Mídia: Economês ainda afugenta brasileiro do noticiário econômico
que vigorou durante os anos da ditadura militar,
quando a censura sobre a política era enorme,
abrindo espaço para a cobertura de outras áreas."
(Suely Caldas)
Por Rita Arruda | |
15 de Novembro de 2006 |
O maior problema do jornalismo econômico continua o economês
A conclusão é da dupla Mariana Zafalon e Guilherme Conte, estudantes de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, de São Paulo, que recentemente realizou uma pesquisa acadêmica junto a editores de economia dos principais jornais e emissoras de TV do país sobre o assunto.
“Algumas matérias são absolutamente impenetráveis, áridas, onde são despejadas siglas, termos estrangeiros e expressões inacessíveis aos não-iniciados”, dizem eles, que tomaram o depoimento de jornalistas de veículos como Valor Econômico, Pequenas Empresas & Grandes Negócios, Rádio CBN e O Estado de S. Paulo.
Dentre os entrevistados, Mariana e Guilherme ouviram Suely Caldas, diretora da sucursal carioca do jornal O Estado de S. Paulo, autora do livro Jornalismo Econômico (Editora Contexto, 2003), para quem o “economês”, no Brasil, é filho do “milagre econômico” que vigorou durante os anos da ditadura militar, quando a censura sobre a política era enorme, abrindo espaço para a cobertura de outras áreas.
Didatismo
Segundo Sérgio Malbergie, editor de economia do jornal Folha de S. Paulo, “a Folha tem como uma de suas prioridades didatizar ao máximo o noticiário. Na área econômica, essa necessidade é ainda maior, porque o leitor médio tem pouca familiaridade com o jargão econômico”.
Por esta razão, diz Sérgio, “usamos gráficos e exemplos práticos para tentar explicar melhor o noticiário. Mas reconheço que temos muito a melhorar nesse aspecto. Sempre enfrentamos o dilema de dar mais espaço para o didatismo ou para o noticiário quente”
Sobre o “economês”, jargão econômico usado por jornalistas, Sérgio é de opinião que “ele existe assim como existe o “futebolês”, jargões no noticiário de artes e espetáculos, no noticiário internacional. Na economia, por ser mais técnica e complexa, ele acaba se destacando mais. Mas é um problema, creio, de todas as áreas”, conclui.
Mito
Raul Pilati, editor de economia do Correio Braziliense, também acredita que cada editoria tem seu jargão próprio, mas existe mesmo o mito segundo o qual o noticiário econômico é mais dificilmente assimilável. Ele acredita, ainda, que o leitor que se interessa por economia acaba se familiarizando com o linguajar típico da área e assimilando melhor os assuntos ali tratados. “Na média, o leitor comum entende bem o caderno econômico”, diz ele.
Raul diz existir sim a preocupação, por parte do Correio, de simplificar as matérias da editoria de economia, na medida do possível, mas existem fatores como tempo e espaço, reservado aos textos no jornal, que por vezes impossibilitam este tipo de tratamento “mastigado” do texto, diariamente. “Estamos sempre tendo que optar entre veicular mais informações ou demorar um pouco mais tentando explicar conceitos”, explica ele.
Treinamento
No início do ano, por iniciativa de seu presidente, Synésio Batista da Costa, o COFECON contratou um jornalista especializado na área de consultoria para ministrar aos presidentes dos Conselhos Regionais de Economia um treinamento em mídia (media traning) objetivando não apenas facilitar o trato dos conselheiros com a imprensa – quando de eventuais entrevistas – mas também conscientizá-los da necessidade de “descomplicar” o uso do jargão econômico.
Ele reconhece que em muitos casos os economistas se valem mesmo de jargões. Por outro lado, também acredita que os jornalistas não devem apenas repetir como papagaios o que lhes é dito; precisam perguntar mais, argumentar e traduzir a informação para o público.
Missão
Ricardo A. Setti, colunista do site NoMínimo, é um crítico ferrenho da linguagem complicada e aponta dois grandes problemas. “O primeiro é que jornalista, de uma forma geral, escreve para a fonte, e não para o leitor. Muitas vezes, de maneira inconsciente”.
A outra razão do uso do economês, para Ricardo, é que o emprego de uma linguagem empolada, hermética, reveste o jornalista de uma aura de autoridade, sapiência e poder. Escrever “difícil” denotaria conhecimento.
Na opinião da maioria dos entrevistados ouvidos pela Assessoria de Imprensa do COFECON para esta matéria, o jornalismo não pode falhar no esclarecimento, sob pena de perder uma de suas principais funções: informar e questionar seu público.
* Procuradas pala Assessoria de Imprensa do COFECON, as redes de TV Bandeirantes, Globo, Record e SBT optaram por não se manifestar sobre o assunto, até o fechamento desta matéria
* Com informações de Mariana Zafalon e Guilherme Conte da Faculdade Cásper Líbero
*Rita de Cássia Arruda - Assessora de Imprensa do COFECON
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