Novela de Ali: Negro eu?
Ahh...É verdade: Sobre O dito Machado e o corta-cotas
AO LEITOR
"Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte e, quando muito, dez. Dez? Talvez cinco.
Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser.
Obra de finado.
Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião."
Fato é que (...)
O VERGALHO
"Tais eram as reflexões que eu vinha fazendo, por aquele Valongo fora, logo depois de ver e ajustar a casa. Interrompeu-mas um ajuntamento; era um preto que vergalhava outro na praça.O outro não se atrevia a fugir; gemia somente estas únicas palavras:
— “Não, perdão, meu senhor; meu senhor, perdão!”
Mas o primeiro não fazia caso, e, a cada súplica, respondia com uma vergalhada nova.
— Toma, diabo! dizia ele; toma mais perdão, bêbado!
— Meu senhor! gemia o outro.
— Cala a boca, besta! replicava o vergalho.
Parei, olhei... Justos céus! Quem havia de ser o do vergalho? Nada menos que o meu moleque Prudêncio, — o que meu pai libertara alguns anos antes.
Cheguei-me; ele deteve-se logo e pediu-me a bênção; perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele.
— É, sim, nhonhô.
— Fez-te alguma coisa?
— É um vadio e um bêbado muito grande. Ainda hoje deixei ele na quitanda, enquanto eu ia lá embaixo na cidade, e ele deixou a quitanda para ir na venda beber.
— Está bom, perdoa-lhe, disse eu.
— Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pede. Entra para casa, bêbado!
Saí do grupo, que me olhava espantado e cochichava as suas conjeturas. Segui caminho, a desfiar uma infinidade de reflexões, que sinto haver inteiramente perdido; aliás, seria matéria para um bom capítulo, e talvez alegre. Eu gosto dos capítulos alegres; é o meu fraco.
Exteriormente, era torvo o episódio do Valongo; mas só exteriormente. Logo que meti mais dentro a faca do raciocínio achei-lhe um miolo gaiato, fino, e até profundo. Era um modo que o
Prudêncio tinha de se desfazer das pancadas recebidas, — transmitindo-as a outro.
Eu, em criança, montava-o, punha-lhe um freio na boca, e desancava-o sem compaixão; ele gemia e sofria.
Agora, porém, que era livre, dispunha de si mesmo, dos braços, das pernas, podia trabalhar, folgar, dormir, desagrilhoado da antiga condição, agora é que ele se desbancava: comprou um escravo, e ia-lhe pagando, com alto juro, as quantias que de mim recebera.
Vejam as sutilezas do maroto!"
In Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis
Comentários:
E de vergalhos em vergalhos,
de Alis Kaméis em Alis Kaméis,
de Robertos Gabrieis dos Santos em Robertos Gabriéis dos Santos,
de Vicentões em Vicentões,
de Márcias Reginas Bernardes em Márcias Reginas Bernardes,
de Nassifús em Nassifús,
de Koschos em coxos,
de Ermitões em ermitões,
de Joões em Jãos,
de canalhas em canalhices atrozes,
há quinhentos anos as portas do racismo estão escancaradas,
mas há que negá-las, peremptoriamente,
para que não se ouse mudar nada,
para que tudo permaneça exatamente assim, como está.
de Alis Kaméis em Alis Kaméis,
de Robertos Gabrieis dos Santos em Robertos Gabriéis dos Santos,
de Vicentões em Vicentões,
de Márcias Reginas Bernardes em Márcias Reginas Bernardes,
de Nassifús em Nassifús,
de Koschos em coxos,
de Ermitões em ermitões,
de Joões em Jãos,
de canalhas em canalhices atrozes,
há quinhentos anos as portas do racismo estão escancaradas,
mas há que negá-las, peremptoriamente,
para que não se ouse mudar nada,
para que tudo permaneça exatamente assim, como está.
E quem são eles? Os canalhas. Dizei deles, Mestre Walter Franco:
E o que eles querem? O óbvio, mais um "pretinho na FEBEM"! Dizei a eles Mano Brown:
E o que eles querem? O óbvio, mais um "pretinho na FEBEM"! Dizei a eles Mano Brown:
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