(des)Educação: Ignorância Mata

A Revolução da Educação
Deveria ser mais do que um discurso eleitoral...

"Revolução não está em quatro pães a mais, 
está em serviços públicos com qualidade igual 
para trabalhadores, patrões, parlamentares"
 (Cristovam Buarque - Senador)
Por João Luís de Almeida Machado (*)

O ex-reitor da Universidade de Brasília, ex-governador do Distrito Federal e ex-ministro da educação levantou a bandeira da educação, em seu primeiro discurso no Congresso dessa nova legislatura. 

Não se apropriou da mesma como muitos políticos levianos que utilizam questões nacionais sérias em proveito próprio durante os períodos de eleições. Tinha propriedade e conhecimento de causa para abordar o assunto e posicionar-se no sentido de estabelecer que a autêntica revolução pela qual o país necessita passar começa pela educação.

Resgato a bandeira de Buarque tendo como mote a idéia de que não há verdadeira revolução social, política e econômica em nenhuma nação do mundo sem que projetos sérios, investimentos contínuos, aperfeiçoamento técnico e pedagógico, equipamentos de tecnologia, bibliotecas e professores estimulados e bem-remunerados existam. 

E que, para que isso aconteça, os partidarismos políticos têm que ser deixados de lado em prol de um projeto nacional suprapartidário, que não seja suprimido, abandonado ou esquecido sempre que houver renovação do executivo ou do legislativo.

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Ao educar estamos dando o mundo para
nossas crianças, adolescentes e jovens...
Para melhor compreender esse importante fenômeno revolucionário da educação, nada melhor que se debruçar em dados, exemplos, números e casos que demonstrem o atraso de quem não investe nas escolas comparativamente com a história dos países que acreditam na educação. 

A revista Exame, em reportagem  de capa publicada ainda em 2007, trazia os dados recentes da educação brasileira em que  nos colocava na última posição dentre os países em desenvolvimento quanto à qualificação da mão de obra que iria compor os quadros da economia nacional pelos próximos anos e décadas.
A reportagem intitulava-se propositalmente “Ignorância mata” e, a partir de dados de empresas, do Banco Mundial, do MEC (Ministério da Educação e Cultura), da Unesco e da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) concluía que temos a maior taxa de analfabetismo, a menor média de anos de escolaridade, uma reduzida quantidade de profissionais que atuam como mão de obra especializada, um alto índice de reprovação no ensino fundamental e que estamos nas últimas colocações nos exames mundiais de ciências e matemática.

Empresas que atuam no Brasil sofrem com o baixo nível cultural de nossos jovens até mesmo em São Paulo, a dita capital cultural de nosso país. As vagas de trabalho que exigem conhecimentos técnicos específicos demoram meses para serem preenchidas por indústrias de tecnologia de ponta (isso quando há o atendimento a essa demanda específica). 

A produtividade dos brasileiros, mesmo quando possuem teoricamente o mesmo grau de conhecimentos de trabalhadores de outras nações é menor. Contratos que poderiam gerar o crescimento de filiais ou matrizes brasileiras que competem no duríssimo mercado mundial acabam não sendo fechados porque há uma grande carência de profissionais que atendam à necessidade dos mercados compradores.

Alguns empresários prevêem que se as políticas governamentais gerarem o necessário e vislumbrado crescimento de nossa economia nos próximos anos iremos sofrer um novo blecaute, dessa vez muito mais sério que os apagões anteriores. 
  • Não teremos somente a crise do setor energético a paralisar o nosso avanço, mas a falta de trabalhadores especializados para trabalhar.

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A leitura é uma das principais
atividades a se desenvolver nas escolas.
Temos a pirâmide de investimentos em educação invertida em relação aos países que estão correndo na dianteira do desenvolvimento econômico e social no mundo. 

A maior parte dos recursos se destina ao 3º Grau e, em contrapartida, não se disponibilizam verbas em quantidade suficiente para prover nossas crianças e adolescentes com uma formação de qualidade nos ensinos fundamental e médio.

Os pilares educacionais formam-se na educação infantil e nas primeiras séries do fundamental. O reforço e a complementação ocorrem na finalização do fundamental e na realização do ensino médio. 

A universidade padece com a qualidade sofrível dos jovens formados, que têm dificuldades até mesmo para ler e escrever derivativas de uma formação fragilizada e ineficiente nas séries e estágios anteriores de suas formações.
  • No Brasil, gasta-se em média mil dólares anuais entre a educação infantil, o ensino fundamental e o médio. 
  • No México esse valor é o dobro.
  • Na Coréia é três ou quatro vezes maior.
  • E nos Estados Unidos é 8,5 vezes superior. 
Apesar de gastarmos quase 10 mil dólares anuais com o ensino universitário público no país (valor que supera os investimentos do México e da Coréia), não temos nenhuma universidade no ranking mundial das 100 melhores instituições de 3º grau. 
  • A propósito, a tão badalada USP ocupa a modesta 196ª posição, atrás, inclusive, da Fundação Getúlio Vargas.
O que falta para nós? Que tal olharmos os exemplos bem-sucedidos de países que estão crescendo em virtude de projetos sérios na área educacional?

O Chile, por exemplo, investe 7,2% de seu PIB em educação (no Brasil esse índice é de apenas 4,4%). O retorno desses investimentos tem levado o país a ter taxas de crescimento de 7% ao ano
  • (enquanto nós estamos nas últimas posições entre os latino-americanos com 3% ao ano, à frente apenas do Haiti!). 
Nesse nosso “hermano” da América do Sul os professores tiveram aumento real de 140% nos últimos 15 anos. Os estudos básicos se prolongam por um período de 12 anos e a carga horária é de 8 horas/diárias. 

O acesso a computadores e à internet nas escolas locais chega a, respectivamente, 90 e 80% dos estudantes chilenos. O apoio da família (que sabe o quanto a educação ajuda a melhorar a qualidade de vida de seus filhos) e o ambiente sóbrio, limpo, equipado com livros e computadores são também pontos fundamentais para o sucesso da educação no Chile.

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As escolas têm o dever de incluir seus
estudantes no universo das tecnologias...
A Coréia do Sul, outro país que cresce e destaca-se cada vez mais no cenário econômico internacional (com as devidas conseqüências positivas no âmbito social e cultural) aumentou seus investimentos em educação para 19,6% do orçamento (índice inferior ao previsto em lei no Brasil). 

E por que motivo eles estão crescendo enquanto nós ficamos para trás? Primeiramente pelo fato de que a maior parte dos recursos destina-se ao ensino básico (educação infantil e ensino fundamental).

Outro dado importante refere-se ao fato de que a maior parte dos recursos investidos realmente chega às escolas e não se desvia ao longo do caminho para bolsos alheios, alimentando a corrupção.

Os professores são incentivados a continuar estudando e dá-se preferência no preenchimento das vagas de trabalho para quem tenha não apenas a graduação, mas também cursos de pós-graduação. O trabalho dos educadores é avaliado a cada dois anos e, se os alunos não aprendem, o reprovado é o professor. 
  • O trabalho educacional de excelência garante aos membros do corpo docente das escolas coreanas salários de R$ 10.500,00 em média.
A tecnologia de ponta está presente nas escolas ao lado de cursos de línguas e de música. O currículo básico dá destaque a todas as disciplinas e não apenas à língua pátria ou à matemática. Projetos nas escolas têm o objetivo de estimular a leitura e alcançam grande sucesso no país. 

Há um vínculo direto entre educação e pesquisa nas escolas daquele país. As universidades são pagas e disponibilizam bolsas para os melhores estudantes do ensino médio (que tem 98,5% dos adolescentes do país matriculados). 
  1. Na Coréia as jornadas de aula também têm 8 horas diárias.  
  2. O ensino fundamental tem 8 anos e as salas de aula tem no máximo 35 alunos.
Só por esses dois exemplos já dá para ver que nossa revolução na educação, nos conformes pregados e pensados por gente séria como o senador Cristovam Buarque, ainda está muito longe. 

Temos que mudar muita coisa. Valorizar os professores e funcionários da educação, aumentar a carga horária e dar a ela sentido e projetos que despertem o interesse e a participação dos estudantes, melhorar a qualidade das escolas com bibliotecas, laboratórios de ciências, salas de informática, projetos esportivos e culturais.

Como pudemos ver, se nada disso for feito, logo estaremos vivenciando crises e perdas fortíssimas na disputa pelos mercados mundiais. Já estamos atrás nessa corrida e, caso não surjam projetos sérios, suprapartidários, contando com a parceria entre governo federal e esferas públicas estaduais e municipais, com o dinheiro realmente chegando às escolas (sem desvios ou corrupção), a situação internacional do Brasil ficará ainda mais debilitada. 

Que isso possa ser pensado pelos novos residentes do poder e, além de projeto, que seja encampado e tornado realidade. 

Temos que deixar de ser o patinho feio para assumir a nossa condição de cisnes no cenário mundial.

(*) João Luís de Almeida MachadoDoutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).

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