Governança: Cobramos ética na política, mas e na CVM?

 
A pergunta que não cala: para que serve a CVM? Ou deveríamos perguntar a quem serve?



Por Renato Chaves (*)
Imagine a cena de um certo prefeito paulista (atual deputado federal) desviando recursos de uma obra superfaturada para uma conta em um paraíso fiscal britânico. 

Agora imagine o policial militar que usa a informação privilegiada da realização de uma blitz para proteger um famoso traficante. Repulsivo, vocês não acham?

O uso do cargo para a prática de crimes é repudiado por todos os homens de bem, menos no mercado de capitais. 

Sim, isso mesmo, pois  assinem termos de compromisso com a CVM para engavetar as acusações. Sem inabilitação eles continuam livres para atuar, deixando os investidores tão desprotegidos quanto os cidadãos que pagam impostos.

 
A aceitação de mais um “terminho” de compromisso no dia 25/6 traz o perdão, sem confissão de culpa, a um "Gerente de Relações com Investidores" e um "Analista de Relações com Investidores" que foram acusados de uso de informações privilegiadas na negociação de ações da empresa onde trabalhavam. 

Na mesma linha deveríamos achar normal o ex-prefeito propor um termo de compromisso para apagar os desvios passados e continuar a atuar na política livremente.

Como diria Milton Nascimento em “Trem de doido”:

Nada a temer, nada a combinar
na hora de achar o meu lugar no trem
e não sentir pavor dos ratos soltos na praça.


Que tal copiarmos o mercado norte-americano e mandarmos meia dúzia de insiders para a cadeia? Pelo menos inabilitá-los para atuar no mercado... Ou será que só interessa copiarmos de lá os pacotes de remuneração para administradores?

Os ratos estão soltos na praça; sugiro que cada investidor/gestor crie a sua lista negra de insiders que assinaram termos de compromisso, uma seleção natural diante da passividade “monetarista” do xerife.

(*) Renato Chaves - É  mestre em Ciências Contábeis pela UFRJ. Trabalhou na BBDTVM e no BB - Banco de Investimento S/A e foi diretor de participações da Previ. Atualmente, é sócio da consultoria Mesa Corporate Governance e professor convidado.

Fonte: Blog da Governança

Comentários: Investir em banco, hoje em dia, é um ato de fé. Afinal, analisar os números de um banco é coisa para bloguista que não tem o que fazer. Os grandes bancos, sobretudo os federais, conseguem mudar muitas coisas e forjam números facilmente para chegar aos resultados que se espera deles, mesmo que os resultados reais sejam escancarados e diametralmente opostos. 

Não é de estranhar que o mercado de capitais no Brasil ainda seja tão incipiente. Menos ainda, são investidores desconfiarem de supostos "lucros recordes" do banco federal quando até os paralelepípedos da Estrada da Graciosa sabem que se trata de uma maquiagem contábil risível, que transformou um segmento do banco numa nova empresa após captar um empréstimo de longo prazo na Europa de R$ 9 bilhões de euros a juros de 3%a.a. e converter essa dívida em ativos de uma nova empresa do mesmo grupo.

Para se fazer uma análise do trigo (grandes bancos), é preciso antes separar o joio (Banco do Brasil) em uma classe à parte. Pois é o único que, infelizmente, ainda tem intervenção estatal por trás – menos para o bem que para o mal.

Mas que importância tem isso, perguntará o amigo navegante? Quem quer saber dessas coisas inúteis?

Útil mesmo é saber que o Palmeiras, na série B, tornou-se o Barcelona brasileiro e que o povão está interessado mesmo é em saber se os Bambis vão ou não substituir o Verdão na segundona em 2014.

Viva o Brasil!

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