Economia: déficit em conta corrente(*) não inspira preocupação

Economia Aplicada
Déficit no Brasil não é motivo de preocupação. A Bovespa sobe...
  • (*) A conta corrente de um país mede entradas e saídas de caixa junto ao estrangeiro, divididas entre balança comercial (exportações e importações), balança de serviços (fretes, juros, lucros, seguro e turismo) e transferências (doações), excetuando-se a conta capital. Quando as entradas são maiores (menores) que as saídas, temos superávit (déficit), em conta corrente.
O último relatório Focus, de 29 de março de 2010, traz a seguinte projeção de consenso do mercado: ao final de 2010, a conta corrente do Brasil, que traz a diferença entre as os fluxos de bens e serviços frente ao exterior, deve estar deficitária em US$ 50 bilhões – ou seja, o Brasil possui déficit, neste critério, de US$ 50 bilhões com o “resto do mundo”.

Há aproximadamente um ano, no relatório de 27 de março de 2009, o mercado apontava para déficit de US$ 23,60 bilhões na mesma conta em 2010, mostrando que as projeções para o desequlíbrio em conta corrente mais duplicaram no período.

Mas, afinal, o que significa esse déficit? Mais do que isso: que consequências ele tem para a economia brasileira?

O professor da Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), José Luiz Rossi Júnior, explica que as transações correntes trazem a diferença entre poupança nacional e o quanto o país investe. Assim, um déficit significa que o país investe mais do que poupa. “Acontece por vários motivos, quando as pessoas estão consumindo mais, ou a poupança do governo está baixa. Isso tudo tem que ser financiado. Neste caso, o mundo está financiado o Brasil, através da entrada de capital”, afirma o professor.

Déficit nada mais é do que importar poupança externa. “Há várias formas de financiar o consumo: empréstimos, títulos de renda fixa, IED (investimento externo direto) e bolsa, sendo que os últimos dois são os principais atualmente”, ressalte-se.

O professor do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Carlos Eduardo Gonçalves, explica que desde 2005 as contas nacionais mostram uma deterioração na conta corrente, causada por uma piora na poupança doméstica. “Quando você poupa menos, para financiar o investimento, precisa vir poupança de fora. Quando vem poupança de fora, ela aprecia a taxa de câmbio, e isso gera um déficit em conta corrente”, explica.

Assim, o déficit é como um espelho da maior entrada de capital. “A piora que estamos vendo, e que vamos continuar a ver nos próximos anos, vem de um aumento do investimento, O investimento vai continuar crescendo, e como a poupança pública e privada são baixas, você financia esse investimento com entrada de capitais”.

Déficit não preocupa

Tanto os professores da FEA-USP e do Insper como demais analistas de consultorias consideram que o déficit não é preocupante.

“Estamos financiando crescimento econômico, em parte com poupança vinda do exterior”, enfatiza Carlos Eduardo, completando que “isso passa a ser preocupante em emergentes sobretudo quando esse endividamento é muito grande, o que não corresponde ao cenário brasileiro atual”.

“Há um certo medo, porque é um aumento do passivo do país com o exterior e maior dependência do capital externo para fechar as suas contas. Além disso, historicamente, momentos de déficit foram seguidos de crise”, lembra o professor do Insper, que entranto acredita que a situação agora é diferente, motivo pelo qual o déficit não o preocupa. “Pela primeira vez vivemos um período de câmbio flexível, que de certa maneira pode atenuar esse déficit”, explica.

Na última nota do setor externo divulgada pelo Banco Central, de 22 de março, referente ao mês de fevereiro, as transações correntes mostraram déficit de US$ 3,3 bilhões no mês, acumulando US$ 28,1 bilhões de déficit nos últimos doze meses – o que equivale a 1,66% do PIB (Produto Interno Bruto).

Carlos Eduardo cita quatro razões para justificar que a situação não inspira preocupação:

- “O endividamento vai ser basicamente para financiar aumento de investimentos”

- Este financiamento não está vindo com capital de curto prazo, mas com financiamento de empresas – via bolsa de valores– e fluxo direto de investimentos (em fevereiro, segundo a Nota do Setor Externo, os investimentos estrangeiros diretos somaram ingressos líquidos de US$ 2,8 bilhões).

- Assim como enfatizou José Luiz, o fato do Brasil adotar o regime de câmbio flutuante faz com que o déficit seja menos preocupante na visão do professor da FEA-USP. O mecanismo é o seguinte: o câmbio passa a se ajustar se esse déficit começar a ficar muito grande. “As pessoas começam a vender reais e comprar dólar, o que aprecia a taxa de câmbio e reverte o déficit”, explica.

- O nível de endividamento inicial, do qual o País está partindo dessa vez, é baixo.
“O endividamento externo está muito tranquilo – governo tem mais ativos em dólar do que passivos. A dívida externa como proporção das exportações é uma razão um pouco menor que um”, explica. Assim, a situação financeira brasileira é considerada tranquila. Mesmo com esse déficit externo gerando um aumento do endividamento, como estamos em níveis bem tranquilos, isto não é preocupante, na visão do professor da FEA-USP.

Assim, Carlos Eduardo afirma que a situação não preocupa. “Se começar a atingir 5%, 6% de déficit externo, vou começar a ficar preocupado, mas acho que não chegamos nesse nível, porque o câmbio deprecia antes”.

Depreende-se daí que “hoje este déficit esta reflete a expectativa de que o País cresça”. Com as perspectiva de crescimento do País para os próximos anos, “não se espera que haja uma queda nesse fluxo de capital, porque o perfil desse fluxo é diferente”, óbvio.

“É diferente do passado, quando o endividamento tinha outro objetivo, de manter o câmbio fixo (segundo governo FHC), um regime que acabou se mostrando insustentável”, lembrou o professor do Insper.

Comparação

Numa comparação com a Austrália como forma de exemplificar porque não se considera o déficit preocupante. Segundo maior IDH do mundo, 8º maior PIB per capita, “longe de estar em uma situação ruim, a Austrália não teve nenhum superávit em conta corrente nos últimos 20 anos”.

“A Austrália usou esse déficit em conta corrente para fazer uma reforma completa em itens que podiam melhorar a produtividade do país”, lembrando que, assim como o Brasil, trata-se de um país agro-exportador.

Assim, é de entendimento consensual entre analistas que o déficit não preocupa. “Nossas projeções são, inclusive, menos pessimistas que o mercado, com projeção de déficit de US$ 34,5 bilhões”. Mas, é importante que o déficit seja usado, assim como na Austrália, para fazer reformas no País – como melhorar a legislação trabalhista, por exemplo. Uma reforma que corte a gordura da fatia do governo, desonere a produção e injete ânimo no espírito racional das Consolidações das Leis Trabalhistas, que data de 1950.

Intervenções do BC?

Sobre uma hipótese do Banco Central intervir, Carlos Eduardo afirma que isso seria “nadar contra a corrente”, dado que os fatores que estão levando ao déficit externo são fatores estruturais, como investimento doméstico crescendo, o que é bom. “Desacompanhado de crescimento da poupança, não tem muito o que o BC possa fazer para lutar contra essa tendência”.

A não ser que o governo faça um grande ajuste fiscal, o professor da FEA-USP acredita que o Brasil continuará com o déficit em conta corrente maior - o que, enfatiza, não é preocupante.

Fonte: web.infomoney.com.br

Comentários: Espera aí Tato, mas você afirrmou que a Bovespa sobe? (pergunta meus acanhados botões). 
 
Ao que devo, em tempo, responder: 
 
Não leia, nem ouça, nem veja o PiG; se assim fizesse saberia que:

Mercado financeiro - Bovespa fecha com 5ª alta seguida e vai a máxima em 22 meses (Fonte:  Reuters)

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