Editorial: O filé mignon dos bancos

 Do que será que eles riem tanto? Não seria da ignorância de seus clientes?

"O que é um assalto a banco diante das tarifas e taxas de juros
 cobradas por bancos e financeiras no Brasil?"
Por Tato De Macedo

O mercado de crédito brasileiro é caracterizado por uma alta concentração em que a disputa por clientes [e receita] acontece entre apenas seis instiuições cartelizadas.

Dados oficiais do Banco Central mostram que Banco do Brasil e Caixa Econômica detêm juntos cerca de 40% do mercado de crédito. Itaú, Bradesco, Santander e HSBC detêm somados outros 40 e os 20% restantes estão diluídos entre os demais 120 pequenos bancos e financeiras.

A percepção negativa que se tem dos bancos é motivada principalmente pelo abuso de dois produtos de fácil acesso, porém sem nenhuma garantia aos bancos: o Cheque Especial e o Crédito Rotativo do Cartão de Crédito, que são usados como produto de alta conveniência, a longo prazo e possuem as taxas mais elevadas do mercado. São o filé mignon dos banqueiros.

O Cheque Especial e o Rotativo do Cartão de Crédito têm participação relativamente pequena na Carteira Total de Empréstimos a Pessoa Física, o que representa cerca de 1,3% do volume emprestado, mas somam juntos, praticamente 1/3 de toda receita financeira dos bancos. 

São estes os produtos mais atrativos e rentáveis para os bancos, mas de pouco benefício para os clientes, que invariavelmente entram numa espiral viciosa de inadimplência, o que faz por encarecer ainda mais o custo do dinheiro.

Portanto, é crucial a revisão das taxas por partes dos bancos e financeiras privados e do comportamento de uso, por parte, dos clientes em relação a esses dois produtos. Não há que colocar a culpa somente nos bancos ou no governo. Os consumidores também são igualmente responsáveis pelos abusos, seja por conveniência ou ignorância mesmo em não se educar financeiramente para o uso consciente do crédito à sua disposição.

É mais que sabido que a redução do spread bancário representa uma oportunidade não somente de melhorar a imagem dos bancos, mas também de promover o uso consciente do crédito no País, através de uma postura de marketing mais contundente em defesa da redução de taxas.

O que não dá mais para tolerar é esse borborismo da febraban em tentar justificar o injustificável. Em nenhum país civilizado o spread bancário alcança os índices dos bancos brasileiros. Isto, num país absolutamente desigual em que 1% da população detém 12,6% da renda nacional e que, na outra ponta, 40% da população luta desvairadamente pela fatia de 17% da renda nacional, como ienas brigam entre si por carcaça em carniça.

Um país, cujos salários estão escancaradamente congelados, quando não corrigidos negativamente em relação à inflação. Um país solapado por uma carga tributária irracional que recai em duplicidade sobre os salários e sobre o consumo dos assalariados.

Um país que é visto com enorme desconfiança pela comunidade internacional pela impunidade a corruptos, pela tolerância à violência e pela incapacidade de se colocar como potência ambiental que poderia ser, mas não é.

Um país em que os bancos são vistos como um mal necessário, por cuja população, ao ganhar qualquer merreca esquece, porém, de cobrar por escolas públicas de qualidade, transporte digno e saúde condizente.

No sistema capitalista não há almoço grátis. 

Grátis mesmo só a ignorância que lhe é fartamente oferecida.

Fonte: Bacen

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