Dívidas: Os bancos, as contas e as correntes

Educação financeira                                                                                  

 "Educação financeira é tão importante quanto o ensino de português, 
história, biologia ou matemática"

No Brasil, a palavra cidadania ainda não foi inteiramente assimilada por seu destinatário maior: o próprio cidadão.

Nela, estão contidos os diversos papéis que o indivíduo assume na vida em comunidade: contribuinte, consumidor, agente político, agente econômico. A educação brasileira ainda não transmite na plenitude as múltiplas facetas que esse conceito embute, já que o termo cidadania entre nós é de uso recente, difundido de maneira mais constante apenas a partir da redemocratização, há 26 anos.

Hoje, usa-se, e até abusa-se, do termo, sem que, no entanto, esclareça-se sua densidade. Uma das lacunas situa-se numa vertente essencial ao exercício sadio desse postulado: 
  • a educação financeira. 
Não a temos. Não consta dos currículos escolares, nem é objeto, por vezes, da preocupação de pais e educadores, eles próprios dela carentes. 

E é essa omissão fonte de um dos nossos mais graves problemas, presente em todas as classes sociais, com consequências nefastas para o conjunto da sociedade. Pode-se dizer que, não importa o grau socioeconômico, o brasileiro carece de cultura financeira — e paga um preço alto por isso.

Não me refiro obviamente a conhecimentos especializados de macroeconomia, que seria descabido exigir, mas de noções elementares, que envolvem a relação do indivíduo com o dinheiro, a responsabilidade pessoal, coletiva e moral que isso implica. 
  • Um país de inadimplentes não pode ser forte, dinâmico, otimista. 
Torna-se, ao contrário, deprimido, sem autoestima, cético quanto ao futuro. No caso brasileiro, esse desarranjo agrava o quadro social do país, em que enorme contingente de excluídos nem acesso ao sistema financeiro tem. A eles, soma-se um contingente de incluídos, que, podendo viver bem, vive mal.

Padece de deficit orçamentário crônico, comprometendo patrimônio, saúde física e emocional, além da educação dos filhos, do progresso profissional, tornando-se vítimas de agiotas e oportunistas de toda espécie.  
  • Trata-se de uma moléstia social. 
O problema não é ter dívidas, o que é natural e pode ser inclusive sadio, do ponto de vista econômico, propiciando acesso a bens que de outra forma seriam inalcançáveis. Para isso, existe o sistema financeiro, conquista da civilização, impulsionador do desenvolvimento das nações e dos indivíduos.

A questão é como gerir não só dívidas, mas também excedentes. Inadimplência, quase sempre, decorre de desinformação. Recentemente, um programa de tevê mostrou uma quantidade expressiva de pessoas que ganharam fortunas na loteria e, em pouco tempo, estavam falidas. 
  •  Falta de educação financeira.
O nível de endividamento ideal é de 20% a 30% da renda mensal, com reserva financeira de três a seis meses dos gastos fixos (mais prestações) para imprevistos e desequilíbrios temporários. A média brasileira, porém, está em torno de 50%, com forte expansão prevista para os próximos anos.

O endividamento excessivo inibe o empreendedorismo. Diferentemente dos Estados Unidos, em que famílias montam pequenos negócios em garagens e adolescentes trabalham nas férias escolares, planejando montar negócios, no Brasil, a ausência de cultura de gestão de finanças limita essas iniciativas, que poderiam formar jovens empreendedores, gerando mais e melhores empregos. Isso não ocorre — não na dimensão possível — porque a herança atávica traumatiza parcela importante da sociedade com potencial empreendedor. 
  • Desperdício de talento e energia. 
Educação financeira é tão importante quanto o ensino de português, história, biologia ou matemática. Tem que constar nos currículos escolares básicos, como parte fundamental da formação do ser humano. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entidade multilateral, já despertou para o problema. Anunciou que vai promover, com alunos na faixa de 15 anos, o primeiro grande estudo de amplitude internacional para avaliar conhecimentos de finanças pessoais.

Em Portugal, o Parlamento discute neste momento projeto de lei que torna obrigatória, no ensino básico, a educação financeira. Trata-se, segundo se justifica na proposta, de “tomar medidas adequadas no sentido de dotar os portugueses de conceitos financeiros básicos, tais como taxas de juros, funcionamento de créditos, direitos e deveres do consumidor, cálculo financeiro, funcionamento das bolsas, câmbios, entre outras noções importantes que contribuam para uma melhor gestão das finanças pessoais”.

Uma grande (e urgente) ideia, que o Brasil deve adotar, sem perda de tempo.

Edmilson Gama da Silva  
Presidente do BRB

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