Economia: Brasil, país de classe média?
Deu no Brasília Confidencial
Consumo nas classes pobre e média cresce o dobro das outras
Quadro: Retirantes - Cândido Portinari
A recente declaração do ministro Guido Mantega, de que o Brasil já é quase um país de classe média, ganhou ontem uma espécie de aval no estudo “Consumo das famílias até 2020″ divulgado pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo.
O estudo mostra que o consumo de produtos e serviços nas classes C, D e E deve crescer o dobro do esperado para as classes A e B. A expectativa é de que, nas classes A e B, com renda superior a dez salários mínimos, o crescimento até 2013 se mantenha em, no máximo, 4%. Enquanto isso, nas classes C, D e E (renda mensal de até R$ 5.100,00), o consumo deverá crescer 8%.
Em 2009, as classes C, D e E gastaram R$ 864 bilhões, equivalente a 78% do R$ 1,10 trilhão gastos pelas classes A e B.
O documento é aberto por um alerta: se for mantido o ritmo de expansão do consumo das famílias na última década e caso se concretizem as projeções de aumento de investimentos e gastos públicos, poderá haver um impacto significativo nas contas públicas.
“É preciso evitar de qualquer jeito a volta da inflação, mas não há nada de ruim no aumento do consumo. Estou fazendo o papel do médico que alerta o paciente para evitar males futuros. Não se trata de parar de praticar esportes, mas de ter cuidado para evitar problemas”, declarou a Brasília Confidencial o economista Fabio Pina, coordenador do estudo.
Dados do IBGE, citados no documento da Fecomércio, informam que a alimentação é responsável por 17% dos gastos das famílias brasileiras. Mas não é igual para todo mundo. Na classe C, os gastos com alimentação correspondem a 23% do orçamento e, na D, a 27%.
A explicação de Fabio Pina é de que, por trás dos números, estão as mudanças em andamento no Brasil.
- “O consumo no Norte e no Nordeste deve crescer mais do que no Sul e no Sudeste e também deve haver uma mudança nos destinos da renda familiar”.
Essa mudança a que o estudo se refere é relacionada à moradia. A perspectiva é de que, com mais acesso ao crédito, as famílias mais pobres possam investir na compra da casa própria. O estudo da Fecomércio chama atenção para o peso do item habitação: 30% da renda de todas as famílias têm essa destinação, o que representa anualmente, no Brasil, algo como R$ 30 bilhões.
Para a Fecomércio, pode-se apostar na manutenção desse ritmo de expansão do consumo familiar. A questão passa a ser, então, como sustentar esse crescimento. A projeção do estudo é de que as famílias brasileiras terão custo de R$ 2,5 trilhões, até 2013, e de R$ 3,2 trilhões, em 2020.
Fonte: http://www.brasiliaconfidencial.inf.br/?p=16760
Comentários: Faltou dizer, nesse estudo, que ainda há mais de 56 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza.
Faltou dizer também que insustentável é esse modelo econômico que privilegia sobremaneira formas desumanas de acumulação de capital a pequenas castas sociais tacanhas, avarentas, mesquinhas, peçonhentas, hipócritas, demagogas, abjetas em detrimento da classe assalariada que mal tem condições de satisfazer suas necessidades fisiológicas.
Faltou dizer mais: que desenvolvimento sustentável deve ser, antes e principalmente, socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável.
Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento. É apenas um processo exploratório, irresponsável e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e politicamente influente.
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