Livros: Shalimar, o equilibrista - Salman Rushdie
Dicas de Leitura
Shalimar - O Equilibrista
Nono romance de Salman Rushdie, 'Shalimar, o equilibrista' é uma trama de narrativas interconectadas sobre paixão e violência.
Ao longo de seis décadas, conta uma história de amores arrebatados que corre paralela à violência da disputa pelos territórios da cidade de Estrasburgo, na França, durante a Segunda Guerra, e da Caxemira, no noroeste do subcontinente indiano, desde a criação do Paquistão, em 1947, até os dias de hoje.
Em uma história de amor e vingança, com todos os ingredientes dos grandes épicos, Rushdie constrói um enredo em que a paixão súbita e proibida de um embaixador americano por uma dançarina de etnia hindu desencadeia uma série de acontecimentos que apontará para os vínculos complexos entre Ocidente e Oriente nos dias de hoje.
No livro, o personagem Max Ophuls substitui as fábulas e histórias de dormir que pais contam a seus rebentos por pesadas homílias. Certa noite, explica, para sua sonolenta filha:
"O Palácio do poder é um labirinto de salas interligadas... Não tem janelas nem porta visível. Sua primeira tarefa é encontrar um jeito de entrar. Quando resolver esse enigma, quando chegar como suplicante à primeira antessala do poder, vai encontrar nela um homem com cabeça de chacal, que vai tentar expulsar você. Se ficar, ele vai tentar devorar você. Se com algum truque conseguir passar por ele, você vai entrar numa segunda sala, guardada desta vez por um homem com cabeça de cão raivoso, e na sala seguinte vai encontrar um homem com cabeça de urso faminto, e assim por diante.
Na penúltima sala, há um homem com cabeça de raposa. Esse homem vai tentar afastar você da última sala, na qual está sentado o homem do verdadeiro poder. Ou melhor, ele vai tentar convencer você de que já está nessa sala e que ele próprio é esse homem...
Se conseguir perceber os truques do homem-raposa e puder passar por ele, vai se encontrar na sala do poder. A Sala do poder não tem nada de especial e nela o homem do poder está na sua frente do outro lado de uma mesa vazia. Ele parece pequeno, insignificante, medroso; porque, agora que você penetrou nas defesas dele, ele tem de lhe conceder o que o seu coração deseja. Essa é a regra.
Mas no caminho de saída o homem-raposa, o homem-urso, o homem-cachorro e o homem-chacal não estão mais lá. No lugar deles, as salas estão cheias de monstros voadores, semi-humanos, homens alados com cabeça de pássaro, homens-águia e homens-abutre, homens-ganso e homens-falcão. Eles mergulham na sua direção e arrebatam o seu tesouro. Cada um arranca com as garras um pedacinho dele.
Quanto você vai conseguir levar para fora da casa do poder? Você vence todos, defende o tesouro com seu corpo. Eles atacam suas costas com garras branco-azuladas brilhantes. E quando você vence todos e está de novo do lado de fora, os olhos apertados e doloridos por causa da luz brilhante, agarrado ao pobre restinho esfarrapado, vai ter de convencer a multidão descrente - aquela multião impotente, invejosa! - de que você voltou com tudo o que queria.
Se não, será marcado como um fracassado para sempre. Essa é a natureza do poder". Podres e pequenos poderes.
RUSHDIE, SALMAN
Nasceu em Bombaim, na Índia, em 1947. De família muçulmana liberal e abastada, aos treze anos foi estudar na Inglaterra e lá permaneceu, tendo se tornado súdito britânico. Em 1968 formou-se em história no King's College, em Cambridge. Depois de uma breve carreira como ator, passou a dedicar-se à literatura em 1971. Seu romance Os filhos da meia-noite ganhou, em 1981, o prestigioso Booker Prize na Inglaterra. Já Os versos satânicos (1988) valeu-lhe o Whitbread Prize e uma sentença de morte, promulgada pelo aiatolá Khomeini.
Para quem se interessar pelo livro, pode adquiri-lo em:
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Comentários: Faço minhas as palavras de Nietzsche que disse:
- "Quero, sempre que possível, estar perto do poder, e bem longe dos poderosos. Quem pensa que o poder corrompe está enganado. O poder apenas revela o caráter das pessoas"
Quem já não teve o desprazer de estar com um homem-raposa, um homem-urso, um homem-cachorro ou um homem-chacal? Se você trabalha numa multinacional, numa empresa familiar, numa Ong ou até mesmo em companhias estatais encontra-os diariamente e aos montes.
Conheça as faces desses crápulas lendo este livro. É uma lição para toda a vida; ali você encontra "a crua homilia do personagem de Salman Rushdie, que ressalta o perigo da busca desenfreada do poder e o vazio do encontro.
Os palácios do poder continuam - e continuarão - a existir, com seus homens-chacais, suas antessalas e seus ocupantes taciturnos. Porém, seria mais saudável para as empresas e seus funcionários abandonar as máscaras, desmistificar o tema e tratá-lo sem pudor.
Afinal, política e poder estão presentes em qualquer ajuntamento humano. E, como bem sabem nossos ilustrados amigos navegantes, as criaturas das trevas constumam perder o rumo quando expostas à luz do sol", segundo Thomaz Wood Jr - a respeito do belo livro de Rushdie.
Comentários
Oi Eliane,
vale a pena ler. Esse cara não tem papas na língua, e desse universo ele entende como poucos.
Se você tiver alguma dificuldade em encontrá-lo é só falar com o tio aqui...rss
Valeu a visita.
Abs