Economia Internacional: Crise à Grega ou que agrega?

Um início de mandato complicado
Foto Ilustração: Caminhos

O segundo semestre de 2010 começa com uma brusca mudança de cenário. A crise grega deixou de ser grega e passou a ser a metáfora da grande crise de endividamento das economias avançadas que sempre esteve na raiz dos problemas globais desde 2008. O resultado é que as dúvidas em relação aos efeitos das políticas de ajuste sobre o crescimento mundial, os problemas dos bancos europeus, o impacto da reforma regulatória americana sobre a recomposição do crédito e as evidências de que os EUA ainda estão muito dependentes dos estímulos tornaram mais turvos os cenários para os próximos anos.

São vários os caminhos que um eventual segundo mergulho na atividade econômica global pode seguir para atingir o Brasil. Caso a desaceleração do PIB mundial e a do comércio se prolonguem até 2011, o resultado será uma eventual moderação nos preços de exportação e uma queda nas entradas de recursos, necessárias para financiar o crescente rombo externo. Outro caminho é o efeito de mais um choque que atinja os mercados financeiros, como o agravamento da situação dos bancos europeus, que não podem depender de políticas de salvamento de governos muito endividados, ou uma reestruturação desordenada de dívidas soberanas. Por fim, há o próprio superaquecimento interno brasileiro, alimentado pelos exageros da despesa pública e pela dificuldade de corrigir a expansão do crédito público, que o próximo governo poderia relutar em reverter na eventualidade de uma forte desaceleração externa.

Quão complexos seriam os dilemas econômicos no início do mandato do próximo governo, caso o segundo mergulho venha a materializar-se? Uma redução da atividade mundial que tivesse implicações para o ritmo de crescimento brasileiro decerto evidenciaria o quão dependentes estão as variáveis fiscais da evolução do PIB. Mantido o crescimento da despesa, tanto a trajetória do superávit primário quanto a da razão dívida/PIB seriam adversamente afetadas, o que, num mundo mais preocupado com o quadro fiscal, reduziria o brilho relativo do Brasil.

Ao mesmo tempo, sem alterações no comportamento dos bancos públicos e com a continuação das capitalizações dessas instituições e seus efeitos sobre a dívida bruta brasileira, os excessos sobressairiam, o que, para um mundo que acaba de vivenciar uma crise de endividamento, aumentaria a desconfiança sobre a sustentabilidade das políticas brasileiras. Por fim, sem ajustes nos gastos e no crédito público, o ônus de conter a inflação continuaria a recair sobre o Banco Central, mesmo que o sobreaquecimento brasileiro fosse atenuado pelo quadro externo.

Há, portanto, três possíveis caminhos para o próximo governo, diante de uma piora externa.
  • O primeiro seria não alterar as trajetórias do crédito público e dos gastos para sustentar altas taxas de crescimento, mesmo num ambiente mais hostil - o que nos faria retornar aos elevados patamares de juros, caso o próximo governo mantenha o discurso de alguns candidatos de não interferir nas decisões do Banco Central.
  • O segundo seria interromper o aperto de juros, porém moderar o aumento dos gastos e do crédito - o que poderia resultar num crescimento bem mais baixo no ano que vem do que o esperado para 2010-, e uma taxa de inflação mais próxima do centro da meta, embora ainda elevada. 
  • O terceiro seria uma moderação do crédito e dos gastos, com continuação do aperto necessário para que a inflação retorne à meta no fim de 2011, o que pode sacrificar um pouco mais do crescimento quando comparado à segunda alternativa. Esses exercícios mostram que, se os dois mandatos de Lula foram favorecidos pelo bom momento da economia mundial, o próximo presidente não terá a mesma sorte.
O fim da grande moderação não significa que os bancos centrais deixem de ser moderados. O Relatório de Inflação do Bacen de junho dá um excelente exemplo de profissionalismo que tem conquistado prestígio político da instituição entre seus pares nos últimos 15 anos. Não devemos subestimar os desafios.
 
Fonte: O Estado da Chuiça - 02/07/2010

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