Financial Times: O Brasil merece ser chamado de Bric

 Financial Times: Desempenho econômico do Brasil justifica o "B" no Brics

Por John Paul Rathbone

Atualmente, o Brasil merece a sua inicial na sigla Brics, e não apenas porque perdeu a final do futebol na Olimpíada de Londres para o México. Seu desempenho econômico é também um "B". O crescimento manca com um PIBinho abaixo de 2%. Apenas dois anos atrás, o Brasil alcançava o PIBão de 7,5%.

Daí o muito anunciado pacote de estímulo, com cerca de R$ 100 bilhões (US$ 50 bilhões) para concessões de infra-estrutura, anunciado quarta-feira (15). A Presidenta Dilma Rousseff, uma tecnocrata de formação, quer melhorar suas notas. Como sempre, no entanto, grande número do pacote soletra notícias boas e ruins.

Primeiro a boa notícia. 

Este pacote de estímulo supostamente vai ser focado em investimento. Pacotes anteriores, ao contrário deste, focaram um maior consumo para impulsionar o crescimento. Mas o consumo não é mais uma preocupação, então a chave para o investimento é uma mudança necessária e bem-vinda.

Além disso, o setor privado vai construir e gerenciar os projetos de infraestrutura. Dado que o Estado brasileiro é um grande gargalo, esta é também uma boa notícia. De fato, a inércia da burocracia estatal fez com que Rousseff recentemente se voltasse para as concessionárias para melhorar aeroportos entupidos do Brasil. Aumentar a produtividade é agora o grande jogo do Brasil nas cidades.

Agora as notícias menos boas. 

Como grande parte do novo pacote será realmente "novo"? O diabo vai estar nos detalhes. Palavra é, por exemplo, que o novo pacote irá incluir o lendário "trem-bala" do Rio de Janeiro para São Paulo, um plano há muito tempo ocioso na prancheta. 

Também é possível que a maior parte do novo programa será simplesmente reaquecidas iniciativas do empacado PAC-2 de Dilma. No entanto, até agora, muito mais de US$ 1tn em financiamento de projetos ainda está para ser desembolsado. Esta é a razão pela qual a restrição que se faz ao Brasil não é falta de dinheiro, mas sim a sua capacidade e aptidão para implementar projetos.

Ao contrário do consenso, o financiamento para os gastos de infra-estrutura não é a barreira crítica para o crescimento do PIB potencial crescente no Brasil. Dirigindo-se aos diferentes níveis de poder, torna-se evidente que as questões estruturais e institucionais são sérios gargalos; ou seja, falta de mão de obra especializada, legislação inadequada, má gestão de orçamento e dos processos de concessão. Nós não encaramos os gastos de infra-estrutura em sua forma atual a ser um divisor de águas para o Brasil.

Em suma, as reformas são ainda mais necessárias se o Brasil quiser realmente marcar uma mudança em sua economia. Além disso, elas são politicamente difíceis para promulgar, assim como as reformas tributária, fiscal e previdenciária. De acordo com a imprensa nativa, Dilma Rousseff  postergou essas iniciativas para depois das eleições municipais de outubro. 

Dedos cruzados, para que haja alguma seriedade nas medidas.

Fonte: Financial Times

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