileiras com QI de samambaia de plástico

Brasil possui as piores práticas gerenciais do mundo ao lado de Grécia e Índia

É o que revelou recente estudo, conduzido pelos economistas Nick Bloom, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e John van Reenen, da London School of Economics, no Reino Unido, procurando iluminar o fundo, o meio e a frente da classe:

  • "maus comportamentos existem em todo lugar, mas a incidência no país tupininquim está além do tolerável."
Os pesquisadores partiram de uma questão antiga: como explicar as diferenças de produtividade entre empresas? Economistas costumam atribuir tais diferenças a uma “caixa-preta”, na qual repousariam as misteriosas práticas gerenciais. Administradores, por sua vez, são hábeis em escrever livros sobre as “melhores práticas gerenciais”, mas têm incrível dificuldade para provar cientificamente que o que propõem realmente gera efeitos positivos duradouros. Bloom e Van Reenen pesquisaram mais de 4 mil empresas industriais em doze países, incluindo o Brasil. Para garantir a consistência científica, eles desenvolveram um questionário com dezoito práticas gerenciais, agrupadas em três temas.

  1. o monitoramento, ou quão bem as empresas acompanham suas próprias atividades e as aperfeiçoam de forma contínua;
  2. o estabelecimento de metas, ou quão bem as empresas definem seus objetivos e as ações para atingi-los;
  3. o sistema de incentivo, ou quão bem as empresas gerenciam seus funcionários, premiando e mantendo aqueles que têm melhor desempenho. Cada prática gerencial foi avaliada a partir de uma escala de 1 (pior prática) a 5 (melhor prática), por entrevistadores treinados.
Tomando-se o conjunto de dezoito práticas, agrupadas nos três temas, os pesquisadores obtiveram índices gerais para os doze países.

  1. Na frente da classe, com média de 3,3, surgiram os Estados Unidos, a pátria mãe do management.
  2. No meio da classe, com médias superiores a 3,1, vieram Alemanha, Suécia e Japão.
  3. No fundo da classe, com a média de 2,7, o Brasil um pouco à frente de Grécia, China e Índia.
Além de variar entre países, o índice também varia entre as empresas dentro de um mesmo país, o que não deve surpreender. Mesmo os países mais bem colocados, como Estados Unidos e Alemanha, têm algumas empresas no fundo da classe, fazendo companhia ao batalhão de empresas brasileiras e indianas.

Mas o que condiciona a qualidade das práticas gerenciais?

Bloom e Van Reenen identificaram três fatores:

  • O primeiro é a competição. Um mercado mais aberto e competitivo elimina as empresas mais incompetentes e induz à melhora contínua das práticas gerenciais das empresas mais competentes. É o velho e bom darwinismo, aplicado ao mundo dos negócios.
  • O segundo fator é o controle e a gestão familiar. Empresas controladas e gerenciadas por famílias tendem a apresentar as piores práticas e o pior desempenho, especialmente quando o critério de escolha do primeiro executivo é o da primogenitura, ou seja, o herdeiro do comando é o filho mais velho.
  • O terceiro fator é o grau de internacionalização. Empresas multinacionais e até mesmo domésticas que exportam costumam frequentar a frente da classe.
Para as empresas, boas práticas gerenciais estão relacionadas com produtividade, lucratividade e perenidade dos negócios. Uma gestão mais avançada também tem reflexos positivos sobre a qualidade de vida dos empregados e até mesmo do consumo de energia. Os resultados da pesquisa levam a uma conclusão e a uma indagação:

  • A conclusão é que, apesar de Pindorama(*) ter um grande contingente de firmas no fundão, trazê-las para a frente da classe não requer milagres. De fato, as práticas gerenciais avaliadas na pesquisa são simples, conhecidas e consagradas.
  • A indagação é a seguinte: o que estarão ensinando os milhares de programas de graduação e pós-graduação de administração do País? Para explicar tal mistério, talvez seja necessária uma nova pesquisa.

Vanguarda do atraso


Não é preciso ser um gênio consultor para saber que as empresas locais são mal geridas. E são mal geridas por possuir castas de executivos, ou aspirantes a privilégios, ou brancos de olhos azuis, condicionadas por má formação profissional, desconhecimento de jogos relacionais, raciocínio linear obtuso e não poderia faltar um ingrediente a mais em suas mediocridades: verdadeiras amebas com "QI" de samambaias de plástico.

As patologias corporativas são visíveis e notórias:

  • os intrincados jogos de poder da alta gestão,
  • a letargia e o permanente estado de confusão mental dos administradores e
  • o frenesi amalucado dos profissionais, sempre apagando incêndios criados ou imaginários.

A má gestão vitima consumidores, cidadãos e funcionários. Das pequenas às grandes empresas, das organizações sociais às burocracias estatais, quem conhece por dentro as empresas locais costuma se perguntar: como pode tal despautério funcionar?
Basta aos executivos habituarem-se a olhar o espelho.

(*) Pindorama: região ou país das palmeiras, segundo o dicionário. Aqui, termo pejorativo para designar métodos arcaicos e/ou obsoletos de administração pública e privada.

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