Brasil: O Ataque ao Cofre

Notável: O Brasil é o único país do mundo em que pobres votam na Direita. O eleitor, em sua rotunda maioria, pobre, vai às urnas como um boi vai para o abatedouro.

Direto da Tabacaria
Fernando Pessoa, o maior poeta da Língua Portuguesa - arrisco-me a afirmar isto sem desconsiderar Camões, jamais -, já dizia sabiamente a respeito de uma certa República que se instalara tanto cá como acolá:


    Pois bem, aos céticos de espírito e aos enebriados pelo poder político, irremediavelmente efêmero, convoco para testemunhar a favor de Fernando Pessoa, neste egrégio, porém vulgar, cavernoso e mequetrefe blog o escritor e jornalista Laurentino Gomes (foto à direita), do qual se extrai de sua obra 1808 o seguinte trecho do Cap. XV - O Ataque ao Cofre:

    "A corte chegou ao Brasil empobrecida, destituída e necessitada de tudo. Já estava falida quando deixara Lisboa, mas a situação se agravou ainda mais no Rio de Janeiro. Deve-se lembrar que entre 10.000 e 15.000 portugueses atravessaram o Atlântico junto com D. João. 

    Para se ter uma ideia do que isso significava, basta-se levar em conta que, ao mudar a sede do governo do Estados Unidos da Filadélfia para a recém-construída Washington, em 1800, o presidente John Adams transferiu para a nova capital cerca de 1.000 funcionários. Ou seja, a corte portuguesa no Brasil era entre 10 e 15 vezes mais gorda do que a máquina burocrática americana nessa época. E todos dependiam do erário real ou esperavam do príncipe regente algum benefício em troca do 'sacrifício' da viagem.
    • 'Um enxame de aventureiros, necessitados e sem princípios, acompanhou a família real. Os novos hóspedes pouco se interessavam pela prosperidade do Brasil. Consideravam temporária a sua ausência de Portugal e propunham-se mais a enriquecer-se à custa do Estado do que a administrar justiça ou a beneficiar o público', notou o historiador John Armitage."

    Sim, eu sei. Por estas breves linhas a amiga navegante já deve-se perguntar se se está a falar de épocas passadas ou se de tempos presentes elevados a ene potências. Adianto-lhas verdadeiro o pasmo. Mas, não há-se que dispersar, por ora, pois que este caminhar descortina horizontes bizarros. Senão prossigamos.

    "O, também, historiador Luiz Felipe Alencastro conta que, além da família real, 276 fidalgos e dignatários régios recebiam verba anual de custeio e representação, paga em moedas de ouro e prata retiradas do tesouro real do Rio de Janeiro. com base nos relatos do inglês John Luccock, Alencastro acrescenta a esse número mais 2.000 funcionários reais, indivíduos exercendo funções relacionadas à Coroa, 700 padres, 500 advogados, 200 praticantes de Medicina e entre 4.000 e 5.000 militares. Um dos padres, pasmem, recebia um salário fixo anual de 250.000 réis - o equivalente hoje a 14.000 reais - só para confessar a Rainha.  [graças à Deus, não se vê mais isto neste país, aparte nosso].
    • 'Poucas cortes europeias têm tantas pessoas ligadas a ela quanto a brasileira, incluindo fidalgos, eclesiásticos e oficiais', escreveu o cônsul inglês James Henderson.
    Ao visitar as cocheiras da Quinta da boa Vista, onde D. João morava, Henderson se surpreendeu com o número de animais e, principalmente, de serviçais ali empregados. Eram 300 mulas e cavalos, 'com o dobro do número de pessoas para cuidar deles do que seria necessário na Inglaterra'.

    Era (?) uma corte cara, perdulária e voraz. Em 1820, ano anterior ao retorno a Portugal, consumia 513 galinhas, frangos, pombos e perus e 90 dúzias de ovos por dia. Eram quase 200.000 aves e 33.000 dúzias de ovos por ano, que custavam cerca de 900 contos de réis ou 50 milhões de reais em dinheiro atual. A demanda era tão grande que por ordem do administrador da Ucharia Real, a repartição responsável pelos depósitos de comida da corte, todas as galinhas á venda no Rio de Janeiro deveriam ser, prioritariamente, compradas por agentes do rei. A decisão provocou escassez dessas penosas no mercado e revolta nos moradores da cidade. Numa carta a D. João VI, eles reclamaram da falta de galinhas e também do comportamento dos funcionários da despensa real, que passaram a vendê-las no mercado paralelo, cobrando um sobrepreço.

    Nos 13 anos em que D. João viveu no Brasil, as despesas da mal administrada e corrupta [graças à Deus, não se vê mais isto neste país, aparte nosso] Ucharia Real mais do que triplicou. O déficite crescia sem parar. No último ano, 1821, o buraco no orçamento tinha aumentado mais de vinte vezes [graças à Deus, não se vê mais isto neste país, aparte nosso] - de 10 contos de réis para 239 contos de réis.

    Apesar disso, a corte continuou a bancar todo mundo, sem se preocupar com a origem dos recursos [graças à Deus, não se vê mais isto neste país, aparte nosso].
    • 'Todos, sem exceção, recebiam ração, de acordo com seu lugar e valimento. Nobres, mas também cada artista contratado, como os cantores e músicos italianos, ou pintores e arquitetos franceses e naturalistas austríacos, embaixadores e funcionários das repartições recebiam sua cota de víveres à custa da Ucharia real, prática extinta (?) apenas no governo do austero D. Pedro I', explica o historiador Jurandir Malerba.
    Onde achar dinheiro para socorrer tanta gente?

    A primeira solução 'BomPraTodos' foi obter um empréstimo da Inglaterra, no valor de 600.000 libras esterlinas. Esse dinheiro, usado em 1809 para cobrir as despesas da viagem e os primeiros gastos da corte no Rio de Janeiro, seria um pedaço da dívida de 2 milhões de libras esterlinas que o Brasil herdaria de Portugal despois da Independência. 

    Outra providência, igualmente insustentável no longo prazo, foi criar um banco estatal para emitir moeda. 
    Cena da película Carlota Joaquina (direção: Carla Camurati) - E surge o Banco do Brasil

    A breve e triste história do primeiro Banco do Brasil, criado pelo príncipe regente sete meses depois de chegar ao Rio de Janeiro, é um exemplo do compadrio que estabeleceu entre a monarquia e uma casta de privilegiados negociantes, fazendeiros e traficantes de escravos a partir de 1808."

    Fonte: 1808 - Laurentino Gomes

    PANO RÁPIDO: Ufa! Graças à Deus, livramo-nos da Monarquia Absolutista e abraçamos a República Absolutista. Nada mais disto vê-se neste país de tantas maravilhas, fique bem claro.

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