Greves: Avareza dos patrões, leniência do governo e peleguismo de sindicatos reduzem ganhos dos assalariados

 "A história de toda a sociedade até hoje 
tem sido a história das lutas de classes"
(K .Marx)
E a sociedade de hoje não é nem um pouco diferente da assertiva de Marx, dita no século passado. Algumas manchetes estampadas nos jornalões são provas factuais disso, e chamam atenção para um problema secular no Brasil:
  • No início do mês, uma greve da CPTM afetou 2,5 milhões de pessoas em São Paulo. 
  • No Paraná, 3,1 mil metalúrgicos da fábrica da Volkswagen em São José dos Pinhais encerraram, nesta sexta-feira (10), uma greve que durou 37 dias. 
  • Ainda no Paraná, profissionais de empresas privadas da área de Saúde entraram em greve na terça-feira (9). E a categoria paulista ameaça fazer o mesmo a partir do fim deste mês. 
  • No Rio de Janeiro, professores estaduais não dão aulas e os bombeiros não atendem aos chamados. 
  • Em Santa Catarina, os professores também estão paralisados há 45 dias, sem previsão de término da greve (informa o amigo )
Neste semestre, a onda de greves se espalhou pelo País, tanto no setor público como no privado. E independente da área, todos reivindicam, basicamente, a mesma coisa:
  • melhores salários e participação nos lucros.
Fica claro e cristalino como muitos sindicatos se descolaram da classe trabalhadora em nome de uma tal "governabilidade", que não é outra coisa senão a manutenção de seus próprios interesses mesquinhos em detrimento dos interesses das categorias que vê o poder de compra de seus salários sendo corroídos ao longo do tempo.

Para o professor do Instituto de Economia da Unicamp, especialista em estudos sindicais e economia do trabalho, Anselmo Santos, é difícil determinar o tamanho desse custo, mas é fácil determinar um dos fatores que gerou essa onda de paralisações.
  • “A inflação subiu e provocou uma corrosão do salário real dos trabalhadores”, explica o professor.
Por razões óbvias o professor não toca na ferida sem casca ao tratar das razões pelas quais o salário é corroído pela inflação, mas o Capital não. Ora, é sabido que qualquer elevação de preço nos insumos são imediatamente repassados aos preços, mas historicamente o mesmo não ocorre no movimento inverso: 
  • redução de preços nos insumos (custos) não reduzem preços finais das mercadorias (vendas); pelo contrário, elevam as margens de lucros.
Isso fica tão mais evidente no setor bancário, cuja classe patronal tem poder discricionário e influencia de modo decisivo a condução de políticas nas três esferas diretamente envolvidas na relação, quais sejam o Governo Federal, o Bacen e os sindicatos - sobretudo o de São Paulo, o mais subserviente aos interesses tanto dos banqueiros, quanto do governo.

Para ilustrar, basta reportar ao dissídio da categoria verificado em 2010 quando, desavergonhadamente, o Sindicato dos Bancários de São Paulo movimentou toda a máquina governamental para obstar as reivindicações dos bancários ao alegar que haviam conseguido uma "conquista histórica" com um suposto "aumento real" dos salários de 1,5%.

O interessante no caso, além dos interesses do Governo influenciando diretamente os diretores dos sindicatos em ano eleitoral com as ofertas mais diversas de postos no poder, é constatar o enorme embuste dessas tais "conquistas históricas" que de "aumento real" não tem absolutamente nada.

Ocorre que os sindicatos chamam de "aumento real" a mera reposição da inflação passada mais 1,5%., sendo que esta correção se configuraria como um aumento real, de fato, caso a inflação fosse 0% nos 12 meses seguintes. Não precisa ser nenhum expert em Economia para reconhecer que o aumento de 1,5% é sempre diluído pelo aumento dos preços já nos dois ou três meses seguintes à assinatura do acordo com a classe patronal. O que deixa os salários dos trabalhadores sempre abaixo do que ele anteriormente recebia, pelos meses seguintes até o próximo dissísidio, quando se repete a perfídia.

As greves ocorrem unicamente por motivação econômica. Segundo dados da CNI (Confederação Nacional das Indústrias), a inflação reduziu a massa salarial em abril em 3,5%, e os rendimentos em 4%. Corroboram para isso, os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que mostram uma queda de 0,8% na folha de pagamento da indústria em abril, frente a março, e uma alta de 4,7% na comparação com abril de 2010.

Inflação é o real problema?
No ano passado, a economia apresentou um crescimento forte, mas já mostra sinais de arrefecimento. Prova disso é a queda de 2,1% na produção industrial em abril, frente a março, e de 1,3% na comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo dados do IBGE.

“Como o crescimento foi forte no ano passado, e com a inflação em alta, os trabalhadores reivindicam um aumento. O problema é que as empresas procuram evitar se comprometer com mais custos”, afirma Santos.

E os custos, no caso de transportes, por exemplo, são altos. De acordo com o técnico de planejamento e pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Carlos Henrique Ribeiro Carvalho, a folha de pagamento do setor representa 40% do total dos custos que as empresas de transportes têm. “Nos últimos dez anos, os custos da maioria dos insumos cresceram acima da inflação. No caso dos salários, nesse período, não houve nem perdas e nem ganhos reais”, afirma o técnico.

Dos maiores gastos do setor, o diesel, cujos custos representam 25% do total, foi o que mais aumentou nos últimos dez anos: 70% acima da inflação. Os veículos, segundo maior peso - 20% dos custos totais -, ficaram 50% acima da inflação. Já os custos dos pneus, que representam 15% do total, subiram 40% acima da inflação do período. “Uma maneira de controlar os custos é segurar os salários”, afirma Carvalho.

Somado a isso, ele calcula que houve uma queda de demanda pelo transporte público de 30% em todo o País. “Quando isso acontece, a tarifa sobe. E nos últimos dez anos, ela subiu 60% acima da inflação. Isso é um problema para o setor, porque torna o sistema menos atrativo”. E dificulta ainda mais as negociações salariais.


Conversa para boi dormir
“Com a inflação maior, está mais difícil renegociar”, dizem os sindicalistas. Leia-se: a dificuldade aqui deriva dos interesses do governo em conter a inflação pela redução da renda do trabalhador e não das exorbitantes margens de lucros dos patrões.

Os sindicalistas divulgarão as mobilizações de uma pauta que deve incluir a regulamentação da terceirização, a aprovação da redução da jornada de trabalho sem redução salarial e o fim do fator previdenciário.

Some-se a isso as paralisações nas negociações de participação nos lucros de diversas empresas dos setores da indústria e serviço como um bom indicador de que as negociações salariais no segundo semestre serão duras.

Certo é que, ao contrário do que acreditam os donos do poder, não é a inflação em sí que acirra greves, mesmo porque o Brasil, a bem da verdade, não vive mais numa espiral inflacionária; pelo contrário, deve-se repetir à exaustão que inflação só existe se verificados aumentos constantes e progressivos dos índices de medição de preços. O que se vê são aumentos pontuais, esporádicos e sazonais de preços que afetam diretamente o poder de compra dos trabalhadores, e não dos patrões.

Portanto, é sim, a avareza dos patrões combinada com a leniência do governo e o pedantismo de sindicatos corrompidos pelo stablishment - como o dos bancários de S. Paulo, por exemplo - que acirram a perda do poder aquisitivo dos assalariados e só faz aumentar o abismo social entre os muito poucos que vivem soberbamente com muito, e os muitos que tentam sobreviver com muito pouco no Brasil, desde sempre.

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