Europa: Por que os PIIGS preocupam?

Economia à Grega
Pimco: crise fiscal europeia já é global e pode afetar crescimento econômico

A crise fiscal europeia pode trazer efeitos negativos significativos para o crescimento econômico global, e o recente movimento de queda das ações é um sinal de que a economia global ainda tem problemas estruturais para resolver. Esta é a opinião de Mohamed El-Erian, chefe-executivo da Pimco, maior gestora global de fundos de investimento.

“As baixas das ações e de outros ativos de risco não é um ciclo típico. É um reconhecimento das desafiadoras questões estruturais. Estabilização e ganhos requerem soluções estruturais”, comentou o gestor à rede de notícias norte-americana CNBC.

Para El-Erian, a questão das contas públicas gregas já deixou de ser local para se tornar global, passando de um simples problema de fluxo de caixa e se estendeu para as dimensões fiscais, econômicas e financeiras. Um dos pontos mais críticos sobre o país, na visão do gestor, é se a questão se mostrará um problema mais amplo de insolvência ou simplesmente um problema de liquidez.

“A dívida tem que ser reestruturada ou deve haver uma mudança completa na estratégia europeia para prover financiamentos a taxas zero”, destacou. (Com informações da Infomoney) 

Sobre a crise que assola a Europa e ameaça as economias globalizadas vale conferir o artigo do Prof. Belluzo publicado em Carta Capital:

A dura realidade no Velho Mundo

Por Luiz Gonzaga Belluzzo  
 O plano de socorro às economias periclitantes da Zona do Euro replica as medidas de “facilitação quantitativa” (quantitative easing) já adotadas pelo Federal Reserve na gloriosa crise do subprime. Na América, as injeções de liquidez e os programas de compra de ativos podres não fizeram pouco. Além de construir um piso para a deflação de ativos, as intervenções apagaram as culpas do espírito dos pecadores, que, com a ajuda do governo, lograram vencer o colapso da confiança.

No Velho Mundo, depois de um período de subterfúgios ideológicos e negaceios políticos, as lideranças europeias trombaram com a dura realidade. Até mesmo os austeros alemães deram-se conta de que suas virtudes (sobretudo a saúde de seus bancos) estavam ameaçadas pelo colapso dos malditos gastadores gregos, espanhóis e portugueses.

A recriminação cedeu lugar ao pânico, na proporção em que os mercados mostravam os dentes e jogavam a cotação do euro para os calcanhares. Para os senhores da finança pouco importa que tenham sido salvos pela vigorosa intervenção da agência do Estado encarregada da gestão da moeda e do crédito. A garantia pública transmuta-se no poder privado de exigir prêmios elevados para aceitar em sua tesouraria os títulos dos periclitantes devedores soberanos da periferia da Europa. A desconfiança privada atinge o âmago da soberania estatal, comprometendo a legitimidade do Estado como gestor da moeda e da dívida pública.

O programa da Eurolândia conta com a ajuda do FMI e envolve a compra de títulos públicos e privados pelo Banco Central Europeu, além de provimento de liquidez e interposição de garantias nos mercados interbancários, cujas conexões estavam obstruídas pelo chamado risco de contraparte. Em linguagem corrente, esse risco se manifesta sob a forma da recusa dos bancos de emprestarem uns aos outros, desconfiados que o vizinho pode estar carregado de papéis ilíquidos ou encontra-se na iminência de passar para o terreno da insolvência.

Nos próximos meses, os rumos da economia europeia continuarão a depender das avaliações dos bancos e quejandos a respeito do “ajustamento fiscal” e da evolução do endividamento público nos países submergentes. Na situação atual, não são desprezíveis as possibilidades de um duplo mergulho recessivo na Eurolândia. Ainda que essa trajetória indesejável não se realize, as perspectivas mais otimistas são de baixo crescimento para os próximos anos. Não é difícil imaginar as agruras do povaréu – submetido aos rigores do ajustamento, depois de um período das euforias promovidas pelo crédito fácil. Gregos, espanhóis e portugueses sofrerão as dores do cinto apertado: redução de salários, corte dos benefícios sociais, aumento de impostos, tudo aplicado numa economia em declínio.

Por essas e outras, há suspeitas fundadas de que a ação pública de redução do déficit fiscal e de facilitação quantitativa poderá deprimir ainda mais as expectativas privadas. Tal estado de expectativas promove o encurtamento do horizonte temporal dos contratos de dívida. Na busca de maior segurança e liquidez para seus estoques de riqueza, os investidores elevam o prêmio exigido para absorver os papéis dos devedores duvidosos, sejam eles soberanos, sejam privados. Isso não só reduz a capacidade de gasto das famílias e das empresas, como também compromete a própria capacidade dos Estados de emitir dívida nova e de administrar o estoque de endividamento existente. Isto tende a reduzir ainda mais as possibilidades de atuação da política monetária, submetida aos imperativos de taxas de juro reais elevadas, com efeitos negativos sobre a recuperação da economia.

Nessas circunstâncias, as políticas de Estado de geração do déficit e de criação de nova dívida pública correm o risco de fracassar completamente como instrumentos de sustentação dos lucros das empresas e de proteção dos portfólios do setor bancário privado. O setor privado não reage aos estímulos convencionais, revelando que as expectativas de longo prazo estão insensíveis aos sinais emitidos pelo governo. Em uma economia abalroada por uma crise como a que se desenrola na Europa, o desequilíbrio fiscal e o crescimento do débito público na composição dos patrimônios privados tendem a se tornar fenômenos mais profundos e duradouros. Diante de antecipações pessimistas do setor privado, o déficit do governo consegue apenas impedir a queda acelerada da produção e evitar o agravamento da deflação de ativos. Com isso, a crise não é superada, mas ameaça se transformar de crise da finança privada em crise financeira do Estado.


Luiz Gonzaga Belluzzo
Contracorrente

Fonte: CartaCapital
 

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