Educação: Profissão Professor!
NAS SALAS DE AULA NÃO EXISTE PRESENÇA OBRIGATÓRIA
Cena do filme "entre les murs" (Entre os muros da escola)
Por José Predebon *
Nenhum aluno fica em classe se não estiver interessado. Pode até estar lá, sentado, para não ter falta. Mas seu coração e mente não estão presentes, só seu corpo. Problema do professor? Claro que grande parte dos mestres pensa que desinteresse de alunos não é seu problema, e lhes basta ter a consciência tranqüila de estar cumprindo o programa de sua disciplina.
A questão não é simples assim. Procurando suas raízes, encontramos na filosofia (Popper e Feyerabend) a afirmação de que nós não assinamos o contrato social vigente, que nos é imposto, vindo daí alguma justificada recusa a cumpri-lo. Essa colocação talvez explique como surgiu agora uma geração que contesta o sistema como nunca acontecera antes. Sugiro que não se trata de um desvario nem de uma degenerescência social, mas do produto do cruzamento entre a era da comunicação, agora com a internet, com o ímpeto do desejo de mudança dos jovens, melhor percebido desde 1968.
Nossos alunos de hoje, pesquisados, declaram que a maior utilidade que encontram na escola é a formação de sua rede de relacionamentos. Vemos que são também atraídos pelo diploma, que de alguma forma, pensam, deve facilitar sua vida. De resto, franzem o nariz:
- “não quero seguir o caminho de meus pais – eles não são felizes”.
E as pesquisas européias mostram outro fato assustador: o maior pessimismo sobre o futuro hoje não se encontra mais entre os velhos, como tradicionalmente era, mas agora está entre os estudantes. Como entregar a eles o bastão do revezamento social?
Nesse contexto nós, professores, só poderíamos mesmo nos sentir pouco desejados, e por isso pouco ouvidos e respeitados como mestres. Esse panorama, claro, não é geral, o que confirmo após freqüentar salas de professores em praticamente todo o país, no roteiro de minhas palestras acadêmicas. Os mestres concordam que há ressalvas. A primeira é de uma parcela (estima-se em 20%) de jovens com vocação para o aprendizado – os curiosos que procuram informações, de todo tipo.
Outra exceção é a de alunos de universidades públicas, na qual entraram através de uma rigorosa seleção, e que por isso tendem a valorizar o aproveitamento das aulas. Algo parecido acontece em escolas muito procuradas, onde o ingresso também é difícil. Finalmente, também são mais interessados os que se sacrificam, trabalhando de dia e estudando à noite, porque entendem a necessidade do conhecimento para sua carreira. Talvez existam mais exceções que poderiam ser localizadas e estudadas, em um esforço de explicar tudo, como se isso fosse possível, dentro do campo do comportamento humano. Porém o que se sente é que a grande massa dos estudantes não quer estudar.
Por tudo isso a maioria de nós, professores, não teria como estar satisfeita com seus alunos e, por decorrência, com seu trabalho. Uma parte se queixa amargamente dessa “cambada”, tão diferente de como eram alunos no seu tempo. E outra parte entende o problema da ausência de interesse e trata de enfrentá-la de alguma forma, o que inclui aulas com criatividade. “Para ganhar o aluno”, como me confessou textualmente um professor presente no meu seminário que tem o título de “Criatividade para renovar aulas”. Outros se interessam para melhorar sua didática, um objetivo tão oportuno como relevante, e sobre o qual colocaremos o foco deste texto, daqui para frente.
Nascemos egocêntricos, como se sabe, pois toda criança acha que o mundo deve girar em torno de si, tendo um difícil aprendizado de que seu espaço e seus direitos são limitados pelos dos outros. Os jovens ainda mantêm uma posição parecida, ao se posicionar no mundo. Sabem que são os que comandarão o futuro, e assim não aceitam passivamente a autoridade da geração anterior, com suas verdades e códigos.
Nesse contexto nós, professores, só poderíamos mesmo nos sentir pouco desejados, e por isso pouco ouvidos e respeitados como mestres. Esse panorama, claro, não é geral, o que confirmo após freqüentar salas de professores em praticamente todo o país, no roteiro de minhas palestras acadêmicas. Os mestres concordam que há ressalvas. A primeira é de uma parcela (estima-se em 20%) de jovens com vocação para o aprendizado – os curiosos que procuram informações, de todo tipo.
Outra exceção é a de alunos de universidades públicas, na qual entraram através de uma rigorosa seleção, e que por isso tendem a valorizar o aproveitamento das aulas. Algo parecido acontece em escolas muito procuradas, onde o ingresso também é difícil. Finalmente, também são mais interessados os que se sacrificam, trabalhando de dia e estudando à noite, porque entendem a necessidade do conhecimento para sua carreira. Talvez existam mais exceções que poderiam ser localizadas e estudadas, em um esforço de explicar tudo, como se isso fosse possível, dentro do campo do comportamento humano. Porém o que se sente é que a grande massa dos estudantes não quer estudar.
Por tudo isso a maioria de nós, professores, não teria como estar satisfeita com seus alunos e, por decorrência, com seu trabalho. Uma parte se queixa amargamente dessa “cambada”, tão diferente de como eram alunos no seu tempo. E outra parte entende o problema da ausência de interesse e trata de enfrentá-la de alguma forma, o que inclui aulas com criatividade. “Para ganhar o aluno”, como me confessou textualmente um professor presente no meu seminário que tem o título de “Criatividade para renovar aulas”. Outros se interessam para melhorar sua didática, um objetivo tão oportuno como relevante, e sobre o qual colocaremos o foco deste texto, daqui para frente.
Professor e aluno: quem recusa quem?
Nascemos egocêntricos, como se sabe, pois toda criança acha que o mundo deve girar em torno de si, tendo um difícil aprendizado de que seu espaço e seus direitos são limitados pelos dos outros. Os jovens ainda mantêm uma posição parecida, ao se posicionar no mundo. Sabem que são os que comandarão o futuro, e assim não aceitam passivamente a autoridade da geração anterior, com suas verdades e códigos.
Os jovens gostariam de construir uma sociedade menos injusta e cínica. Não sabem bem como fazer isso, e assim sentem-se desconfortáveis, esperneiam. Recusam o contrato social vigente, e com ele os professores, seus cúmplices diretos. Daí uma parte da posição antagônica que encontramos na maioria dos alunos.
Por nosso lado, também falta tolerância para admitir os defeitos da parcela da sociedade que nós mesmos moldamos – nossos filhos, educados pelo (mau) exemplo. Recusamos o que vemos errado, sem olhar para o espelho, pois desde o tempo em que eles eram pequenos, eram levados à escola por nós que parávamos em fila dupla. Arma-se assim uma equação não elegante, matematicamente falando, que não é base de qualquer solução aceitável. Enquanto as partes (alunos e professores) não se olharem sem antagonismo, pouco pode ser feito para melhorar aulas.
Quando alunos estão na escola para “cumprir tabela”, à contragosto, não se pode esperar a mínima disposição deles para abrir espaços aos professores. Estes simplesmente fazem parte da chatice da escola. São uma extensão dos pais, que dizem uma coisa e fazem outra. Jamais pode ocorrer ao aluno nessa condição procurar estabelecer com o professor uma relação que não seja a obrigatória, pouco mais do que responder a chamada.
Falta uma ponte de comunicação: quem deve construir?
Quando alunos estão na escola para “cumprir tabela”, à contragosto, não se pode esperar a mínima disposição deles para abrir espaços aos professores. Estes simplesmente fazem parte da chatice da escola. São uma extensão dos pais, que dizem uma coisa e fazem outra. Jamais pode ocorrer ao aluno nessa condição procurar estabelecer com o professor uma relação que não seja a obrigatória, pouco mais do que responder a chamada.
Por decorrência, se houver uma possibilidade de mudança, esta precisa vir do professor. Só ele pode tomar a iniciativa de estabelecer uma relação diferente. Ou constrói uma ponte e a atravessa para chegar ao aluno, ou fica deste lado falando sozinho, também cumprindo sua tabela, dentro de um contexto perverso que caracteriza um pacto de cinismo:
- eu finjo que ensino e você finge que aprende.
Cabe ao professor tomar a iniciativa, ainda que ele, pessoalmente, nada tenha a ver com a culpa de sua geração que construiu uma sociedade problemática. Cabe a ele, portanto, também usar a criatividade como uma ferramenta a mais para que suas aulas possam ser melhor aproveitadas.
Dificilmente um professor veterano não terá a lembrança de momentos mágicos de aulas excepcionais, com a energia dos jovens pegando fogo, com o entusiasmo superando todos os modelos de didática imagináveis.
Convivência entusiasmada nas salas de aula: um sonho?
Dificilmente um professor veterano não terá a lembrança de momentos mágicos de aulas excepcionais, com a energia dos jovens pegando fogo, com o entusiasmo superando todos os modelos de didática imagináveis.
Essa lembrança pode ser o ponto de convergência para seus esforços de melhoria. Não é uma quimera, seja qual for o contexto, pois a animação é contagiosa entre os jovens. Uma aula criativa pode ser a base desse objetivo, o que para mestres experientes é facilmente imaginável.
Já os professores novos precisam substituir essa lembrança por um crédito no possível e no testemunho dos colegas não pessimistas. Quando a aula empolga, faz professores e alunos cúmplices de uma conspiração antes de tudo deliciosa para ambos. Ainda que isso não seja fácil, e só possa ser visto como um objetivo, é mais que um sonho longínquo – é uma opção melhor de trabalho, cujos resultados parciais são retro-alimentadores.
É um processo virtuoso, basta começar.
Colegas professores, a criatividade não resolve os problemas do ensino brasileiro, mas pode se tornar a ferramenta para fazer a diferença no seu trabalho. Seja qual for a disciplina, ainda que no campo das ciências exatas, lembremos que toda a aula se contém em um processo de comunicação, que nunca pode ser mecanicamente exato.
Conclusão: reposicionamento, o caminho da solução
Colegas professores, a criatividade não resolve os problemas do ensino brasileiro, mas pode se tornar a ferramenta para fazer a diferença no seu trabalho. Seja qual for a disciplina, ainda que no campo das ciências exatas, lembremos que toda a aula se contém em um processo de comunicação, que nunca pode ser mecanicamente exato.
Sempre há campo para nós professores, nos colocarmos muito além da “obrigação básica do programa”. Se nos posicionarmos a favor dos alunos, e nunca nos conformarmos de antemão com seu pouco interesse, e se adicionarmos a magia da criatividade ao planejar nossas aulas, teremos, aí sim, feito a nossa parte.
Finalizemos lembrando o adágio:
- se quisermos chegar aonde nunca fomos, precisamos mudar o caminho que sempre seguimos.
Conheça mais a obra abaixo:
Profissão Professor
Com depoimentos de casos reais, a obra é uma foto sem retoques da nossa realidade no campo do ensino, sob a ótica dos mestres.
O livro Profissão Professor – um painel de casos e opiniões, organizado pelo professor e publicitário José Predebon, é um retrato do ensino brasileiro sob o ponto de vista de professores.
Vinte e oito mestres, em sua maioria veteranos, relatam casos relevantes e transmitem sua experiência. A obra pretende compor um panorama real, com depoimentos de opiniões e casos vividos, em um conjunto que se caracteriza pela diversidade, da qual emerge interessante harmonia.
Ao correr da obra também existe um esboço da tese de que o ensino brasileiro ainda é um desafio a vencer, e que os seus profissionais merecem mais apoio. Editora Cia dos Livros.
“O livro nasceu da idéia de apresentar um painel de ‘o que é lecionar’, que possa contribuir para a formação de uma opinião justa sobre esta carreira que ainda atrai alguns jovens. Mas por que falamos ainda e alguns?
Porque — é preciso registrar e chamar a atenção —, o magistério hoje é pouco cogitado pela nova geração. E isso sugere uma bandeira que julgamos oportuna levantar:
- "O Brasil precisa valorizar mais os professores.” Descreve Predebon, em sua introdução à obra.
Todos podem recorrer às informações postadas no livro, desde professores de escolas públicas como, também, os de escolas privadas e universidades. O objetivo do livro é fazer com que todos possam ampliar e melhorar os resultados dentro e fora da escola.
A obra apresenta, também, cartas — em letra cursiva — de mensagens de pais professores a seus filhos, reais e imaginários, com sua posição sobre o que é a carreira de quem leciona. Essas opiniões de quem vive a atividade completam e humanizam, ainda mais, o painel dos depoimentos de casos.
Ficha Técnica:
Editora: Editora Cia. dos Livros
Organizador: José Predebon
Nº de páginas: 150
Preço: R$ 33,90
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