A relação "natural" da Pobreza x Riqueza
"É mais fácil um elefante passar num buraco da agulha, que um rico entrar no reino dos céus" (Jeovah's God)
As análises feitas com relação às desigualdades sociais no Brasil, em sua maioria, quando não apresentam um grave déficit explicativo refletem uma verdadeira "cegueira social". Os maiores problemas encontrados são:
- a naturalização/insensibilidade: as desigualdades são coisas naturais, cada um tem o destino que merece, etc.
- apenas o pólo "pobreza" é considerado, o pólo "riqueza" é ocultado: os "ricos" possuem direitos adquiridos, preservem-se os privilégios e desenvolva-se o assistencialismo (as chamadas "políticas sociais") e expanda-se o chamado Terceiro Setor (através da "praga" das ONGs e entidades assistenciais) ou ainda espera-se o "milagre" de que tudo será resolvido com a retomada do crescimento econômico, etc.
- há o reconhecimento dos dois pólos porém entendidos como realidades autônomas: a existência da pobreza não tem nenhuma relação com a da riqueza ou vice-versa, pois muitos ex-miseráveis que trabalharam bastante (ou foram "espertos") conseguiram ficar ricos.
Diante desses problemas, poderíamos fazer algumas indagações:
- a naturalização/insensibilidade: as desigualdades são coisas naturais, cada um tem o destino que merece, etc.
- apenas o pólo "pobreza" é considerado, o pólo "riqueza" é ocultado: os "ricos" possuem direitos adquiridos, preservem-se os privilégios e desenvolva-se o assistencialismo (as chamadas "políticas sociais") e expanda-se o chamado Terceiro Setor (através da "praga" das ONGs e entidades assistenciais) ou ainda espera-se o "milagre" de que tudo será resolvido com a retomada do crescimento econômico, etc.
- há o reconhecimento dos dois pólos porém entendidos como realidades autônomas: a existência da pobreza não tem nenhuma relação com a da riqueza ou vice-versa, pois muitos ex-miseráveis que trabalharam bastante (ou foram "espertos") conseguiram ficar ricos.
Diante desses problemas, poderíamos fazer algumas indagações:
- Como poderia ser "natural" um número de 95 milhões de pobres em 2004 (52% da população) recebendo 20% da renda e de 25 milhões de miseráveis ou indigentes (13% da população) recebendo apenas 1% da renda?
- E, do outro lado, os "muito ricos" (1% da população) possuindo 14% da renda e os "ricos" (9% da população ou 16 milhões de pessoas) possuindo 37% da renda?
- Como não considerar o pólo "riqueza" onde 5 mil famílias "muito ricas" têm como patrimônio valor correspondente a 40% de toda a riqueza gerada anualmente?
- Onde 90 mil brasileiros possuem acima de U$ 1 milhão de ativos financeiros?
- Onde 11% dos aposentados e pensionistas recebem 53% do valor total pago pelo INSS?
- E onde 1% da população mais rica recebe mais do que 50% da população mais pobre, possui 63% das terras agriculturáveis no país e possui 67% dos ativos financeiros (aplicações em títulos, câmbio, commodities, etc.)?
- Como não relacionar os dois pólos num contexto em que 50% dos trabalhadores recebem menos de 2 salários mínimos mensais e mais de 5 milhões de trabalhadores não recebem remuneração de espécie alguma?
- Quem lucra com a exploração do trabalho?
Portanto, para se "enxergar" corretamente as dimensões da pobreza e da riqueza no Brasil é necessário penetrar na "relação oculta" existente entre as "ilhas maravilhosas da riqueza" e os "mares revoltos da pobreza", procurando analisar e entender os mecanismos (re)produtores de tanta desigualdade. Um bom começo, na minha opinião, seria estudar historicamente a nossa hegemonia política oscilando sempre entre autoritarismo/paternalismo/populismo - juntamente com a "visão" de propriedade privada como algo "sagrado", "intocável" - e a importância ou necessidade da manutenção das desigualdades nesse contexto.
Fontes: dados do DIEESE, IBGE, FGV, USP e do livro "A herança e a ruptura" de Reinaldo Gonçalves.
(*) Esse texto foi escrito em 2005, quando ainda estava cursando a faculdade de Ciências Sociais/UFPEL. É claro que ele está um pouco defasado. Ultimamente estão aparecendo muitas estatísticas que apontam para uma redução das desigualdades, porém uma redução muito tímida... O fato é que, de lá para cá, não se alterou em muito a "dimensão" dos números apresentados nesse texto. É evidente que os "muito ricos" ainda continuam ficando cada vez mais ricos. No entanto, para as inúmeras pessoas que saíram da miséria total e da indigência aconteceu uma mudança significativa, que aponta para o começo de uma nova vida... com um mínimo de esperança e dignidade! Como disse o Delfim Netto (conselheiro econômico do governo): "Lula está salvando o capitalismo"...
Por Ângelo Flaviano Gonçalves Lisboa - Arroio Grande, RS
Comentários: Perguntas que já trazem as respostas ao serem enunciadas. Ao texto do garoto faria apenas uma correção: não há uma relação oculta entre riqueza e pobreza; há, isto sim, comprovadamente, uma relação manifesta de causa e efeito.
Comentários
Abraços e obrigado pela postagem do texto no site!
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Feliz 2010 para você e família!