O sorriso dos políticos, pelo olhar da periferia
Paraisópolis: o paraíso dos políticos.
Sobre o sorriso dos políticos.
Tem um monte de gente, um monte mesmo, me perguntando sobre o meu posicionamento na política, pocha! Meu posicionamente é como o de todo mundo, vítima.
Faz um tempo que não me identifico com nenhum partido, a coisa parou de ser que nem time, tá todo mundo no mesmo saco, literalmente.
Ver cartazes colados em barracos, em prédios abandonados, em bares que acham que vão ganhar a visita do candidato. Até num pequeno barraco improvisado no canto do córrego da Av. Carlos Lacerda tem um cartaz do candidato sorrindo, sorrindo da cara da gente, debochando, me irritando, dá vontade de calar sua boca, de ferrar com seu sorriso.
Esses dias eu chutei seu rosto, machuquei sua orelha, cuspi no seu nariz, mas olhei em volta e vi vários dele, e continuavam sorrindo, e não calavam a boca.
Essa campanha para vereador foi uma das mais nojentas que já vi aqui no Capão Redondo, não sei em outras quebradas, mas aqui vale tudo, dar saco de arroz, asfaltar, colocar iluminação, até dono de açougue candidato dando carne em comício.
E vai tentar falar que isso é errado, tentar argumentar que não devia ser assim.
- Se tá loco? nunca chega nada e quando chega você quer melar tudo, deixa o cara pô, o cara tá ai conóiz.
Parece que estamos numa realidade alternativa, onde todo mundo tá agindo estranho. Apoiar alguém fugiu de toda lógica, virou um ponto de vista mercadológico, pura e simplesmente. Artistas já fazem isso em outro grau, mas ver assim na rua, em todo mundo, em amigos, fazendo só por bico, mas não entendendo que fortificamos sempre o inimigo.
Tem gente que apoia um prefeito com medo do outro ganhar, é o famoso menos ruim, eu não quero votar assim, não quero ter que votar no menos ruim. Sempre fui muito militante, difendi muitas vezes tal pessoa, porque de fato acreditava, mas desde a última eleição meu voto tem sido como meu sentimento, branco. Ou talvez como sinto que vai ser o resultado para a perifa a coisa tende a ter resultado nulo.
Parava os muleques na rua, falava da mudança, de acreditar, hoje fico vendo os cartazes imensos, os rostos sorrindo, os números cortados com estiletes por outro partido, as bandeiras sendo balançadas com desgosto, por 30, 40 reais por dia.
Vejo o churrasco, a bebida, a palma forçada, os gritos combinados, vejo tudo isso menos a militância que eu via antes, verdadeira, honrada, com fé de verdade. Depois que o meu partido trocou uma candidata que eu sempre admirei por alguns minutos de horário a mais na TV, isso enterrou qualquer vontade de participar.
Trair o que agente acredita, o que agente tanto prega de escola em escola, palestra em palestra, texto em texto, trocar tudo pelo menos ruim. Eles dizem:
_ Eesse cara se ganhar vai foder a periferia.
Tio, todo mundo sempre fode a periferia, ela vai estar sempre no risco, sempre a mercê, porque é onde você pode por seu jogo sujo para funcionar.
Vítima de filmagens, estudantes interessados em suas teses, fotógrafos turistas que retratam o caos e vão embora expor em outro lugar, teólogos, falsos embaixadores, toda raça de oportunista.
E por fim a política, um sorriso mais forçado do que outro, histórias de que tal candidato é do crime, que o outro fecha com a polícia, que o outro matou num sei quem, e vamos seguindo no policia-ladrão, brincando de nação.
Opção é difícil, separar o joil do lixo, ou do trigo, quando se dá tanto pão por sua força na missão. Eleger, acreditar, nunca foram palavras tão diferentes.
Fico com o movimento das ruas, com os pixos nas paredes, não vou contribuir para sustentar vagabundo.
Vou ouvir:
_ Mas logo você, um cara tão politizado?
Desculpa ai a decepção, mas já algum tempo vendo roupa todo dia para não ter que pagar veneno na minha opinião, para não me lapidar ao interesse que gera vantagens.
Você já se perguntou, se fez complô, se já participou de coisas que teve nojo, se já fez por interesse e depois teve vontade de vomitar?
Se já aceitou, pactuou, participou e depois se pergountou quando olhou para o espelho:
Crédito foto: Tato De Macedo
_ Essa porra é o que sou agora?
Eu já, e não gostei da resposta. Pelos outros já fiz coisas que não faria por mim, e nesses casos não recebi sequer um obrigado.
Agora de uns tempos pra cá, tenho sido sincero, pelo menos comigo mesmo, pela minha filha , meus amigos.
Eu não vou digitar número pelo menos ruim.
Ferréz
Comentário: Não tenho vocação para vítima. Acho que o escritor da periferia deveria ouvir, isto sim, um outro mano: Mano Brown.
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