Carta Capital: Mino Carta veste Prada e janta em Londres

Mino experimenta as "delícias" do mundo pequeno burguês

"Pretende-se, hoje, mostrar-se diferente daquilo que foi, ontem, para se constatar que a elite nativa vive na praia, de costas para o Brasil"
(Tato de Macedo)

Editorial Mino Carta

Pois o acima assinado teve a oportunidade de se haver com uma espuminha, ou gosminha que seja, inspirada pelo chef catalão Ferran Adrià, criador da chamada cozinha molecular. O meu jantar deu-se em Londres, em restaurante pluriestrelado, ao preço de 200 euros por pessoa, incluído o consumo de um tinto português de calibre médio, quer dizer, nem Pera Manca, nem Barca Velha. Franceses e outros exigiriam empréstimo bancário.

Entrada: lasanha de caranguejo, excitada por caldo de lagostins e café, a preciosa rubiácea. Percebi também a presença de leite, ou nata, e perguntei se não faltaria pão com manteiga e geleia. A interpretação da lasanha pareceu-me peculiar, mais lembrava massa de babá, aquela criação de Brillat-Savarin, embora salgada e sem rum. Quanto ao caranguejo, procurei-o em vão.

Prato de resistência: pequenas postas de peixe grelhado, com acompanhamento de gosmas sortidas. Não consegui dar cabo dos dois pratos, a despeito da boa vontade. Brutal, de todo modo, o efeito do dia seguinte. Desconfio que entre os condimentos figurasse também o fatídico Tamarine.

Adrià, o inspirador, dono do restaurante El Bulli procurado pelos fiéis das espuminhas como a Caaba pelos muçulmanos, é considerado por exércitos de gastrônomos e críticos culinários como o maior cozinheiro de todos os tempos. Inútil acrescentar que o chef catalão ganha dinheiro a rodo, inclusive por meio da venda de produtos do seu laboratório, destinados a quem deseja seguir-lhe as pegadas. Em abril passado o jornalista alemão Jörg Zipprich denunciou sem meios-termos o mundo da cozinha molecular, a empregar de 20% a 40% de aditivos químicos para obter pratos extravagantes. E poupar matéria-prima.

Max Laudadio, titular de um programa da tevê italiana, entrevista Adrià dia 21 de abril, e o alquimista nega que a textura (esta a palavra colhida da boca do entrevistado), base da sua escola gastronômica, seja mais química do que o sal e o açúcar. Consta que o petróleo também é químico sem que alguém se prontifique a bebê-lo.

Comenta Rocco Iannone, tido como purista da cozinha: “Adrià, e o inglês Heston Blumenthal, são financiados por pessoas e por uma imprensa interessadas em burlar paladares, cair na moda e fomentar o turismo de luxo”. Um dos seguidores da doutrina de Adrià, o italiano Ettore Bocchia, confessa ter analisado a “textura”: atirou-a ao lixo por temer efeitos tóxicos. “A cozinha molecular”, diz Bocchia, “é o estudo dos alimentos e sua transformação, mas sem recorrer a qualquer produto químico”.

A polêmica prossegue e Max Ladadio recolhe depoimentos desfavoráveis a Adrià de grandes chefs franceses, italianos, bem como de outro importante cozinheiro espanhol, Santi Santamaría. Resultado: produtos do El Bulli são apreendidos em numerosos restaurantes dispostos a cair na esparrela. E na moda.

Eis aí, a moda. Nada impede que haja degustadores para as espuminhas. Entende-se, no entanto, que os sabores naturais sejam os mais consoantes ao paladar humano. Por que transformar os alimentos? Que uma alcachofra seja uma alcachofra e um camarão, um camarão. Quando a razão está em xeque, confusões e equívocos multiplicam-se e o homem perde o senso.
(...)

Leia na íntegra em: http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=10&i=4424

Comentário: O menu de degustação (veja um pouco do que já foi servido) é surpresa, e inclui cerca de 32 pratos com preço único (média $230 sem vinhos).

Alguns pratos do cardápio de 2008:
Algodão Doce com Flores, Biscoitos de Tomate (com consistência de batata chips), Brioche de Xangai Frito, Risoto Tailandês de Grapefruit (sem arroz), e Orelhas de Coelho Crocantes.

O felizardo que conseguir sua vaga no El Bulli, seja lá em qual ano, usufruirá de uma experiência única, onde os 5 sentidos entram em cena.

E você, encarara uma reserva no El Bulli?

Assista abaixo, parte do programa de Anthony Bourdain sobre o El Bulli de Ferran Adrià, considerado por muitos, o cozinheiro minimalista (!!)



É de dar água na boca, não?

Comentários

Benê disse…
mino carta = elite envergonhada

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