História: Algo sobre o Crash de 1929, Bretton Woods,Tsunami e marolinhas

Crise de 1929                                                                              


A CRISE E O PERÍODO ENTRE-GUERRAS
"... as idéias dos economistas e dos filósofos políticos, tanto quando estão certos como quando estão errados, são muito mais poderosas do que normalmente se imagina. Na verdade, o mundo é governado quase que exclusivamente por elas. Homens práticos, que se julgam imunes a quaisquer influências intelectuais, geralmente são escravos de algum economista já falecido."
(John Maynard Keynes - Economista)

1º Guerra Mundial - O gérmen da potência

A guerra, inegavelmente, enriqueceu os EUA, que forneciam matérias-primas e produtos industrializados para a Europa e conquistavam também os mercados sul-americanos e asiáticos.

Sua produção industrial entre 1914 e 1918, cresceu aproximadamente 15%. A extração de petróleo passou de 513 a 685 toneladas (32%); a de ferro de 45 a 80 (76%) ; a produção de aço, de 20 a 30 (65,6%).

O excedente na balança comercial passou de 435 milhões de dólares, em 1914, a 3 bilhões e 567 milhões, em 1917. 

Ainda a Europa contraiu empréstimos que alcançaram a cifra de 10 bilhões de dólares, e em 1918 os Estados Unidos dominavam a metade do ouro mundial. Essa prosperidade se ampliou mesmo depois do Tratado de Versalhes: a Europa continuou a importar dos states, cuja produção atingia um verdadeiro "boom" em 1919.

O presidente Wilson, do Partido Democrata, estabelecera uma política interna de controles sobre a produção e sobre os benefícios da guerra, insatisfazendo os empresários. Isso favoreceu o Partido Republicano, que obteve a maioria no Congresso com as eleições de novembro de 1918 e entrou em conflito com o presidente na questão da ratificação do Tratado de Versalhes e da Liga das Nações: apesar da campanha de Wilson, os acordos não obtiveram no Senado a maioria necessária de dois terços.

Durante a guerra, com a intensa mobilização de mão-de-obra, a maior parte das empresas americanas estabeleceram a jornada de oito horas e o pagamento de altos salários, melhorando as condições de trabalho.
Após a guerra, a manutenção desas vantagens foi reivindicada pelos trabalhadores a partir do principal agrupamento sindical, a AFL (American Feredation of Labor), com 4 milhões de membros moderados, e dos IWW (Industrial Workers of the World) com tendências comunistas. No fim de 1919, inúmeras greves eclodiram.

Em consequência do crescimento econômico houve um desaquecimento do mercado, gerando profunda depressão em 1920 e 1921; a Europa não tinha condições econômicas para absorver os altos estoques americanos; com 5 milhões de desempregados, as greves se intensificaram.

Nas eleições presidenciais de 1920, Warren Harding, candidato dos republicanos, foi eleito com mais de 7 milhões de votos. Sua administração republicana ligou-se ao big business (grande empresariado), abstendo-se de qualquer intervenção no domínio econômico. Temendo a concorrência européia e japonesa na indústria e a cadadense na agricultura, o presidente elevou as tarifas protecionistas. A agitação social foi reprimida.

Em 1923, Warren Harding morreu, e o vice-presidente Calvin Coolidge foi reeleito em 1924. Em 1928, o ativo secretário de Estado Herbert Hoover foi triunfalmente eleito presidente, numa era de plena prosperidade.

A Prosperidade

De 1923 a 1929, a produção industrial dos Estados Unidos cresceu em 67%. A indústria de bens-de-consumo progrediu no mesmo ritmo: o automóvel tornou-se o símbolo do "the american way of life" (estilo de vida americano), e sua produção chegou a 5.300.000 veículos em 1929.

Não obstante, a circulação de capitais no mundo era intensa. Somas consideráveis foram investidas na Europa Central; assim reergueu-se a economia alemã.

Em 1929, os americanos haviam investido um total de 15 bilhões de dólares - dos quais um terço na Europa. Essa mobilidade de capitais possibilitava a prosperidade, mas determinava entre as economias um interdependência que poderia tornar-se perigosa caso houvesse uma crise.

A Grande Crise Econômica

Eis que no auge da prosperidade nasce a crise, em consequência da superprodução e das especulações. A crise agrícola persistia, endividando os agricultores e reduzindo sua capacidade de consumo de manufaturados. Os mercados urbanos lentamente ficavam saturados, apesar das vendas a crédito.

Os proventos realizados pelas sociedades possuidoras de ações continuaram a crescer, encorajando a especulação da Bolsa; assim, entre entre 1925 e 1929, as cotações na Wall Street tinham crescido duas vezes mais que a produção industrial - que, por sua vez, continuava sem um igual crescimento no consumo.

A quebra da bolsa de Nova de Iorque

No início de outubro de 1929, diversos índices inquietaram os banqueiros e investidores da Wall Street: as estatísticas revelavam uma baixa nos preços do ferro, do aço, do cobre e sobretudo uma queda nos benefícios industriais particularmente sensíveis, como o automóvel, considerado um dos principais indicativos da tal prosperidade americana (atividade econômica). As ordens de vendas das ações foram maciças.

Os especuladores calculavam que ainda era possível obter alguns lucros, mas a 21 de outubro a acumulação de ordens de venda fez baixar ainda mais os preços.

O Pânico se agravou no dia 24 de outubro - a "quinta-feira negra", o primeiro "crack da Wall Strett" - 16 milhões de títulos foram jogados no mercado sem haver compradores. A queda se acelerou nos dias seguintes, e no início de novembro as ações industriais haviam perdido mais de 1/3 de seu valor. O presidente Hoover não acreditava que se tratasse de uma crise durável, mas de uma simples recessão. Não era, como se mostrou tempos depois.

Uma ligeira recuperação nos negócios manifestou-se no inverno de 1929-1930; porém na primavera um agrupamento de seis bancos, o Sindicato Morgan, aproveitou a melhoria para vender seus títulos adquiridos a baixos preços em outubro, provocando novos pânicos.

A queda no mercado se manteve até 1932, atingindo mesmos os valores mais seguros: a US Steel caiu de 250 a 22; a Chrysler, de 135 a 5. Para superarem suas dificuldades, os bancos americanos cessaram de oferecer crédito aos países estrangeiros e repatriaram os capitais investidos a curto prazo.

A crise também foi responsável por incidentes sociais, sobretudo nas grandes potências econômicas. O desemprego foi considerável: em 1932, uavia mais de 30 milhões de desempregados no mundo, dos quais quase 17 milhões nos EUA, mais de 6 milhões na Alemanha e 3 milhões na Inglaterra. 

A classe média arruinou-se. A falência foi numerosa entre os comerciantes e os pequenos industriais, incapazes de concorrer com grandes empresas muitas vezes apadrinhadas pelo Estado. Em consequência, aguçaram-se os antagonismos sociais e as tensões raciais: o desemprego atingiu mais os negros que os brancos, nos Estados Unidos; na Europa Central, reapareceu o anti-semitismo, que acabou-se convertendo no tema essencial da propaganda nazista.

Salta aos olhos que os governos liberais mostravam-se absolutamente impotentes diante da crise, num momento em que os próprios produtores passavam a considerar a intervenção estatal como um supremo recurso.

Assim, o Estado foi pouco a pouco incitado a desempenhar um papel na economia. As grandes obras públicas se tornaram uma forma de eliminação de desemprego; a ajuda financeira a algumas empresas implicava poder e controle sobre elas; a regulamentação da produção, a fixação de taxas de produção e salários, requerendo a conciliação de interesses contraditórios, fizeram do Estado árbitro e organizador da economia. Desenvolvia-se lentamente uma economia mista cujo ponto máximo seria o dirigismo e a planificação.

Nasce o New Deal, assim. A nova concepção americana de capitalismo representou uma etapa importante na evolução contemporânea dos Estados Unidos.

A ingerência do governo federal nos domínios até então reservados à iniciativa privada e no jogo da livre concorrência contribuiu para deslocar o centro motor da economia da Wall Street para Washington, além de reforçar o sindicalismo.

Durante mais de 12 anos, a democracia americana personificou-se em Roosevelt, que foi reeleito em 1940.

Keynes e o fim do laissez-faire

 
John Mayard Keynes nasceu em 1883, o ano da morte de Karl Marx. Nesse momento a economia mundial vivia o tempo da Grande Depressão do século XIX e das profundas transformações da 2ª Revolução Industrial. 

Entre 1873 e 1896 o aço, a eletricidade, o motor a combustão interna, a química da soda e do cloro, alteraram radicalmente o panorama da indústria, até então marcado pelo carvão, pelo ferro e pela máquina a vapor. 

A aplicação simples da mecânica cedeu lugar à utilização e integração sistemática da ciência nos processos produtivos. Esta segunda revolução industrial veio acompanhada de um processo extraordinário de ampliação das escalas de produção.

O crescimento do volume de capital requerido pelos novos investimentos impôs novas formas de organização à empresa capitalista. 

A sociedade por ações tornou-se a forma predominante de estruturação da propriedade. Os bancos, que concentravam suas operações do financiamento do giro dos negócios, passaram a avançar recursos para novos empreendimentos (crédito de capital), e a promover a fusão entre as empresas já existentes. Pouco a pouco todos os setores industriais foram dominados por grandes empresas, sob o comando de gigantescas corporações financeiras. 

O movimento de concentração do capital produtivo e de centralização do comando capitalista tornou obsoleta a figura do empresário frugal que confundia o destino da empresa com sua própria biografia. O magnata da finança é, agora, o herói e o vilão do mundo que nasce.

Estas violentas transformações sacudiram a Inglaterra e a Alemanha, os Estados Unidos e o Japão. A Inglaterra, pioneira da indústria, foi incapaz de deter o avanço dos demais e de preservar sua supremacia econômica. Os Estados Unidos e a Alemanha ingressaram no cenário. Fizeram valer a superioridade de suas respectivas estruturas capitalistas, especialmente a agilidade de seus bancos e a presença ativa de seus respectivos Estados nacionais. 

A emergência de novas potências inaugurou um período de grande rivalidade internacional. A disputa pela preeminência econômica intensificou a penetração de capitais nas áreas provedoras de matérias primas e alimentos, alterando a configuração da chamada periferia do mundo capitalista.

O padrão ouro foi a organização monetária do apogeu da Ordem Liberal Burguesa. Isto quer dizer que ele se apresentava como a forma “adequada” de coordenação do arranjo internacional que supunha a coexistência de forças contraditórias: 

1) a hegemonia financeira inglesa, exercida através de seus bancos de depósitos e de sua moeda;
2) a exacerbação da concorrência entre a Inglaterra e as “novas” economias industriais dos trusts e da grande corporação, nascidos na Europa e nos Estados Unidos,
3) a exclusão das massas trabalhadoras do processo político (inexistência do sufrágio universal), e
4) a constituição de uma periferia “funcional”, fonte produtora de alimentos, matérias primas e, sobretudo, fronteira de expansão dos sistemas de crédito dos países centrais.

No seu célebre artigo O Fim do Laissez-Faire, John Maynard Keynes cuidou de refletir sobre as transformações que deixaram para trás os mitos do capitalismo liberal. Não por acaso, ironizou a idéia de que a busca do interesse privado levaria necessariamente ao bem estar coletivo. "Não é uma dedução correta dos princípios da teoria econômica afirmar que o egoísmo esclarecido leva sempre ao interesse público. Nem é verdade que o auto-interesse é, em geral, esclarecido."

Conservador, Keynes professava a convicção de que a sociedade e o indivíduo são produtos da tradição e da história. Cultivava os valores de uma moral comunitária. Tinha horror ao utilitarismo e à hipocrisia da Era Vitoriana. Isso não quer dizer que recusasse o programa da modernidade, empenhado no avanço das liberdades e da autonomia do indivíduo. Não acreditava, porém, que esta promessa pudesse ser cumprida numa sociedade individualista em que os possuidores de riqueza orientam obsessivamente o seu comportamento para as vantagens do ganho monetário.

Descreveu sua utopia no artigo Perspectivas Econômicas para Nossos Netos: “Estou à espera, em dias não muito remotos, da maior mudança que já ocorreu no âmbito material da vida, para os seres humanos em seu conjunto. Vejo-nos livres para voltar a alguns dos mais seguros e tradicionais princípios da religião e da virtude tradicional – de que a avareza é um vício, a usura uma contravenção, o amor ao dinheiro algo detestável.. Valorizemos novamente os fins acima dos meios e preferiremos o bem ao útil. Honraremos os que nos ensinam a passar virtuosamente e bem a hora e o dia, as pessoas agradáveis capazes de ter um prazer direto nas coisas, os lírios do campo que não mourejam nem fiam.”

O “amor ao dinheiro”, dizia, é o sentimento que move o indivíduo na economia mercantil-capitalista. Fator de progresso e de mudança social, the love of money' pode se transformar em um tormento para o homem moderno. Seus efeitos negativos precisam ser neutralizados mediante a ação jurídica e política do Estado Racional e, sobretudo, pela atuação de "corpos coletivos intermediários”; como, por exemplo, um Banco Central dedicado à gestão consciente da moeda e do crédito.

Keynes acreditava que a cura para os males do capitalismo deve "ser buscada, em parte, pelo controle da moeda e do crédito por uma instituição central e, em parte, por um acompanhamento da situação dos negócios, subsidiados por abundante produção de dados e informações".

Keynes falava "da direção inteligente pela sociedade dos mecanismos profundos que movem os negócios privados”; particularmente os processos que envolvem as decisões de investimento, ou seja, a criação de riqueza nova.

Na Teoria Geral, Keynes tratou do caráter instável do investimento privado, concebido por ele como uma vitória do espírito empreendedor sobre o medo decorrente da "incerteza e da ignorância quanto ao futuro". É a tensão não mensurável entre as expectativas a respeito da evolução dos rendimentos do novo capital produtivo e o sentimento de segurança proporcionado pelo dinheiro que vão determinar; em cada momento, o desempenho das economias de mercado. A vida do homem comum vai depender do volume de gastos que os capitalistas - detentores dos meios de produção e controladores do crédito - estarão dispostos a realizar, criando mais renda e mais emprego. O destino da sociedade é decidido na alma dos possuidores de riqueza, onde se trava a batalha entre as forças de criação de nova riqueza e o exército negro comandado pelo "amor ao dinheiro”. 

As decisões de gasto estão subordinadas às expectativas dos capitalistas - enquanto possuidores de riqueza monetária - do sistema bancário em derradeira instância - de abrir mão da liquidez, criando crédito e incorporando novos títulos de dívida à sua carteira de ativos.

Nos momentos em que o medo do futuro atropela o espírito de iniciativa, a demanda capitalista por riqueza pode se concentrar em ativos líquidos já existentes, inchando a circulação financeira e jogando para baixo os preços dos papéis (e, portanto, afetando as taxas de juros), com prejuízos para o emprego e a renda da comunidade. Esta demanda por liquidez não suscita o aumento da produção e a contratação de novos trabalhadores para satisfazê-la. Por isso, o investimento não deve ser deixado exclusivamente aos caprichos do ganho privado. Deixados à sua lógica, os mercados são incapazes de derrotar a incerteza e a ignorância.

Não é surpreendente que nos trabalhos elaborados para as reuniões que precederam as reformas de Bretton Woods, Keynes tenha tomado posições radicais em favor da administração centralizada e pública do sistema internacional de pagamentos e de criação de liquidez. Ele imaginava que o controle de capitais deveria ser "uma característica permanente da nova ordem econômica mundial".

Uma instituição supranacional-um banco central dos bancos centrais - seria encarregada de executar a gestão "consciente" das necessidades de liquidez do comércio internacional e dos problemas de ajustamento de balanço de pagamentos entre países, superavitários e deficitários. Keynes pretendia evitar os métodos de ajustamento recessivos e assimétricos impostos aos países deficitários e devedores por um sistema internacional em que os problemas de liquidez ou de solvência dependem da busca da "confiança" dos mercados de capitais.

As instituições multilaterais de Bretton Woods - o Banco Mundial e o FMI - nasceram com poderes de regulação inferiores aos desejados inicialmente por Keynes e Dexter White respectivamente representantes da Inglaterra e dos Estados Unidos nas negociações do acordo, que se desenvolveram basicamente, entre 1942 e 1944. Harry Dexter White pertenceu à chamada ala esquerda dos New Dealers e foi por isso, depois da guerra, investigado duramente pelo Comitê de Atividades Anti-Americanas do Congresso. Seu plano inicial previa a constituição de um verdadeiro Banco Internacional e de um Fundo de Estabilização. Juntos o Banco e o Fundo deteriam uma capacidade ampliada de provimento de liquidez ao comércio entre os países-membros e seriam mais flexíveis na determinação das condições de ajustamento dos déficits do balanço de pagamentos. Isso assustou o establishiment americano. Uns porque entendiam que estes poderes limitavam seriamente o raio de manobra da política econômica nacional americana. Outros porque temiam a tendência "inflacionária" desses mecanismos de liquidez e de ajustamento.


Keynes propôs a Clearing Union, uma espécie de Banco Central dos bancos centrais. A Clearing Union emitiria uma moeda bancária, o bancor, ao qual estariam referidas as moedas nacionais. Os déficits e superávits dos países corresponderiam a reduções e aumentos das contas dos bancos centrais (em bancor) junto à Clearing Union. Uma peculiaridade do Plano Keynes era a distribuição mais eqüitativa do ônus do ajustamento dos desequilíbrios dos balanços de pagamentos entre deficitários e superavitários. Isto significava, na verdade, dentro das condicionalidades estabelecidas, facilitar o crédito aos países deficitários e penalizar os países superavitários. O propósito de Keynes era evitar os ajustamentos deflacionários e manter as economias na trajetória do pleno-emprego. A proposta também sofreu sérias restrições dos Estados Unidos, país que emergiu da segunda guerra como credor do resto do mundo e superavitário em suas relações comerciais com os demais. 

O enfraquecimento do Fundo, em relação às idéias originais, significou a entrega das funções de regulação de liquidez e de emprestador de última instância ao Federal Reserve. O sistema monetário e de Bretton Woods foi menos "internacionalista" do que desejariam os que sonhavam com uma verdadeira ordem econômica mundial.

Sobre Keynes e os keynesianos

John Maynard Keynes é considerado por muitos analistas o maior economista do século XX. Descendente de uma família de classe média alta, teve educação apurada, graduando-se economia no Trinity College, na tradicional Universidade de Cambridge. 

Conviveu com pessoas de destaque no cenário cultural da Inglaterra, pertencendo ao conhecido grupo de Bloomsbury, do qual fizeram parte, entre outros, o filósofo G. E. Moore, o crítico e biógrafo Lytton Strachey, o romancista Morgan Forster, além dos casais Clive e Vanessa Bell, e Leonard e Virginia Woolf.   

Como representante do Tesouro, integrou a delegação inglesa na Conferência de Paz de Versalhes, realizada ao final da Primeira Grande Guerra. 

Discordando, porém, dos rumos que as discussões estavam tomando, abandonou a delegação e voltou à Inglaterra antes do encerramento da Conferência. Escreveu, então, As conseqüências econômicas da paz, alertando para os problemas que adviriam se as retaliações que estavam sendo cogitadas na Conferência de Paz fossem realmente impostas aos países derrotados. 

A confirmação das terríveis previsões de Keynes com as hiperinflações da Alemanha, da Hungria, da Áustria e da Polônia na primeira parte da década de 1920 serviu não apenas para demonstrar a correção de sua análise, mas também para recuperar sua imagem pública, abalada com a decisão de abandonar a delegação diplomática de seu país.
 
Em termos de contribuição à teoria econômica, sua consagração veio com a publicação, em 1936, de A teoria geral do emprego, do juro e do dinheiro. Embora tenha uma sólida formação matemática, Keynes conseguiu escrever um livro extremamente acessível, sem fazer uso do farto conhecimento que possuía de métodos quantitativos. Com isso, A teoria geral (nome com o qual o livro normalmente é mencionado) tornou-se um livro de leitura razoavelmente acessível, que acabou se transformando em bibliografia obrigatória dos cursos de economia em todo o mundo.
 
Impossível, num artigo desta natureza, falar sobre toda a contribuição de Keynes para a teoria econômica. Entre as mais relevantes, porém, encontram-se: 
  • a) a crítica à teoria do laissez-faire, laissez-passer, até então amplamente dominante, segundo a qual a economia tende naturalmente ao equilíbrio, sem necessidade de intervenção governamental; 
  • b) a defesa de um papel mais significativo para os instrumentos de política fiscal na definição e execução das políticas econômicas, até então fortemente dominadas pelos instrumentos de política monetária e cambial; 
  • c) a intransigente busca do pleno emprego como objetivo fundamental da política econômica; 
  • d) a valorização da contabilidade nacional, que passa a ser vista como elemento essencial para a análise e formulação de políticas econômicas; 
  • e) a teoria do multiplicador.
 
A influência de suas idéias - consideradas por muita gente como a base da recuperação da economia capitalista, vigorosamente abalada pela Grande Depressão (tratada em post anterior sobre o entre-guerras) - foi tão ampla que se tornou comum o emprego da expressão consenso keynesiano, em razão da proliferação de políticas econômicas inspiradas em suas idéias nas décadas de 40, 50, 60 e 70 do século recém encerrado. Os pilares básicos desse consenso keynesiano, segundo Eduardo Giannetti da Fonseca, são os seguintes:
 
  • "1º) Defesa da economia mista, com forte participação de empresas estatais na oferta de bens e serviços e a crescente regulamentação das atividades do setor privado por meio da intervenção governamental nos diversos mercados particulares da economia; 
  • 2º) Montagem e ampliação do Estado do Bem-Estar (Welfare State), garantindo transferências de renda extramercado para grupos específicos da sociedade (idosos, inválidos, crianças, pobres, desempregados etc.) e buscando promover alguma espécie de justiça distributiva; 
  • 3º) Política macroeconômica ativa de manipulação da demanda agregada, inspirada na teoria keynesiana e voltada, acima de tudo, para a manutenção do pleno emprego no curto prazo, mesmo que ao custo de alguma inflação". 

Como na economia nada dura para sempre, a década dos 80 foi testemunha do fim da euforia e início de uma época de duras críticas às políticas econômicas de inspiração keynesiana. Uma das razões disso residiu na proliferação de exemplos de países onde conviveram, por períodos prolongados, alta inflação e alto desemprego, o que levou ao questionamento da Curva de Philips, um dos mais badalados recursos teóricos criados pelos economistas keynesianos e que possuía, como uma de suas premissas, a idéia de que inflação e desemprego eram fenômenos excludentes. 

Outro motivo do desencantamento com as políticas keynesianas foi o elevado custo de manutenção do Estado do Bem-Estar, o que obrigou o governo de diversos países a elevar a níveis estratosféricos as respectivas cargas tributárias. 

E não se pode esquecer, também, o tamanho e os excessos cometidos por governos que, sob o pretexto de estarem agindo em busca dos interesses maiores do Estado, acabaram cometendo uma série enorme de desmandos, misturando completamente os interesses de Estado com os interesses do governo (qualquer semelhança com a realidade brasileira atual não é mera coincidência). O gigantismo, vale registrar, verificou-se muitas vezes nas duas formas básicas de intervenção: a estadista (o Estado assume atribuições produtivas) e a dirigista (o Estado assume atribuições regulatórias). 

Diante disso, não me parece difícil compreender as razões pelas quais teve início nos anos 80 um refortalecimento das idéias das políticas econômicas de cunho liberal, cujos maiores indicadores foram as políticas de privatização e de desregulamentação da economia, e que tiveram como maiores exemplos os governos de Ronald Reagan, nos Estados Unidos, e de Margaret Thatcher, na Inglaterra, e mais recentemente o executor Alan Greenspan do FED.
 
A disseminação dessas políticas, rotuladas de neoliberais, foi uma das características mais marcantes da década dos 90, e que culminou no colapso sistêmico de 2008.

Como disse Keynes: "as idéias dos economistas e dos filósofos políticos, tanto quando estão certos como quando estão errados, são muito mais poderosas do que normalmente se imagina. Na verdade, o mundo é governado quase que exclusivamente por elas. 

Homens práticos, que se julgam imunes a quaisquer influências intelectuais, geralmente são escravos de algum economista já falecido."

Pense nisso. 
  

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