Honduras: Fidel pede para que não se negocie com golpistas
(Alexandre Belém - fotojornalista)
HAVANA (Reuters) - O ex-presidente de Cuba Fidel Castro pediu que não se negocie com os militares que derrubaram com um golpe de Estado o presidente esquerdista de Honduras, Manuel Zelaya e exigiu a renúncia deles.
Em um texto publicado por volta da meia-noite de domingo na página oficial da internet cubadebate.cu, Castro recomendou não ceder nenhum milímetro ante os militares e setores da oposição que apoiaram o golpe contra Zelaya para abortar seus planos de buscar a reeleição.
"Com esse alto comando golpista não se pode negociar, é preciso exigir sua renúncia e que outros oficiais mais jovens e não comprometidos com a oligarquia ocupem o comando militar, ou não haverá jamais um governo 'do povo, pelo povo, para o povo' em Honduras", escreveu.
"Os golpistas, encurralados e isolados, não têm salvação possível se se enfrenta com firmeza o problema", acrescentou.
Castro, 82 anos, está distanciado do poder desde que ficou doente há quase três anos.
O governo que preside seu irmão Raúl Castro condenou no domingo o golpe contra Zelaya, qualificando-o de brutal.
"A época das ditaduras militares na América Latina já passou", havia dito mais cedo o chanceler cubano Bruno Rodríguez.
Fidel Castro recorda em seu texto que os golpistas não contam com o respaldo dos Estados Unidos, que apoiou muitos golpes de Estado na América Central durante a guerra fria.
Zelaya foi levado à força para a Costa Rica, após ter sido sacado da residência presidencial por militares.
Os golpistas rechaçam seus planos de tentar a reeleição, cujo apoio popular o presidente pretendia medir mediante um frustrado referendo programado para domingo.
Fonte: Reuters (Reportagem de Esteban Israel)
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Zelaya descarta 2º mandato, mas reafirma plano de mudar Constituição
"Eu volto à vida civil, à vida cidadã, não à política", afirmou Zelaya na entrevista coletiva que concedeu após discursar na Assembleia Geral da ONU.
O presidente deposto destacou que a legislação hondurenha proíbe a reeleição presidencial e que qualquer reforma constitucional beneficiaria os próximos governantes.
Ressaltou ainda que, quando o mandato acabar, retomará a vida de empresário agrícola que deixou após ser eleito em novembro de 2005.
"Em Honduras não há reeleição. Não há nenhuma possibilidade, sob nenhum conceito", insistiu.
Zelaya também reafirmou a intenção de voltar a Tegucigalpa na quinta-feira para "tentar dialogar" com os golpistas que o derrubaram no domingo.
O presidente deposto declarou que, nessa viagem, será acompanhado pelos presidentes da Argentina, Cristina Kichner, e do Equador, Rafael Correa, e também pelo secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, e o atual presidente da Assembleia Geral da ONU, Miguel D'Escoto.
"Não posso ficar fora do país com o que está acontecendo", afirmou Zelaya, que disse não temer a reação das autoridades militares com sua chegada a Honduras.
O novo Governo de Honduras reafirmou hoje que o presidente deposto violou a Constituição e as leis, por isso será preso se retornar ao país e condenado a até 20 anos de prisão.
"Quem me protegerá? O sangue de Cristo e minhas convicções", respondeu Zelaya à pergunta feita pela imprensa.
O governante deportado disse ainda estar convencido de que os mesmos militares que o detiveram e o mandaram para a Costa Rica com o apoio de outros órgãos estatais permitirão sua entrada no país para que retome suas funções.
"Eu acho que as Forças Armadas de Honduras vão se retificar", afirmou, acrescentando que a condenação internacional ao golpe militar facilitará seu retorno ao poder.
Um dos objetivos de Zelaya depois que voltar para Tegucigalpa é ouvir a opinião do povo hondurenho sobre mudanças na legislação que permitam a criação de mecanismos de consulta permanentes aos eleitores.
"O que queremos instaurar é um processo de participação cidadã, e é a isso ao que se opõem", disse.
O chefe de Estado deposto reafirmou a legalidade da consulta popular que provocou a crise em Honduras.
"Se cometi algo ilegal, que me levem a julgamento, que permitam me defender. O que não podem fazer é romper a ordem constitucional", destacou.
Zelaya pediu a seus seguidores em Honduras que expressem sua oposição ao golpe militar com paralisações, manifestações pacíficas e outros métodos de desobediência civil não violentos.
No discurso na Assembleia Geral da ONU, disse que a elite hondurenha tirou-o do poder porque pretendia introduzir mudanças que reduziriam as desigualdades sociais.
"Fui acusado de ser um populista, de ser um comunista que quer arruinar o país. Mas em Honduras há muitas injustiças oriundas da desigualdade", afirmou.
Antes do discurso de Zelaya, os 192 países da Assembleia aprovaram por unanimidade uma resolução que, além de condenar o golpe militar, pede a "imediata e incondicional" restituição do político como presidente "legítimo e constitucional" de Honduras.
"Esta resolução expressa a indignação do povo de Honduras e do resto da comunidade internacional", disse o governante derrubado.
Após o discurso na Assembleia Geral, Zelaya foi para Washington, onde participa de uma sessão extraordinária da OEA.
Fonte: Agência EFE
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