Não-ficção: Como o PT sabotou o PT
A Privataria Tucana entre Dilma e Falcão
"O organograma que virou golpe.
Rui Falcão pauta a Veja contra a campanha de Dilma.
Apadrinhado por Palocci, os paulistas abrem caminho."
(Amaury Ribeiro Júnior - in A Privataria Tucana)
Por Amaury Ribeiro Júnior
É uma esplêndida visão do Lago sul da Ponte JK, um dos novos cartões-postais de Brasília, aquela que se tem desde o modernoso restaurante Gazebo. Foi o local escolhido por Palocci. Em uma sala reservada, Palocci apresentou Valdemir Garreta e Marcelo Parada ao então seu colega de coordenação na campanha de Dilma, Fernando Pimentel.
Foi no dia 20 de fevereiro de 2010, durante o Congresso Nacional do PT, quando a candidatura Dilma foi oficializado pelo partido. Pimentel levou Lanzetta a tiracolo. Também estava no almoço João Santana, o marqueteiro de Dilma. Durante o almoço, Palocci disse que Garreta e Parada estavam prontos para apresentar um projeto à campanha. Para o mesmo serviço que já estava sendo desenvolvido por Lanzetta... No almoço, Garreta praticamente exigia que Lanzetta apresentasse o seu projeto. Como a situação tornou-se constrangedora, mesmo com a condução habilidosa de Palocci, foi marcada uma posterior, somente Garreta, Parada e Lanzetta. (que parada!)
À saída, Lanzetta demonstou sua preocupação a Pimentel. Principalmente porque Parada e Garreta não eram do ramo. Lanzetta havia sido sócio de duas grandes empresas do setor, CDN e InPress, e estava havia muitos anos na área, sendo um dos principais criadores da Abracom, a associação das empresas da área de relações públicas e assessoria de imprensa. Os outros dois eram neófitos na atividade, e Garreta, afamado por sua atuação em negócios suspeitos da Prefeitura de São Paulo. Em outro ambiente do mesmo restaurante, aparentemente esperando o resultado da reunião, estava Rui Falcão (foto ao lado direito), recém-eleito vice-presidente nacional do PT. Dias antes dessa reunião, Lanzetta já havia sido procurado por um dos sócios de Garreta e Parada com o seguintes recados:
- Fernando Pimentel é o inimigo a ser destruído.
- Antonio Palocci é o sustentador do grupo.
- Rui Falcão, ex-todo-poderoso da gestão Marta Suplicy na prefeitura paulistana, fazia parte do esquema.
O currículo de Garreta faz jus a algumas linhas a mais. Desde 2008, ele era alvo de investigação do Ministério Público paulista sobre a chamada "Máfia da Merenda". Ex-secretário municipal de Abastecimento em São Paulo, tornou-se suspeito de participação na fraude da terceirização da merenda escolar durante a administração Marta Suplicy. Garreta, porém, sempre negou qualquer envolvimento no escândalo.
O pagamento de propina teria iniciado em 2001, intensificando-se na gestão Gilberto Kassab (DEMo). No dia 1º de julho de 2010, os promotores apreenderam documentos em oito empresas (*) suspeitas de envolvimento na falcatrua. Testemunha ouvida pelo MP/SP afirma que, em São Paulo, as seis empresas acusadas de formação de cartel para combinar os preços dos pregões pagaram R$ 1 milhão a Garreta.
- Informações de vários jornalistas dão conta de que o ex-secretário cultiva o desagradável hábito de ameaçar a vida de seus adversários.
Logo depois da convenção, num encontro no café Daniel Briand (note o amigo navegante que o destino deste país não é decidido à luz do sol - ou sob holofotes da mídia -, mas sim, sempre, na calada da noite preta, em ambiente reservado particular - aparte nosso), na Quadra 104, da Asa Norte, Lanzetta disse à dupla Garreta & Parada que havia recebido uma encomenda de trabalho bem clara: criar a assessoria de imprensa da campanha, com vários serviços concernentes à atividade. Enquanto não houvesse determinação de quem fizera o pedido para mudar os rumos do trabalho, ele não poderia compor com ninguém.
Contrariados, os dois foram embora. Não irá demorar para Lanzetta receber o seguinte recado: Garreta vai encaminhar seu projeto do jeito dele...
_ Fique tranquilo. É um amigo de 40 anos - amenizou Pimentel.
Dirigia-se a um bastante preocupado Lanzetta diante das primeiras atitudes de Falcão, este já na condição de coordenador da comunicação da campanha.
_ Não seriam 40 centímetros no nosso rabo - retrucou Lanzetta, tentando tirar algum humor do episódio. A história imediata mostraria que tinha razão.
Fernando Pimentel e Rui fFlcão participaram da luta armada. Foram presos, coincidentemente em Porto Alegre. Cumpriram pena na Ilha do Presídio, no meio do rio Guaíba, onde também ficou Carlos Araújo, ex-marido de Dilma e também companheiro de organização.
Diante do pedido, foi dado a Falcão o tratamento que se dá aos amigos. Foi convidado a ocupar um sala da casa da QI-05. Ali, o velho e fraterno companheiro de Pimentel conduzia quase que uma assessoria paralela, incentivando a compra de serviços já existentes. Lanzetta e a equipe estavam conformados, tentando ver como sobreviver naquela luta. Era um tremendo desgaste, mas também algo relativamente normal em campanha. Interpretavam-se todos os movimentos de Falcão como um esforço para contribuir com a candidatura. Falcão frequentou o ambiente até o começo de maio. No feriado de 1º de maio, ele mostrou suas garras. E o conceito de "amigo" começou a se esfacelar.
Quando Lanzetta recebeu um telefonema às 08:30, na sua [bela] casa em Brasília, sentiu que havia alguma coisa esquisita no ar. Do outro lado da linha, Falcão. Cedo, liga de São Paulo para registrar sua mais profunda e irrestrita solidariedade a Lanzetta. Referia-se a uma diatribe do colonista Diogo Mainardi [aquele que porta crachá do Opportunity, segundo o PICHA] na edição da revista (in)Veja que recém-aportara nas bancas. Sob o título de "O Lanzetta da Laranza" e num rasgo que evidenciava os 'dotes premonitórios' do autor, proclamava que a campanha de Dilma Rousseff "está ruindo". Disparava uma rajada de desaforos contra o PT e os petistas, temperava a maçaroca com o médico Roger Abdelmassih e o músico Wagner Tiso, mas centrava fogo em Lanzetta. De quebra, agredia Pimentel.
[...]
Mas a investida da revistinha à margem do canal do Rio Pinheiros, (in)Veja, despropositada, hostil e surgida aparentemente do nada, prenunciava novos problemas. Na mesma semana, durante um almoço com toda a equipe, o dono da Lanza observou que aquilo não estava solto. Que não era uma loucura de Mainardi e que a (in)Veja estava "preparando um personagem". Primeiro ia ser um laranja, depois inventariam outra coisa...
O textículo de Mainardi foi, de fato, a senha do que viria a seguir contra Pimentel, Lanzetta e sua turma. uma das raras atividades de Falcão como coordenador de comunicação da campanha, além de vazar informações, foi forçar a entrada de seus sócios em cima da empresa já contratada. Na primeira reunião da coordenação, fez aprovar a contratação de Marcelo Parada (vice-presidente da Rede Bandeirantes) e do jornalista Nirlando Beirão (colunista de Carta Capital, semanário oficial do governo), este "sem saber o que estava acontecendo com o seu nome". Veja que são todos inocentes: "não sei de nada".
Na segunda reunião, já com Marcelo Parada a seu lado, apresentou um organograma onde só apareciam os nomes dele mesmo mais Marcelo Parada e Nirlando Beirão. Os demais jornalistas, já trabalhando e exercendo cargos de comando, como Helena Chagas - indicada pela futura Rainha Dilma como coordenadora da imprensa da campanha e então ministra da Comunicação - nem sequer apareciam na hierarquia de Falcão.
_ Isto não é um organograma. É um golpe ! - disse Lanzetta a Falcão.
(*) As empresas investigadas por envolvimento nas falcatruas demotucanas são: Gourmaitre, Ceazza e Verdurama, todas do Grupo SP Alimentação; Geraldo J. Coan, Nutriplus, Eb Sistal, Convida Denadai e Terra Azul. A prefeitura paulistana é uma das 30 cidades de SP e MG sob investigação.
Fonte: A Privataria Tucana - Amaury Ribeiro Júnior - Capítulo 16 (págs. 320-325)
Comentários: Esta história contada a bico de caneta no bunker petista em Minas Gerais, sob acusação falsa de que seria comandada pelo sobrinho de Tancredo, não começa nem termina aqui.
Comentários: Esta história contada a bico de caneta no bunker petista em Minas Gerais, sob acusação falsa de que seria comandada pelo sobrinho de Tancredo, não começa nem termina aqui.
Certo é que o golpe foi, de fato, consumado não pela dita "Imprensa Golpista" mas sim pelo poder paralelo da Mídia [subterrânea] Governista, o PICHA - Partido da Imprensa Chapa Branca).
Os fatos, as denúncias, as apurações, as demissões e sobretudo os investimentos publicitários oficiais comprovam.
Os fatos, as denúncias, as apurações, as demissões e sobretudo os investimentos publicitários oficiais comprovam.
Vale lembrar que o citado autor deste livro acabou sendo recompensado com um belo cargo na TV Record.
Diogo Mainardi fugiu para a Itália para não ser preso pela Polícia Federal.
Demais personagens políticos estão todos livres, leves e soltos.
Diogo Mainardi fugiu para a Itália para não ser preso pela Polícia Federal.
Demais personagens políticos estão todos livres, leves e soltos.
E você amigo navegante: como está sua situação financeira?
Foto (da esquerda para a direita): Rui Falcão, Laurindo Leal Filho e André Vargas.
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