Economia: A (im)postura do BC na política monetária
Economia Aplicada
“A tragédia é que os movimentos do BC sempre foram na direção certa, mas atrasados. O mal está feito.” Assim concluia, num artigo publicado em Carta Capital – ed 538 -, o professor, economista e ex-ministro da fazenda dos governos militares, Antonio Delfim Netto, considerado como um dos magos da economia de mercado na mídia autodenominada especializada.
A propósito da Ata da 106º reunião do COPOM, pode-se ter uma idéia da assertiva do ex-ministro, acima, ao verificar o quão pesaroso é para as autoridades monetárias projetarem horizontes futuros em função de cenários passados, como observado no trecho:
Fica evidenciado, assim, que o Banco Central no afã de manter uma alta taxa de juro para fazer frente às incertezas futuras provocadas pela imprevisibilidade dos riscos inflacionários toma decisões, neste caso, defensivas ao adotar medidas de viés contracionistas e que provocam, invariavelmente, queda da renda, aumento do desemprego e desaceleração das atividades econômicas.
Constata-se, frenquentemente, ao contrapor as decisões do COPOM com os dados da economia divulgados pelo IBGE que há um abismo socioeconômico criado na realidade a partir de decisões monetárias, aparentemente, tomadas em direções corretas mas em doses homeopáticas e atrasadas. Nossos píncaros combatentes do dragão da inflação não conseguem enxergar um palmo além da linha que vai do nariz ao umbigo.
Para corroborar essa situação basta observar o comportamento do PIB brasileiro entre trimestres homólogos de anos consecutivos. A taxa de inflação média do IPCA, por exemplo, em 2004-2005 foi de 5,5%; no último trimestre de 2007, andou às voltas de 4,2%; e, no terceiro trimestre de 2008, em torno de 6,3%.
Segundo o IBGE, a partir do terceiro trimestre de 2006, o crescimento do PIB começou a acelerar e superou a média mundial. Os números mostram um avanço em 2008, provavelmente insustentável, do ponto de vista do balanço em conta corrente nas condições vigentes. Houve acúmulo de déficits desde janeiro 2009 (totalmente previsível dado o cenário criado pela crise sistêmica instalada), em razão da supervalorização cambial produzida pela política monetária autista. Havia uma pressão inflacionária com um componente externo que se manifestou quando o aumento dos preços das commodities não pôde mais ser compensado pela supervalorização cambial.
Para combater os efeitos secundários da elevação dos preços, o Banco Central iniciou, em abril de 2008 uma nova escalada do juro real, assim como em 2004. Mas, diferentemente daquele, a situação atual não se mostrava normal. Havia um grave problema: a crise financeira iniciada com as hipotecas subprime já tinha se manifestado e praticamente todos os países haviam iniciado um movimento de baixa das taxas de juro. Em julho, a supervalorização do real atingiu o ápice, dando a doce ilusão de que se controlava a taxa de inflação cortando a demanda global. Na verdade o BC ignorou e subestimou a crise financeira porque não tinha a menor ideia do que ocorria. “Trata-se apenas de um pecado venial, porque o Federal Reserve também não sabia”, ironiza Delfim Netto.
Conclusão
A bem da verdade é que a própria política econômica consagrada depois do bem-sucedido Plano Real e a expansão da economia mundial a partir de 2002, haviam dado suficiente musculatura ao nosso BC para enfrentar agressivamente o problema, tomando medidas de viés expansionistas no caso do 4º trimestre de 2008, dar conforto imediato ao assustado sistema bancário e, assim, reduzir os efeitos da crise. O Banco Central dispunha, segundo o economista Delfim Netto:
Contra todas essas atenuantes elencadas o nosso BC resolveu agir olhando o retrovisor dos três primeiros trimestres/2008 e “o mal está feito”. Começamos 2009 em uma situação muito delicada, o qual poderíamos comparar a uma partida de futebol em que iniciamos já perdendo, mas o jogo não está totalmente perdido. Restam ¾ da partida para reverter o resultado se se trabalhar com um mínimo de inteligência e um pouco de ousadia.
A propósito da Ata da 106º reunião do COPOM, pode-se ter uma idéia da assertiva do ex-ministro, acima, ao verificar o quão pesaroso é para as autoridades monetárias projetarem horizontes futuros em função de cenários passados, como observado no trecho:
- “O COPOM reitera que, no regime de metas para a inflação, orienta suas decisões de acordo com os valores projetados para a inflação futura, analisando cenários alternativos para a evolução das principais variáveis que determinam a dinâmica dos preços. A manutenção de riscos elevados para a inflação de curto prazo tende a aumentar a incerteza em relação ao comportamento futuro da inflação, dificultando tanto a avaliação de cenários por parte da autoridade monetária, quanto o processo de coordenação de expectativas dos agentes privados.”
Fica evidenciado, assim, que o Banco Central no afã de manter uma alta taxa de juro para fazer frente às incertezas futuras provocadas pela imprevisibilidade dos riscos inflacionários toma decisões, neste caso, defensivas ao adotar medidas de viés contracionistas e que provocam, invariavelmente, queda da renda, aumento do desemprego e desaceleração das atividades econômicas.
Constata-se, frenquentemente, ao contrapor as decisões do COPOM com os dados da economia divulgados pelo IBGE que há um abismo socioeconômico criado na realidade a partir de decisões monetárias, aparentemente, tomadas em direções corretas mas em doses homeopáticas e atrasadas. Nossos píncaros combatentes do dragão da inflação não conseguem enxergar um palmo além da linha que vai do nariz ao umbigo.
Para corroborar essa situação basta observar o comportamento do PIB brasileiro entre trimestres homólogos de anos consecutivos. A taxa de inflação média do IPCA, por exemplo, em 2004-2005 foi de 5,5%; no último trimestre de 2007, andou às voltas de 4,2%; e, no terceiro trimestre de 2008, em torno de 6,3%.
Segundo o IBGE, a partir do terceiro trimestre de 2006, o crescimento do PIB começou a acelerar e superou a média mundial. Os números mostram um avanço em 2008, provavelmente insustentável, do ponto de vista do balanço em conta corrente nas condições vigentes. Houve acúmulo de déficits desde janeiro 2009 (totalmente previsível dado o cenário criado pela crise sistêmica instalada), em razão da supervalorização cambial produzida pela política monetária autista. Havia uma pressão inflacionária com um componente externo que se manifestou quando o aumento dos preços das commodities não pôde mais ser compensado pela supervalorização cambial.
Para combater os efeitos secundários da elevação dos preços, o Banco Central iniciou, em abril de 2008 uma nova escalada do juro real, assim como em 2004. Mas, diferentemente daquele, a situação atual não se mostrava normal. Havia um grave problema: a crise financeira iniciada com as hipotecas subprime já tinha se manifestado e praticamente todos os países haviam iniciado um movimento de baixa das taxas de juro. Em julho, a supervalorização do real atingiu o ápice, dando a doce ilusão de que se controlava a taxa de inflação cortando a demanda global. Na verdade o BC ignorou e subestimou a crise financeira porque não tinha a menor ideia do que ocorria. “Trata-se apenas de um pecado venial, porque o Federal Reserve também não sabia”, ironiza Delfim Netto.
Conclusão
A bem da verdade é que a própria política econômica consagrada depois do bem-sucedido Plano Real e a expansão da economia mundial a partir de 2002, haviam dado suficiente musculatura ao nosso BC para enfrentar agressivamente o problema, tomando medidas de viés expansionistas no caso do 4º trimestre de 2008, dar conforto imediato ao assustado sistema bancário e, assim, reduzir os efeitos da crise. O Banco Central dispunha, segundo o economista Delfim Netto:
- Da certeza de que a taxa de inflação cairia (como caiu) em razão da redução do duvidoso excesso da demanda global.
- De uma taxa de juro real teratológica (a maior do mundo, em qualquer cenário) que poderia ser manobrada.
- De uma relação Dívida/PIB em declínio.
- De um extravagante nível de depósito compulsório.
- .De um nível de reservas da ordem de 200 bilhões de dólares, reforçado pelo swap do FED de mais 30 bilhões de dólares.
- Do compromisso do governo, que faria a política fiscal necessária para ajudar a política monetária.
Contra todas essas atenuantes elencadas o nosso BC resolveu agir olhando o retrovisor dos três primeiros trimestres/2008 e “o mal está feito”. Começamos 2009 em uma situação muito delicada, o qual poderíamos comparar a uma partida de futebol em que iniciamos já perdendo, mas o jogo não está totalmente perdido. Restam ¾ da partida para reverter o resultado se se trabalhar com um mínimo de inteligência e um pouco de ousadia.
Referências bibliográficas
1- BACEN
2- IBGE
3- Revista Carta Capital
Tato de Macedo
Trabalho individual de conclusão do curso de especialização (Extensão universitária) em Economia Aplicada, apresentado à FGV - Fundação Getúlio Vargas. São Paulo, 2009. Autorizada a reprodução desde que citada a fonte e o autor, conforme divulgação de desempenho:
Referência:
MACEDO, Tato de. A (im)postura do Banco Central na política monetária - BC 2009: O mal está feito. São Paulo. Clipping do Tato, 15 fev de 2010. Disponível em: Clipping do Tato
Trabalho individual de conclusão do curso de especialização (Extensão universitária) em Economia Aplicada, apresentado à FGV - Fundação Getúlio Vargas. São Paulo, 2009. Autorizada a reprodução desde que citada a fonte e o autor, conforme divulgação de desempenho:
Referência:
MACEDO, Tato de. A (im)postura do Banco Central na política monetária - BC 2009: O mal está feito. São Paulo. Clipping do Tato, 15 fev de 2010. Disponível em: Clipping do Tato
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