A relação "natural" da Pobreza x Riqueza
"É mais fácil um elefante passar num buraco da agulha, que um rico entrar no reino dos céus" (Jeovah's God)

- a naturalização/insensibilidade: as desigualdades são coisas naturais, cada um tem o destino que merece, etc.
- apenas o pólo "pobreza" é considerado, o pólo "riqueza" é ocultado: os "ricos" possuem direitos adquiridos, preservem-se os privilégios e desenvolva-se o assistencialismo (as chamadas "políticas sociais") e expanda-se o chamado Terceiro Setor (através da "praga" das ONGs e entidades assistenciais) ou ainda espera-se o "milagre" de que tudo será resolvido com a retomada do crescimento econômico, etc.
- há o reconhecimento dos dois pólos porém entendidos como realidades autônomas: a existência da pobreza não tem nenhuma relação com a da riqueza ou vice-versa, pois muitos ex-miseráveis que trabalharam bastante (ou foram "espertos") conseguiram ficar ricos.
Diante desses problemas, poderíamos fazer algumas indagações:
- Como poderia ser "natural" um número de 95 milhões de pobres em 2004 (52% da população) recebendo 20% da renda e de 25 milhões de miseráveis ou indigentes (13% da população) recebendo apenas 1% da renda?
- E, do outro lado, os "muito ricos" (1% da população) possuindo 14% da renda e os "ricos" (9% da população ou 16 milhões de pessoas) possuindo 37% da renda?
- Como não considerar o pólo "riqueza" onde 5 mil famílias "muito ricas" têm como patrimônio valor correspondente a 40% de toda a riqueza gerada anualmente?
- Onde 90 mil brasileiros possuem acima de U$ 1 milhão de ativos financeiros?
- Onde 11% dos aposentados e pensionistas recebem 53% do valor total pago pelo INSS?
- E onde 1% da população mais rica recebe mais do que 50% da população mais pobre, possui 63% das terras agriculturáveis no país e possui 67% dos ativos financeiros (aplicações em títulos, câmbio, commodities, etc.)?
- Como não relacionar os dois pólos num contexto em que 50% dos trabalhadores recebem menos de 2 salários mínimos mensais e mais de 5 milhões de trabalhadores não recebem remuneração de espécie alguma?
- Quem lucra com a exploração do trabalho?
Portanto, para se "enxergar" corretamente as dimensões da pobreza e da riqueza no Brasil é necessário penetrar na "relação oculta" existente entre as "ilhas maravilhosas da riqueza" e os "mares revoltos da pobreza", procurando analisar e entender os mecanismos (re)produtores de tanta desigualdade. Um bom começo, na minha opinião, seria estudar historicamente a nossa hegemonia política oscilando sempre entre autoritarismo/paternalismo/populismo - juntamente com a "visão" de propriedade privada como algo "sagrado", "intocável" - e a importância ou necessidade da manutenção das desigualdades nesse contexto.
Fontes: dados do DIEESE, IBGE, FGV, USP e do livro "A herança e a ruptura" de Reinaldo Gonçalves.
(*) Esse texto foi escrito em 2005, quando ainda estava cursando a faculdade de Ciências Sociais/UFPEL. É claro que ele está um pouco defasado. Ultimamente estão aparecendo muitas estatísticas que apontam para uma redução das desigualdades, porém uma redução muito tímida... O fato é que, de lá para cá, não se alterou em muito a "dimensão" dos números apresentados nesse texto. É evidente que os "muito ricos" ainda continuam ficando cada vez mais ricos. No entanto, para as inúmeras pessoas que saíram da miséria total e da indigência aconteceu uma mudança significativa, que aponta para o começo de uma nova vida... com um mínimo de esperança e dignidade! Como disse o Delfim Netto (conselheiro econômico do governo): "Lula está salvando o capitalismo"...
Por Ângelo Flaviano Gonçalves Lisboa - Arroio Grande, RS
Comentários: Perguntas que já trazem as respostas ao serem enunciadas. Ao texto do garoto faria apenas uma correção: não há uma relação oculta entre riqueza e pobreza; há, isto sim, comprovadamente, uma relação manifesta de causa e efeito.
Comentários
Abraços e obrigado pela postagem do texto no site!
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Feliz 2010 para você e família!