Política: Direitas e esquerdas

Colonista

Direitas corruptas, esquerdas estéreis


Por Candido Mendes

O nível grotesco da corrupção atingida por Berlusconi, na Itália, não dá trégua ao que de mais grave surge hoje do continente europeu: a paralisação das esquerdas nos sucessivos impasses, que marcaram a sua perda de poder nas últimas eleições do continente. O nível de abuso “Cavalieri” reflete a crescente impaciência destes dias, quando se dá um basta ao supermagnata da mídia, habituado a calar bocas, chegando à arrogância extrema da impunidade, por lei, à conduta sem limite dos poderosos.

O mais grave, entretanto, é o quanto a esquerda não sabe para onde apontam seus lemes diante da crise do liberalismo, para avançar no bem-estar coletivo sobre as utopias socialistas do meio século passado. Pior ainda é que a esquerda nítida na Espanha de Zapatero é a que mais acusa a crise, com a maior taxa de desemprego europeu.

Por onde podem os arraiais da mudança retomar as suas bandeiras, quando já se esgotou o potencial fiscal destes governos e se desarmaram as estruturas da prometida confederação europeia, para permitir uma mobilização coordenada dos capitais públicos, em nível continental. E a querer conservar a tônica das garantias do trabalho, as legendas de esquerda se entrecortam no saber se devem, de fato, partir para uma efetiva economia do fruir social, vencidas as metas finais da semana de 40 horas. Talvez mesmo vão os partidos socialistas apoiar o fechamento das fronteiras étnicas do continente, eliminando os novos influxos de mão de obra africana, turca ou árabe, em bem de um mercado fechado para os nacionais.

Não se apruma uma nova frente desta mais profunda tradição da modernidade que é a da repartição dos benefícios do aparelho de produção. E percebe-se o desgaste retórico do apelo à inovação, ou ao implante de vez das oportunidades do novo mercado virtual fora das defesas clássicas do direito de propriedade. Mas o ponto comum do envelhecimento alarmante dessas velhas ou novas esquerdas é o quanto estão devoradas pela ecologia e pretendem fazer da proteção ambiental o eixo de sua nova mensagem eleitora. As condições de bem-estar e de trabalho têm, para as esquerdas, uma prioridade sobre os pruridos de proteção da atmosfera, ou do aquecimento da calota polar, que não podem preferir a injustiça social às redistribuições de renda, e ao efetivo acesso da coletividade à saúde, à educação ou aos planos habitacionais.

O atraso crescente dos programas residenciais de Sarkozy demonstra como antes da crise de todas as repartidas as esquerdas de Mitterrand ou Jospin já tinham perdido o impacto mobilizatório. Inquieta, sim, e muito, a redundância entre a litania ambiental dos verdes e o tatibitate da sua reprodução pelas alas mais vivas do socialismo que, em França ou no Benelux, querem encontrar os nervos de uma pretendida sociedade em mudança. Nunca faltara à esquerda o bom germe original da utopia. Mas ela se expõe ao álibi ambiental, em inquietante boa consciência do que lhe cabe, tão-só o ventriloquismo dos verdes, num mundo que tem o dever de se dar conta da profundidade da crise e da mudança do modelo econômico de nossos dias.

Candido Mendes se diz cientista político.

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