Receita de bolo: Ah! O amor...
Amar é ser um só, sem deixar de sermos dois.
"O encontro de duas pessoas é como o encontro de duas substâncias
químicas. Quando acontece alguma coisa, ambas se modificam."
(C. G. Jung)
Quando vamos fazer um bolo, começamos por medir as quantidades dos distintos ingredientes: farinha, manteiga, ovos, açúcar, leite. Porém quando os misturamos numa determinada ordem e os levamos ao forno numa certa temperatura, de alguma maneira acabamos criando algo completamente diferente.
A composição química dos ingredientes muda irreversivelmente; a aparência, o cheiro e o gosto do bolo são diferentes dos de qualquer um dos ingredientes que usamos para fazê-lo.
Numa mágica - que o químico poderia explicar, mas o cozinheiro geralmente não entende -, ocorre um processo de transformação que não é outra coisa senão um milagre.
Numa mágica - que o químico poderia explicar, mas o cozinheiro geralmente não entende -, ocorre um processo de transformação que não é outra coisa senão um milagre.
- Certos ingredientes, combinados com perícia, transformam-se numa iguaria maravilhosa.
- Outros transformam-se numa sobremesa aceitável, mas sem muita graça.
- E, por mais maravilhosos que pareçam no livro, há outros ainda que acabam se transformando num daqueles fracassos culinários que nos ensinam a procurar outra receita na próxima vez.
Mas o maior de todos os mistérios é que certas pessoas gostam de determinados bolos e acham outros indigestos - e ninguém sabe por quê.
O relacionamento entre as pessoas é bem mais enigmático que a culinária, pois o psicólogo - ao contrário do químico, que observa as alterações na estrutura molecular de ovos e farinhas - jamais terá condições de reduzir completamente a nossa interação a uma fórmula racional.
Existe um profundo mistério no âmago de cada relacionamento que sempre elude nossas tentativas de explicar por que estamos com esta pessoa e não com aquela. No entanto, o princípio essencial é o mesmo. Pegue os ingredientes fornecidos por dois seres humanos distintos e os misture na tigela de um relacionamento íntimo.
- Bata-os bem e os exponha ao calor - o calor do desejo sexual, da carência emocional, dos conflitos, da troca intelectual, dos desafios do tempo e das circunstâncias do dia-a-dia, da idealização e da inspiração - e, através de uma extraordinária alquimia, cria-se uma nova entidade, com sua força de vida própria, sua própria visão e inteligência e sua própria identidade, que é independente e distinta das identidades das duas pessoas que a geraram.
Mais misterioso ainda é o efeito que essa nova entidade exerce sobre o caráter e o desenvolvimento das pessoas envolvidas:
- Na melhor das hipóteses, cada uma delas poderá crescer e desabrochar por obra do efeito transformador do relacionamento.
- Na pior, ambas podem sofrer.
- Ou ainda, o relacionamento pode ser saudável para um dos parceiros e, por mais delicioso que seja, fazer mal ao outro.
Certas pessoas conseguem extrair o melhor de nós; outras, só o pior. E isso não está necessariamente relacionado à maneira como os parceiros nos tratam. Às vezes, sentimos uma profunda compaixão diante das fraquezas de um determinada pessoa e só raiva e desprezo diante das mesmas fraquezas em outra.
Somos capazes de cultivar e expressar talentos e habilidades num relacionamento que, em outro, ficam misteriosamente bloqueados - a despeito de qualquer incentivo ou obstrução do parceiro. Certas vezes, nem um grande amor consegue impedir a gradual erosão da confiança e do entusiasmo de uma ou ambas as pessoas.
Às vezes um par mal combinado, que sempre foi infeliz, inexplicavelmente permanece junto a vida toda, ao passo que outro que possui muito em comum, no qual os parceiros são muito apegados, é forçado a se separar, apesar de seu desejo mútuo e sincero de preservar o vínculo.
- Muitos relacionamentos fracassados se devem a atos destrutivos e não intencionais de ambos os envolvidos. Esses fracassos poderiam ser evitados e até radicalmente transformados com percepção e esforço conjunto. Com muitos outros, nada se pode fazer, apesar de todos os esforços e toda a percepção.
Todo relacionamento envolve muitos ingredientes, alguns conscientes e outros inconscientes. E, por mais que analisemos a parceira e a nós mesmos, às vezes precisamos aceitar a existência de alguma inteligência superior em nossos padrões de relação.
Apesar de tudo, qualquer que seja a natureza e o desfecho de um relacionamento, quando, como diz Jung, "acontece" alguma coisa, ambos os parceiros mudam para sempre.
Mister saber:
Por causa disso, podemos amá-las ou odiá-las, persegui-las e fazer de sua vida um inferno, ou sentir uma enorme compaixão e não medir esforços para ajudá-las e protegê-las. Mas, no fundo, tudo é muito subjetivo.
Nós realmente não sabemos, até que um relacionamento tenha passado por uma maravilhosa lua-de-mel, se a pessoa que admiramos é realmente o que parece ser, ou se estamos apaixonados por aquela parte escondida de nós mesmos
Lembra-se da passagem da Bíbilia que diz:
Mister saber:
- uma vez que não conseguimos reconhecer algo em nós, temos a tendência a achar que o vemos nas outras pessoas.
Por causa disso, podemos amá-las ou odiá-las, persegui-las e fazer de sua vida um inferno, ou sentir uma enorme compaixão e não medir esforços para ajudá-las e protegê-las. Mas, no fundo, tudo é muito subjetivo.
Nós realmente não sabemos, até que um relacionamento tenha passado por uma maravilhosa lua-de-mel, se a pessoa que admiramos é realmente o que parece ser, ou se estamos apaixonados por aquela parte escondida de nós mesmos
Lembra-se da passagem da Bíbilia que diz:
- "Ama a teu próximo como a ti mesmo"?
É certo que o bom cristão e o filantropo convicto tentarão com todas as suas forças amar a seu próximo. Isso é algo que qualquer pessoa que quer ser amada faz.
Ocorre que esquecem o "como a ti mesmo", delicadamente posto no fim da passagem.
Quantos dentre vós realmente amam ao outro como a si mesmos?
O romancista latino-americano Alejo Carpentier respondeu a essa pergunta:
Quantos dentre vós realmente amam ao outro como a si mesmos?
O romancista latino-americano Alejo Carpentier respondeu a essa pergunta:
- "Ninguém ama ninguém. As pessoas se amam através dos outros"
Liz Greene
Comentários: Nada a acrescentar, senão lembrar o que asseverou o Rei...
Da minha parte, devo confessar: não faço questão de ser amado. Isto posto, desejo muito o ódio dos que odeio. Se é o amor o que nos une, creia: é o ódio o que nos move (I love to hate you).
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