Mercado: Bovespa deve subir 24%, diz Merril Lynch
Deu no Valor Econômico 27/07/2009 |
Por Ãngelo Pavani |
A bolsa brasileira é a melhor opção entre os países da América Latina, com um potencial de ganho de 24% nos próximos 12 meses, usando como critério os principais papéis negociados na Bovespa e que fazem parte do índice internacional MSCI. A avaliação é de Pedro Martins, estrategista de ações para América Latina da Banc of America Securities-Merrill Lynch. Segundo ele, condições macroeconômicas mais favoráveis que outros emergentes e ações ainda baratas devem chamar a atenção dos investidores estrangeiros para o país à medida que a economia mundial também melhora. Martins é otimista com relação à recuperação da economia mundial, mas traça um cenário mais modesto para as empresas, que devem demorar dois anos para voltar aos níveis de receita de 2008. "Falta consumidor nos países do G3, e isso cria no mundo uma elevada capacidade ociosa em bens duráveis", diz. Com capacidade de produção sobrando nas indústrias do mundo, os preços das commodities também não terão a força que tiveram em 2008, o que é ruim para o Brasil. Há exceções, como o petróleo, onde há restrições na ampliação da oferta. Já minério de ferro e aço devem sofrer por algum tempo. Martins observa, porém, que no Brasil as siderúrgicas voltadas para o mercado interno, que deve se recuperar mais depressa, vão se sair melhor. É o caso de aços planos para geladeiras ou carros. Com relação aos setores com maior potencial, Martins coloca os grandes bancos, favorecidos pelo crescimento do crédito e a retomada da economia. Empresas de consumo não durável como bebidas e supermercados também serão beneficiadas pelo mercado interno. Setores que são parceiros dos programas do governo, como as construtoras voltadas para a baixa renda e empresas ligadas à infraestrutura, como geradoras de energia, saem ganhando. E também empresas boas pagadoras de dividendos, por causa do juro menor. Martins cita ainda setores de educação e saúde, que têm potencial pelo crescimento da população. A sobra de capacidade tem o lado positivo de adiar a necessidade de novos investimentos no mundo e no Brasil, avalia Martins. No caso da economia brasileira, a necessidade de investimentos só deve voltar em fins de 2010. Isso reduzirá a pressão sobre a inflação pois, mesmo que o consumo volte a crescer, ele será atendido por essa capacidade ociosa. E sem inflação o juro pode continuar baixo, reduzindo o custo de rolagem da dívida pública e permitindo ao governo gastar mais nos programas de incentivo à economia. Martins trabalha com juros de 8,75% no ano que vem. O que vem de lá Lá fora, porém, a economia não ajudará muito. A Merrill Lynch trabalha com uma queda do PIB de 2% para os EUA e de 4,4% para a Europa neste ano. No ano que vem, a economia americana se recupera, crescendo 2,6%, enquanto os europeus avançarão 1,2%. A falta de demanda externa deve ser compensada pelo consumo do governo, explica o analista. Por isso, os setores que irão bem serão aqueles que se tornarem sócios do governo. "O investidor tem de buscar áreas onde o governo vai gastar", diz. Entram nessa lista a construção de baixa renda pelos efeitos do programa Minha Casa, Minha Vida. Juntos vêm os fabricantes de subprodutos para a construção civil, como aços longos. Gastos ou Investimentos? Outros dois fatores devem aumentar os gastos (ou investimentos) do governo em infraestrutura: a eleição de 2010 e a Copa do Mundo de 2014. "Aos gastos tradicionais com as eleições se somam aos de trens de alta velocidade, aeroportos e estádios", lembra. Com a economia do Brasil acelerando, o preço da energia, que despencou na crise, também voltará a subir, beneficiando as geradoras. A favor Um outro ponto a favor do Brasil é que o país se tornou especial, em parte graças à China. "A China prestou um grande favor ao Brasil, e não pela questão de consumir commodities, mas pelo seu modelo de recuperação econômica", diz. Segundo Martins, o exemplo da China fez com que os investidores internacionais procurassem países menos expostos à economia mundial, ou mais "insulares", ou seja, com mercados internos fortes e baixa dependência de exportações. "E o Brasil se destaca, pois suas exportações e importações representam apenas 22% do PIB", diz Martins. "Quando a economia mundial voltar a crescer, isso vai ser ruim, mas neste momento o investidor valoriza isso", explica. Dívida Pública Outro fator positivo é a baixa alavancagem do Brasil. A dívida pública em relação ao PIB é de 40%, o que dá espaço para o governo se endividar mais para incentivar a economia. A alavancagem líquida das empresas também é baixa, em torno de 50% do valor patrimonial das empresas e a relação crédito/PIB no país também é baixa, de 40% do PIB, sendo apenas 18% de consumidores. "Isso quer dizer que o consumidor brasileiro vai levar alguns trimestres para acertar seu fluxo de caixa depois da crise, o que nos EUA vai levar alguns anos", diz. Otimismo Com tudo isso, Martins está otimista com o país. A projeção da Merrill Lynch para o crescimento brasileiro deste ano é de 0,5%, chegando a 4,5% para 2010, acima das estimativas do mercado de 3,5%. |
Fonte: Valor Econômico
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