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Fala Professor

Cafetinagem AcadêmicaPor Ari de Abreu

Até o início do Governo FHC a carreira de professor universitário era muito diferente do que é atualmente. Até então não existiam grandes exigências quanto à qualificação e “produtividade” do profissional docente. Assim, o ex-ministro Paulo Renato de Sousa introduziu várias novidades, das quais três merecem destaque:
  1. Maior facilidade para criação de novos cursos,
  2. Exigência de pós-graduação (mestrado e doutorado) e
  3. Publicações.

A primeira exigência resultou na abertura de muitas faculdades privadas, em quantidade maior que a demanda. Além de esses cursos servirem para formar desempregados de nível superior, essa falta de demanda acabou implicando o subsídio a essas faculdades de qualidade duvidosa por meio do PROUNI. (comentaremos este tema oportunamente)

A segunda medida gerou uma enorme corrida aos cursos de mestrado e doutorado. Esses cursos, que no passado serviam mais para elevar o ego que qualquer outra coisa, passaram a ter um valor econômico. Esse valor decorre do fato deles serem a porta de entrada para uma carreira profissional, a do magistério em nível superior. Mas, esse também, não é o foco deste post e será comentado com mais calma no futuro.

A terceira medida aparentemente é boa, mas então vejamos. Um professor que publica, em tese, está atualizado com as últimas novidades da ciência. Isso é verdade para as chamadas ciências puras (física, matemática, sociologia, e outras). Entretanto, isso não é muito verdade para as chamadas ciências aplicadas e tecnológicas (Direito, Administração, Jornalismo, Engenharia, e outras). Nessas áreas de conhecimento a pessoa atualizada deve estar envolvida com o mercado e ter experiência profissional. O fato de um pesquisador se trancar em uma sala e copiar um monte de trechos de livros, chamando-os de “citações” está muito longe de qualifica-lo para lecionar. Da mesma forma que a titulação, as publicações, se muito, podem tentar avaliar a capacidade de pesquisa de um profissional, jamais avaliando seu conhecimento ou capacidade didática.Entretanto, poderia existir um lado mais nefasto nessa história que eu chamaria de “cafetinagem acadêmica”. Para inflar sua quantidade de publicações os docentes poderiam usar de artifícios nada éticos. Vejamos alguns:

A 'troca de chumbo' seria uma estratégia na qual pessoas passam a figurar como co-autoras em trabalhos que nunca chegaram a ler. Assim, um docente escreveria um artigo e colocando o nome de um colega como co-autor. Posteriormente, o colega retribuiria o favor. Essa estratégia poderia envolver um número grande de pesquisadores, criando redes difíceis de rastrear. Isso poderia explicar o motivo de tantas publicações contarem com 3, 4, 5 ou mais autores. Apenas para lembrar: O Código Penal prevê que a reunião de três ou mais pessoas para cometer um crime implica formação de quadrilha ou bando.

Outro artifício seria o “requentamento”, ou a publicação de um mesmo trabalho várias vezes. Fazer-se-ia uma pequena funilaria, trocando a introdução e a conclusão (talvez a única parte que seja lida), mudando um ou dois dados, trocando algumas palavras e, eventualmente, o nome de alguns autores para não dar bandeira.

Poderia existir a “cafetinagem” propriamente dita. Por esse método o docente, principalmente de pós-graduação, condicionaria a aprovação de um estudante à publicação de um artigo no qual ele constaria como co-autor. Também, poderia ocorrer de coordenadores de cursos monopolizarem os bons alunos (que poderiam publicar por ele (ou “com ele”), privando seus desafetos desse recurso.

Finalmente, a avaliação de publicações é feita pelo sistema “blind review”, no qual o avaliador, em tese, não sabe o nome dos autores. Entretanto, um bom avaliador pode conhecer a linha de pensamento da maioria dos autores de sua área de conhecimento. Além disso, pesquisando no google algumas frases do trabalho em análise o avaliador poderia facilmente ser levado à outros trabalhos do mesmo autor. Ou seja, o “blind review” pode ser um sistema bastante falho. Conhecendo o autor, seu trabalho poderia ser banido ou por antipatia pessoal ou por rivalidade entre universidades.

Em certa ocasião eu mandei um artigo que concluía que o sistema tributário favorece as contratações pelas grandes empresas, em oposição ao que ocorre com as pequenas para o ENAMPAD. O trabalho apareceu na listagem como aprovado, mas meia hora depois foi retirado da listagem. Como resposta, recebi uma mensagem dizendo que o trabalho estava ótimo, mas “não adequado para aquele congresso”. Ou seja, ou fui censurado por criticar favorecimento às grandes empresas, ou alguém sabotou meu trabalho. (fico com sua primeira suspeição, professor - parêntese meu)

Em outra ocasião propus um tema de trabalho a um estudante. Como ele gostava de ser cafetinado, apesar de insistentes pedidos ele só me mostrou o trabalho à véspera da apresentação do mesmo para o Congresso USP de Contabilidade. O trabalho poderia ser melhorado, se não tivesse ocorrido essa rebeldia do aluno, mas apesar do tema ser bom acabou por ser rejeitado. Curiosamente, no ano seguinte o coordenador do Congresso apresentou o mesmo tema em sua publicação.

Assim, essa estrutura de avaliação, mostra-se totalmente inadequada para avaliar um docente. Primeiro por não avaliar a capacidade profissional, a experiência e o conhecimento, limitando-se a tentar avaliar a capacidade de pesquisa. E, segundo, por estar sujeita a fraudes e manipulações.

Ari de Abreu -
Professor Doutor da Universidade de São Paulo, Revisor de periódico da UNB Contábil. Autor do livro Fundamentos de Contabilidade utilizando o Excel, no ano de 2006, pela editora Saraiva.

Comentário: A percepeção do professor é bastante pertinente. Diria até que existe correspondentes bem próximos dentro do "modus operandi" demotucanalha, instalado cá por terras "chuiças", a exemplo do que se verifica, recorrentemente, com um certo ex-banco estadual. São tão éticos, tão competentes, tão...

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