Moeda: A diferença entre preço e valor, segundo Macedo
"Quanto vale o homem? Menos, mais que o peso?
Hoje mais que ontem? Vale menos, velho?
Vale menos morto?
Menos um que outro,
se o valor do homem é medida de homem?"
(Drummond)
Por Roberto Macedo
Sempre nos confrontamos com inúmeros
preços de bens e serviços a que correspondem. Há, por exemplo, o preço
do leite, da consulta médica, a taxa de câmbio (o preço do dólar) e a
taxa de juros (o preço do dinheiro). Um traço comum aos três primeiros é
que são expressos em unidades de real, a moeda nacional, que assim
presta um de seus papéis, o de meio de troca ou de referência para
transações. Mesmo a taxa de juros, que não é expressa em reais, diz
respeito a montantes medidos desta forma.
Passando ao valor, também se diz que uma casa vale tanto, ou que um carro vale outro tanto. Essa é uma avaliação mais subjetiva. Mesmo que tenha como referência a venda recente de uma casa semelhante, ou uma tabela de preços de carros usados, esse valor não necessariamente se materializará se o bem em questão for colocado à venda.
Por conta desses usos, estamos acostumados a essas noções de preços e de valores, mas sem refletir muito sobre elas. Essa reflexão será o tema do texto a seguir. E não se trata apenas de uma questão filosófica. Tem sua utilidade prática, pois nos auxilia a analisar melhor quanto vale o que cogitamos de comprar ou vender.
Passando ao valor, também se diz que uma casa vale tanto, ou que um carro vale outro tanto. Essa é uma avaliação mais subjetiva. Mesmo que tenha como referência a venda recente de uma casa semelhante, ou uma tabela de preços de carros usados, esse valor não necessariamente se materializará se o bem em questão for colocado à venda.
Por conta desses usos, estamos acostumados a essas noções de preços e de valores, mas sem refletir muito sobre elas. Essa reflexão será o tema do texto a seguir. E não se trata apenas de uma questão filosófica. Tem sua utilidade prática, pois nos auxilia a analisar melhor quanto vale o que cogitamos de comprar ou vender.
Mais sobre o valor
Quando vamos às compras, estamos de olho nos preços. Mas, por traz desse olhar também há uma avaliação de valor, pois mesmo sem explicitamente usar este conceito as pessoas não só comparam preços de um mesmo item entre si, como observam outras características daquilo que pretendem comprar, como a qualidade.
Num carro, por exemplo, há quem atribua valores a outros aspectos dele, que não o de servir como meio de transporte, como a sua marca, modelo e desempenho, o que também influi na sua disposição de adquirir ou não. Ou seja, o preço é uma das variáveis analisadas pela pessoa, e pesa também a avaliação mais subjetiva ligada à noção de valor.
Mais precisamente, o valor diz respeito aos benefícios percebidos na aquisição do bem ou serviço, relativamente ao seu preço. É como se a pessoa comparasse o que vai receber, esses benefícios, com o que vai entregar, o dinheiro correspondente ao preço. E, quando compra, é porque pensa que o valor do que vai receber é maior ou pelo menos igual ao do preço que vai pagar.
Vou usar esse conceito, mas mesmo no preço há também outros elementos nem sempre bem percebidos, como, por exemplo, o custo do tempo gasto no processo de comprar, e o de instalação e manutenção, se for o caso de uma máquina ou aparelho. É preciso ficar também de olho neles.
Valor de uso e valor de troca
Dentro do conceito de valor, há essa outra interessante distinção. Quando, por exemplo, utilizamos nosso carro, ele está nos prestando um serviço de transporte. Assim, dizemos que ele tem um valor de uso.
Para distinguir esse valor do valor de troca ou de mercado, considere a hipótese de vender um carro usado. Ao fazer isso, às vezes nos deparamos com a seguinte questão: por que vendê-lo, se presta o mesmo serviço de transporte de um carro novo que, por sua vez, custa tão mais caro? É certo que um carro usado tem mais custos de manutenção, mas só isso não explica a diferença. Um carro zero tem seu próprio charme, tanto no sentido estético como ao incorporar novas tecnologias, ainda que algumas sejam de utilidade discutível. Outras vezes preponderam valores bem abstratos e superficiais, como o status que um carro novo traz no meio social em que a pessoa vive.
Por essas e outras razões, as pessoas preferem um carro zero, dão mais valor a ele e, por isso mesmo, há quem diga que custa caro aquele cheirinho de novo que vem junto. E, na tentativa de se livrarem do carro usado, muitas vezes este acaba tendo no mercado um valor de troca, ou preço, bem inferior ao seu valor de uso. Não sem razão, muitas vezes concluímos que é melhor continuar com o carro usado.
Essas diferenças de valor de uso e de valor de troca têm lições práticas, e vamos ilustrá-las de novo com os carros, já que decisões quanto a eles são muito comuns, e envolvem importantes somas de dinheiro.
Por causa da enorme diferença que vejo entre o valor de uso de um carro usado, bem maior que seu valor de troca ou preço no mercado de usados, e este muito abaixo do preço de um carro novo, sou reticente em comprar um carro novo, e quando adquiro um deles costumo usá-lo bastante antes de trocá-lo. Várias vezes optei por seminovos, que me parecem o melhor negócio, desde que o adquirente tenha um mecânico de confiança para avaliar seu estado. Os muito usados são de alto risco, pois mesmo se funcionam bem no momento, o que faz funcioná-los pode estar em avançado processo de desgaste, e o risco de problemas imediatos é muito mais alto.
E quanto a vender o carro usado no seu mercado? Prefiro trocá-lo no processo de aquisição de um outro, pois vejo custos no tempo que gastaria saindo por aí a vendê-lo. E até mesmo riscos de segurança pessoal e financeira ao me dispor a receber eventuais interessados depois de publicar um anúncio de venda.
E há outros valores
Deixe agora o carro lá fora, entre na sua casa, contemple os móveis e objetos ao seu redor. Há várias coisas cujo valor de uso também é maior que o valor de troca, como eletrodomésticos usados. Por isso mesmo, você os mantém assim, e não se preocupa em renová-los freqüentemente. Muitos deles chegam ao fim por conta da ferrugem ou de uma quebra mais definitiva, que levaria a um custo de reparo tão alto que se chega à conclusão de que não vale nada.
Observe agora suas coisas pessoais, como o retrato de uma pessoa querida, ou aquela escrivaninha que foi do seu pai. Têm para você um valor muito específico, porque próprio da sua pessoa, o qual também é chamado de valor de estimação, e muito maior que o valor de troca. Algumas, a gente até diz que não têm preço. Ou seja, não haveria um valor de troca, que faria você dispor de uma delas, por mais alto que fosse.
Olhe agora a sua família e você mesmo. Quanto valem? Para seres humanos, a conta transcende o valor mensurável pelas grandezas usuais. E é o valor ao qual os bens e serviços que temos, com seus preços, valores de uso, de troca ou qualquer outro, devem ser subordinados.
Obs.: Este texto reflete a opinião do autor e não necessariamente a deste blog; tem caráter apenas informativo, e não deve ser tomado como recomendação de subscrição, tomada de créditos, compra ou venda de ativos, decisões estas de responsabilidade exclusiva dos investidores.
__________________
Roberto Macedo, CFP® (Certified Financial Planner), é economista formado pela USP com Mestrado e Doutorado na Universidade Harvard (EUA). Foi Secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento e funcionário do Banco Central do Brasil.
Roberto Macedo, CFP® (Certified Financial Planner), é economista formado pela USP com Mestrado e Doutorado na Universidade Harvard (EUA). Foi Secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento e funcionário do Banco Central do Brasil.
Comentários