Economia: Areia nas rodas da finança mundial
Paulo Nogueira Batista Jr.:
Areia nas rodas da finança mundial
O leitor não se surpreenderá ao saber que apoio a decisão de aplicar um IOF sobre a entrada de certos capitais estrangeiros no país. Não é de hoje que venho defendendo obstinadamente, e contra a maioria dos economistas, o uso seletivo de controles de capitais. No governo FHC, cheguei a terminar algumas colunas com o apelo patético (em caixa alta): pelo amor de Deus e da Santíssima Trindade, controlem os fluxos de capital!
Por Paulo Nogueira Batista Jr., no jornal Foia da Chuiça
Tive que esperar muito. Mesmo no governo Lula, durante o primeiro mandato, persistiu a tendência de liberalização nessa área. Só muito recentemente é que o governo brasileiro finalmente mudou a sua orientação. Talvez a medida de segunda- -feira possa ser aperfeiçoada ou parcialmente revista à luz da experiência prática, mas o fundamental é que o governo resolveu agir.
Como dizia James Tobin, é preciso colocar areia nas rodas da finança mundial. Desestimular o ingresso de capitais especulativos ou de curto prazo é uma medida de prudência, altamente recomendável neste mundo em que a turma da bufunfa tem um potencial destrutivo incomparável, como estamos vendo na crise financeira de 2008/9. Os bufunfeiros nacionais e internacionais já estão fazendo barulho, às vezes com argumentos um pouco ridículos (por exemplo, "não se pode mexer nas regras do jogo"). Mas a credibilidade dessa turma saiu um tanto abalada das turbulências recentes e não acredito que o governo vá se impressionar com as reclamações.
O IOF de 2% não atinge os investimentos diretos estrangeiros e não afetará muito os investimentos de portfólio que tenham horizonte mais longo. O alvo são os movimentos especulativos de capital que provocam valorização excessiva da moeda nacional e podem gerar grande turbulência quando acontecer a reversão da fase de forte expansão da liquidez em dólares no mercado internacional.
O enfraquecimento do dólar é, como se sabe, um movimento mundial, que reflete os problemas da economia dos EUA e a acentuada ampliação da oferta de dólares patrocinada pelo Federal Reserve. Por outro lado, não se pode negar que há fatores especificamente brasileiros.
Os pontos fortes da economia e da política econômica atraem capital estrangeiro em grande escala, pressionando o real para cima. A isso se acrescentam os juros altos do Banco Central. Apesar das reduções recentes, a taxa real brasileira ainda é cerca de quatro vezes maior do que a média das taxas nos principais países, segundo levantamento da Uptrend Consultoria Econômica.
Para que o controle de capitais tenha mais chance de sucesso, seria conveniente combiná-lo com outras medidas. Por exemplo, continuar acumulando reservas internacionais de forma a absorver eventuais excessos de oferta de moeda estrangeira no mercado. Além disso, praticar juros mais moderados, um pouco mais em linha com os praticados pelos principais bancos centrais.
Como dizia James Tobin, é preciso colocar areia nas rodas da finança mundial. Desestimular o ingresso de capitais especulativos ou de curto prazo é uma medida de prudência, altamente recomendável neste mundo em que a turma da bufunfa tem um potencial destrutivo incomparável, como estamos vendo na crise financeira de 2008/9. Os bufunfeiros nacionais e internacionais já estão fazendo barulho, às vezes com argumentos um pouco ridículos (por exemplo, "não se pode mexer nas regras do jogo"). Mas a credibilidade dessa turma saiu um tanto abalada das turbulências recentes e não acredito que o governo vá se impressionar com as reclamações.
O IOF de 2% não atinge os investimentos diretos estrangeiros e não afetará muito os investimentos de portfólio que tenham horizonte mais longo. O alvo são os movimentos especulativos de capital que provocam valorização excessiva da moeda nacional e podem gerar grande turbulência quando acontecer a reversão da fase de forte expansão da liquidez em dólares no mercado internacional.
O enfraquecimento do dólar é, como se sabe, um movimento mundial, que reflete os problemas da economia dos EUA e a acentuada ampliação da oferta de dólares patrocinada pelo Federal Reserve. Por outro lado, não se pode negar que há fatores especificamente brasileiros.
Os pontos fortes da economia e da política econômica atraem capital estrangeiro em grande escala, pressionando o real para cima. A isso se acrescentam os juros altos do Banco Central. Apesar das reduções recentes, a taxa real brasileira ainda é cerca de quatro vezes maior do que a média das taxas nos principais países, segundo levantamento da Uptrend Consultoria Econômica.
Para que o controle de capitais tenha mais chance de sucesso, seria conveniente combiná-lo com outras medidas. Por exemplo, continuar acumulando reservas internacionais de forma a absorver eventuais excessos de oferta de moeda estrangeira no mercado. Além disso, praticar juros mais moderados, um pouco mais em linha com os praticados pelos principais bancos centrais.
É claro que o BC não deve subordinar a política monetária à taxa de câmbio. As circunstâncias da economia podem recomendar a manutenção de um elevado diferencial de juros em relação ao exterior. Contudo, a menos que haja uma ameaça palpável de inflação, o BC não deveria ampliar a diferença entre os juros nacionais e os do resto do mundo.
Em tese, restrições à entrada de capitais de curto prazo são uma forma de conciliar juros altos, necessários por motivos domésticos, com alguma estabilidade do câmbio real.
Mas, nas condições atuais do Brasil, é bem possível que exista espaço para abrandar a política monetária.
Em tese, restrições à entrada de capitais de curto prazo são uma forma de conciliar juros altos, necessários por motivos domésticos, com alguma estabilidade do câmbio real.
Mas, nas condições atuais do Brasil, é bem possível que exista espaço para abrandar a política monetária.
*Diretor-executivo no FMI, onde representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago), mas expressa seus pontos de vista em caráter pessoal.
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