Richard Dawkins: Deus, um delírio ?

"Há 50% de chances de Deus existir, e 50% de não existir. Não se pode provar que Deus exista, tampouco que não exista. Porém, se ele não existir para mim, não existirá para ninguém. Mas se ele existir para alguém, existirá também para mim. Convém não duvidar."
(Blaise Pascal)

À véspera de mais um natal, nada mais oportuno que se ter a coragem de encarar velhos dogmas de frente, fazer as perguntas sem medo, expor argumentos favoráveis e as críticas que cabem em qualquer contraditório, sobretudo quando o que se questiona é a questão divina, mais precisamente, religiosa - pelo viés da ciência. Estamos a falar do biológo britânico Richard Dawkins e seu livro Deus, um delírio.

Segundo o editor Julio Daio Borges (do site Digestivo Cultural), "desde Nietzschie, provavelmente, que não se atacava Deus com tanta veemência.

Nietzschie, há mais de um século, em O Anticristo, estava, conforme o título, mais preocupado com o cristianismo.

Richard Dawkins, por sua vez, mira e atira em todas as religiões, e usa a palavra 'Deus' mais como uma alegoria.

Com elogios rasgados de gente como Ian McEwan e Steven Pinker, Deus, um delírio é um livro efetivamente brilhante, mas avançamos nas páginas sempre a nos perguntar o que Dawkins pretende com toda essa artilharia.

Afinal, é bastante difícil que os fundamentalistas leiam seu livro (é mais fácil, por exemplo, condená-lo à morte em vida, como fizeram a Salman Rushdie); e o 'estado religioso', dos republicanos nos EUA, é passageiro, ou não?

Qualquer pessoa minimamente informada sabe que toda discussão de ideias, hoje, passa pela ciência e pelos cientistas.

Se ainda existe uma 'vanguarda do pensamento', ela está mais inclinada para o lado dos homens de ciência do que para os humanistas puros - estes desnorteados diante da supremacia das economias de mercado, do avanço das novas tecnologias e do fim de seus antigos 'feudos'.

Assim, ainda que Deus, um delírio acerte em cheio nos argumentos, sente-se falta de um certo brilho na linguagem, de um repertório ― vá lá ― erudito, e até de alguma ambição, digamos, filosófica.

O grande problema em matar 'Deus' (leia-se: as religiões) ― mesmo desde Nietzschie ― talvez seja colocar outra 'visão de mundo', com um acabamento de séculos, no lugar. 

Dawkins está certo:
  • a religião sobreviverá como mitologia apenas; mas parece que ainda não surgiu o primeiro "filósofo" desta nova era..."
Curioso verificar dentre os que defendem as ideias de Dawkins está o PSTU, como pode ser conferido neste artigo de autoria de José Luis dos Santos, no site do partido, sob título:

O ateísmo arrasador de Richard Dawkins

"Richard Dawkins pertence a um seleto grupo de cientistas cuja honestidade intelectual está muito acima do nível sórdido em que são feitas concessões à opinião pública em troca de dinheiro e popularidade fácil.

Nas páginas de Deus, um delírio o leitor encontrará uma crítica severa e surpreendente contra aqueles que, por conveniência ou covardia, cederam à pressão do público leigo e das editoras e deram às religiões um espaço nobre entre as realizações intelectuais humanas. Os dois principais alvos desse ataque 'principista' são Stephen Hawking, que de maneira cínica inseriu 'a mente de Deus' em sua Breve História do Tempo e o também biólogo (aclamado entre o público marxista) Stephen Jay Gould, que em sua obra Pilares do Tempo fez concessões à religião.

Deus, um delírio é a prova viva de que um best-seller não requer capitulações. Seguindo a tradição de grandes pensadores e divulgadores da ciência como Carl Sagan, autor, dentre outros, do sensacional O Mundo assombrado pelos Demônios, Dawkins mostrará ao leitor a última palavra da ciência em oposição ao obscurantismo criacionista, ao fanatismo judaico-cristão, ao fundamentalismo islâmico e a todas as formas de pensamento místico.

Uma das novidades dessa obra em relação ao livro citado de Carl Sagan é a crítica sagaz e bem-humorada do design inteligente – o 'criacionismo num smoking vagabundo'. 

Richard Dawkins domina a lógica da argumentação. O leitor dará boas risadas ao perceber as falácias triviais contidas nos argumentos supostamente sofisticados como o da 'complexidade irredutível'. Há vários outros temas interessantes na obra, como a possível explicação biológica (evolucionista) para a vulnerabilidade humana às religiões, o caráter relativo e certamente não religioso da moral, dentre outros.

Mas Dawkins não é um político revolucionário. Por essa razão, apesar do caráter extraordinariamente salutar de sua obra, percebe-se facilmente a existência de algumas lacunas. Exemplo: exceto pela descrição de um experimento destinado a demonstrar o chauvinismo das crianças israelenses, não há uma única menção ao sionismo no texto, apesar de haver extensas passagens dedicadas aos crimes cometidos em nome das religiões. Terá sido uma omissão tática? Por outro lado, certos conflitos militares e políticos têm suas causas reais obscurecidas diante da 'causa' aparente das religiões. O leitor não terá, contudo, dificuldades para distinguir a essência da aparência.

Lacunas à parte, a obra é referência obrigatória para militantes e ativistas dos movimentos sociais. Numa época em que o assalto imperialista ao mundo semicolonial volta a ser feito em nome de uma luta do 'bem contra o mal' é sempre bom possuir argumentos científicos contra os ladrões que fingem falar em nome de um suposto deus.

Para concluir, gostaríamos de fazer uma única objeção ao texto, que se refere à origem da vida. Parece-nos haver um pouco de exagero na insistência do autor em qualificá-la como evento 'altamente improvável'” .

Para ler o artigo, na íntegra, acesse:
http://www.pstu.org.br/teoria_materia.asp?id=8859&ida=0

Dawkins, um delírio?

No entanto, nem tudo são rosas na flora científica. Há quem enxergue as provocações de Dawkins por um outro ângulo, como é o caso do editor do blog Saindo da Matrix, Acid, o qual não poupou críticas ao se deparar com uma entrevista do cientista concedida ao jornalão dos Mesquitas (O Estadão):

"Digamos que apareça um barbudo de turbante falando que sua missão é converter as pessoas para Deus, generalizando que um 'povo sem Deus' não tem moral e é corrupto. E convocando outros religiosos como ele a se unirem em sua luta contra esse estado de coisas. Esse homem seria visto como um louco, um fanático religioso, e por um momento você desejaria que ele estivesse preso na base militar de Guantánamo com um capuz na cabeça.

Mas, quando este homem tem a barba feita e tem título de cientista, falando exatamente o mesmo que o barbudo acima, mas trocando os lados, ele vende livros. Muitos livros. E é convidado a dar entrevistas aos jornais mundo afora. E passa a ser respeitado, até mesmo cultuado.

Pelo teor de sua entrevista ao Estadão, pode-se ver claramente o tipo de pessoa que é:
  • uma caricatura de Arnaldo Jabor. Se Jabor fosse um Alfa Romeo, Dawkins seria um Hummer.
Certo que o best seller da moda não é mais O Código da Vinci, e sim Deus, um Delírio, onde Dawkins defende que a fé religiosa (seja qual for a denominação) não é apenas uma ilusão inofensiva, mas um delírio nocivo do qual a sociedade precisa ser curada."

Na percepção daquele blogueiro,
  •  "Dawkins não é alguém não-religioso (não há nada de errado nisso, as pessoas podem ter religião, ou não). Ocorre que ele é anti-religioso. E passional. E a sociedade não parece achar isso nada demais."
Acid lembra, ainda, que "foi a partir da indiferença de sua sociedade que a Alemanha nazista se tornou anti-semita, porque um grupo era anti-judeu e o povo alemão era, no máximo, omisso, indiferente, recalcado. O exemplo (extremo) dos nazistas pode caber, pois foi o ápice do exemplo da maçã podre a contaminar todo o cesto".

Para ler a crítica, na íntegra, basta acessar ao endereço:
http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2007/08/dawkins_um_deli.html

Para saber mais das ideias de Richard Dawkins, acesse:
http://www.richarddawkinsfoundation.org/

Para finalizar a exposição vale lembrar dois pensamentos:
  1. Quando se está diante de um contencioso, convém partir do pressuposto que os dois lados tem razão; cada qual, as suas razões.
  2. No fundo, a religião é uma ciência; e muito de ciência é também religião. E fazer ciência é, em última análise, descobrir o quanto pode-se suportar.

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