Quem vai estudar, quem vai trabalhar, quem vai viver?
C O T A S, J Á!
Encontrei, dentre vários comentários a favor das cotas, num certo portal do (des)conhecimento um que chama atenção pela cruel sinceridade:
Em 26/12/2008 às 16:56
Antonio disse:
"… ser pobre é um problema, ser pobre e negro é um problema maior ainda…
Sou, sem nenhuma dúvida, a favor das cotas para pobres e negros.
Não digo em causa própria, todos por aqui já se formaram, como não o é também pela cor da pele.
Não podemos afastar qualquer coisa feita e a ser feita em favor de resolver ou minimizar o sofrimento de uma grande parte da sociedade vivendo em verdadeiros guetos, “produzindo” pessoas despreparadas, para não dizer o pior, alimentando um ciclo vicioso e viciado.
Querer transformar o tema em assunto racial, é cortina de fumaça para esconder a oposição “raivosa” às políticas sociais implementadas recentemente, em detrimento ou dividindo preferência com as de investimentos produtivos.
Os defensores do estado mínimo, agora detonados pelos acontecimentos mundiais, sempre defenderam que a iniciativa fosse privada, mas o que não diziam e não dizem é que a fonte deve ser estatal…a velha leiteira…
Querem exclusividade…é isso que escondem…"
Ainda a propósito desse portal, convém expor o que este insignificante bloguista também lá postara, o "fator pró-cotas do Tato" abalou os interesses familiares (talvez não branco, pior: ruivo) de Luis Nassifú:
Nassifú,
Eu poderia ter a pele clara, poderia ter a pele escura
Poderia ser branco, poderia ser negro
Poderia ser amarelo, poderia ser índio
Poderia ter estudado nos melhores colégios particulares
Poderia ter estudado nas sucateadas escolas públicas
Só não poderia ser contra as ações afirmativas
A não ser que desejasse manter, por medo ou omissão
A enorme parcela da população que subsidia as
Universidades públicas para os egressos dos colégios particulares
Exercerem o direito de suas cotas que ultrapassam 90% dos aprovados.
Não sei, sinceramente, e começo a questionar
As benesses dessa democracia à brasileira
Que só se vê em tempos de eleições, mas
Jamais permite a inclusão daqueles que não tem voz
Sequer para gritar por necessidades básicas,
Quanto menos sonhar, numa universidade pública, estudar.
E não digo isso por pertencer à classe dos privilegiados
Tão menos por aspirar para mim, ou para os meus, a cota que
Sorrateiramente sempre nos foi reservada,
Mas sobretudo por desejar uma verdadeira democracia,
Um cidadania plena que garanta oportunidades para todos.
Por isso, entre outras, sou absolutamente e irreversivelmente
A FAVOR DAS COTAS, sejam raciais, sejam sociais.
E não apenas para Universidades Federais, mas também para
As Universidades Estaduais, estas sim, enfestadas por privilegiados
De anos a fio de governos oligárquicos, mesquinhos, hipócritas e enfadonhos.
Hipócritas como aquela atriz, como o Sen Demóstenes, como o ministro
da Educação da era FHC, hipócritas como todos aqueles que defendem
a manutenção de um sistema desigual, para uma sociedade desigual,
para um país que, só se fará país, quando reconhecer as desigualdades
e as formas para reduzi-las e eliminá-las.
Mais:
Tato de Macedo disse:
Nassifú,
Ou sendo um pouco mais radical:
““Alguém acha mesmo que as portas do racismo já não estão abertas? Que a mentalidade racista já não está instalada? Que o racismo não se instala no Brasil até que uns negros (agressivos ou se fazendo de vítima) começam a usar camisas “100% Negro” e falar em cotas universitárias? Que foi NESSE MOMENTO que a mentalidade racista se instalou? Sério mesmo?
A mentalidade racista está instalada (e muito confortável, obrigado) desde que se escravizou o primeiro índio. As portas do racismo nunca estiveram nem entreabertas: estão escancaradas há 500 anos.
* * *
Naturalmente, só não repara no racismo quem se beneficia dele. Quem sofre seu peso todos os dias sabe bem do que se trata. O racismo é como se fosse um Contrato Social (na verdade, um Contrato Racial) no qual os membros da raça dominante formam um acordo tácito de, ao mesmo tempo em que garantem para si a maior parte das riquezas/oportunidades/etc da sociedade, também consentem em não ver o próprio sistema, criando assim a “alucinação consensual” de um mundo sem raças, meritocrático e igualitário, que passa a mediar sua interpretação da realidade. Nem todos os brancos são signatários do Contrato Racial, mas todos são beneficiários. (Mills, 11)
Numa sociedade racialmente estruturada e profundamente desigual, as únicas pessoas que são psicologicamente capazes de negar a centralidade do racismo são justamente aquelas que pertencem à raça privilegiada: a raça, para eles, torna-se invisível porque o mundo é estruturado em função deles; eles são a norma em oposição a qual são medidas as pessoas de outras raças (“esses outros tem raça, não eu!”).
Assim como o peixe não vê a água, os membros da raça dominante não vêem o racismo. (Mills, 76) Desse modo, como citei ontem, é possível que os membros do sindicato dos ferroviários, sinceramente e de boa fé, neguem acesso aos negros ao comitê de práticas raciais porque eles eram “representantes de uma raça”, sem nunca se dar conta de que eles também tinham raça e que também representavam os interesses dela. Pra eles, quem tem raça é sempre o outro.
Em uma sociedade racista e desigual como o Brasil, afirmar não ver raça, não ligar pra raça, que raças não existem, que isso não tem importância, “que besteira você se importar com isso”, etc, significa na prática tomar partido racialmente ao se aliar com a hegemonia invisível que *precisa* desse tipo de negação para sobreviver e prosperar.
Não existe neutralidade possível: negar raça já é uma afirmação política que te coloca em um dos lados bem definidos de uma briga antiga. Negar raça já é intrinsecamente racista.
(Continua)
Nassifú,
Desculpe-me, mas o que devemos repudiar são os “militões” que enfeitam os discursos dos bem-nascidos, bem-alimentados,bem-escolarizados, enfim, dessa parcela que nega para se beneficiar dos privilégios da negação.
Boa noite a todos!
LN: Prezado, é fácil ficar do lado da maioria. O Militão tem história(?) e contribuições(?) para a afirmação dos negros(?) e coragem para defender suas idéias(?). Não diga bobagem(???).Tato de Macedo disse:
Nassifú,
Desculpe-me, mas quem está dizendo bobagens não sou eu, meu caro.
De que lado você imagina que se encontra essa “maioria”?
Claro. Onde você situa? A qual “maioria” você mesmo pertence?
Poupe-me, por favor!
abraços
Nassifú,
Já que você defende o Militão que supostamente defende uma tese de “minorias”. Então permita-me, por favor, expôr alguns números estatísticos e analíticos dessa “minoria”:
a UFRJ, lançou em outubro o seu Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil. Não sei se você, ou o Militão, ou alguns desses que defendem a permanência do sistema de acesso ao ensino superior como está. Para quem duvida que exista racismo no Brasil, ou para quem tem sede de números, dados e gráficos, está tudo lá, atualizado até 2007.
http://www.laeser.ie.ufrj.br/relatorios_gerais.asp
Você pode fazer o download da versão integral ou só das conclusões gerais.
http://www.laeser.ie.ufrj.br/pdf/RDR%20Cap%C3%ADtulo_8_pt.pdf
Para mandar para seus amigos estrangeiros, ou para aqueles que acham fofinho ler em ingês, as conclusões também estão disponíveis em sua língua mater:
http://www.laeser.ie.ufrj.br/pdf/RDR%20Cap%C3%ADtulo_8_en.pdf
Para os preguiçosos, os textos abaixo fazem um resumo das principais conclusões do Relatório:
- Podem ser menores as diferenças?
http://www.jap.org.br/oktiva.net/1823/nota/129553
Relatório da UFRJ aponta para a diminuição das desigualdades sociais e raciais no país:
- De cada dez brasileiros pobres, seis são negros;
- A mortalidade infantil é 60 por cento superior entre as crianças negras;
- Uma negra, pobre, nordestina, moradora da área rural ganha, hoje, em média, um terço do que ganha um cidadão branco;
- No Brasil, os negros são quase três vezes mais atingidos pela insegurança alimentar do que os brancos;
- Entre os 10% mais ricos apenas 18% são negros (pardos ou pretos). Já na parcela dos 10% mais pobres, 71% são negros;
- 19% dos negros e 11% dos pardos ou mulatos já se sentiram discriminados por causa da cor em alguma situação relacionada ao trabalho;
- 37% dos negros e 25% dos pardos ou mulatos afirmam que se sentiram discriminados ao procurar por trabalho, e citam a rejeição pura e simples, o fato de a vaga ser destinada a pessoas de uma determinada cor e a obrigatoriedade de declarar a cor no momento de preenchimento de ficha;
- 24% dos pardos e mulatos e 14% dos negros afirmam ter sido vítimas de piadas ou insultos no trabalho em virtude da cor;
- 9% dos negros foram acusados de roubo ou reclamam de serem vistos como ladrões;
- 13% dos negros não se sentem ou sentiram aceitos no grupo ou turma de trabalho;
- Os negros, que têm rendimentos, em média, de R$ 390,90, recebem em média 46% a menos do que os brancos, que ganham, em média, R$ 718,50 por mês. Já os pardos (rendimento médio de R$ 441,50) ganham 39% a menos do que os brancos. Essa diferença é verificada em todos os segmentos passíveis de análise, sem que importe a ocupação, o setor de atividade, a escolaridade ou as horas trabalhadas: os brancos ganham sempre mais do que negros e pardos.
_ Mercado de trabalho, 120 anos depois da Lei Áurea, oferece oportunidades restritas de ascensão na hierarquia das empresas.
Preconceito e acesso limitado à educação são apontados como grandes barreiras para os negros, que são 49,5% da população. … “O objetivo do levantamento é trazer uma informação inconteste.
Geralmente, os gestores fazem uma avaliação mais positiva do que está acontecendo: 34% responderam sim, quando questionados se a proporção de negros no patamar executivo é adequada.
Confrontados com dados objetivos, eles são obrigados a fazer uma reflexão.” Na opinião de Gastaldi, isso é porque o brasileiro em qualquer assunto tem facilidade de fazer críticas no coletivo, mas não reconhece os problemas nele próprio.
Ações afirmativas e políticas de afirmação do negro no Brasil
http://www.comciencia.br/reportagens/negros/01.shtmlSegundo esses dados:
1- Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) o número de alunos brancos é de 76,8%, o de negros 20,3% para uma população negra no estado de 44,63%;
2- na Universidade Federal do Paraná (UFPR) os brancos são 86,6%, os negros, 8,6%, para uma população negra no estado de 20,27%;
3- na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), brancos são 47%, negros 42,8% e a população negra no estado, 73,36%; na Universidade Federal da Bahia (UFBA), 50,8% são brancos, 42,6% negros e 74,95% a população negra do estado;
4- na Universidade de Brasília (UnB ), são brancos 63,74%, são negros 32,3%, tendo o Distrito Federal uma população negra de 47,98%;
5- na Universidade de São Paulo (USP), os alunos brancos somam 78,2%, os negros, 8,3% e o percentual da população negra no estado é de 27,4%.
Vê-se, assim, que o déficit produzido por essas diferenças é bastante desfavorável ao negro nos estados onde se encontram essas universidades:
* 24,33% na UFRJ,
* 11,67% na UFPR,
* 30,56% na UFMA,
* 32,35% na UFBA,
* 15,68% na UnB e
* 30,56% na UFMA,
* 32,35% na UFBA,
* 15,68% na UnB e
* 19,1% na USP.
Obs.: Perdoe-me, se me alonguei nas bobagens.
Que alívio! Ainda bem que não somos um país racista!
Imagina como esses números seriam piores se fôssemos!
Tenha um fosforescente final de semana!
LN: Você colocou argumentos a favor das cotas (bidú!). Não li (deve ser mais um analfabeto funcional do jornalismo de esgoto que pratica) nenhum (não sabe fazer continha "de mais", Nassifú?) que justificasse seu ato de intolerância para com uma pessoa (por acaso, militante negro) que pensa o contrário. (Ah, é o meu bom vergalho)
Solicito não usar o negrito no comentário. (Negrito é o que mais uso e sempre usarei, para desespero dos "ruivos", apartes meus)
Comentário final: Se não me falha a memória, foi esta minha última participação nesse portal xifrim, o qual muita gente inocente, parva e desinformada pensa se tratar de "jornalismo ético", e que me valeu a honra de exclusão, entre outros que teimava em participar.
Vale o registro que um outro medalhão, o Kagão Ricardo Coxo (tadinho, pena: é coxo) agiu de mesma e igual maneira.
Tão democráticos esses PiGmeus!