Moda: Figurinos para o pacto

Estilo - por Nirlando Beirão

COM QUE ROUPA EU VOU ?

Está em curso, em Brasília, a Republican Fashion Week. É para durar mais de uma semana, mas a coisa já nasceu assim mesmo, mais para traição do que para tradução.

Pelo que entendeu a columa ela propõe que os modismos político-partidários sejam trancafiados no guarda-roupa em prol de uma fatiota-padrão com a qual os Três Poderes da República farão menção de evolui na passarela, daqui até a eleição de 2010, sem tropeçar na passadeira vermelha, no salto agulha e, em determinados casos, em seu próprio ego.

O tal Pacto Republicano destina-se, é o que se diz, a disciplinar, primeiro, a ação da polícia e da Justiça. Depois, a estabelecer uma etiqueta civilizada para os que mandam no País - e que se sempre mandaram.

Ao flagrar ilustres criaturas - o presidente Lula, o ministro Tarso Genro, o senador José Sarney, o deputado Michel Temer e o jurista (?) Gilmar Dantas, digo, Gilmar Mendes - tão empenhadas em participar do gala cívico na fila do gargarejo (nos bastidores, alguém avistou o esquivo ex-ministro José Dirceu), este Estilo propõe uns tantos modelitos para vestir os sans-culottes do Cerrado em seu minueto republicano. Vamos lá:

1 - Lula:
É o cara, um bailarino sapeca. Vai levando todo mundo na contradança, dois pra cá, dois pra lá. Avalizou o Pacto Republicano, aquele acordo firmado entre os que querem evitar que a polícia policie e que bandidos engravatados (colarinho branco) sigam para a cadeia. Lula é um designer tão dotado que é capaz de desenhar no vazio e, assim, terá seu merecido lugar nesta Republican Fashion Week, que pretende incluir Brasília, de vez, no mapa das miçangas e do balangandãs.

2 - José Dirceu:
O conspirador conspira tanto, mas tanto, que suas conspirações, de tão óbvias, não dão em nada. Este figurino que Alphonse Mucha fez para a Medéia de Sarah Bernhardt lhe cai como uma luva nas suas reiteradas caminhadas pela sombra - inclusive neste estpetáculo neorrepublicano no qual José Dirceu, operando no escuro, tem tantos interesses. Qualquer fashion week com José Dirceu terá a predominância daquele vermelho à moda de Lady Macbeth.

3 - Gilmar Dantas (segundo noblá-blá-blá):
O Napoleão do Supremo Tribunal anda, de fato, meio encalacrado nas areias movediças de sua monstruosa ambição e de seu monumental exibicionismo. Vinte séculos, ou mais, contemplam manobras manjadíssimas que, agora encadernadas em nova encenação patriótica, o tal Pacto Republicano, só visam uma coisa: o poder. O Egito que o ministro Gilmar busca é a chapa presidencial de José Serra. Da outra vez, José Serra tinha Rita Camata em sua companhia. Dá para entender o sarcasmo das pirâmides.

4 - José Sarney:
O ex-presidente da República preside agora o Senado sem o jaquetão preto de outrora, mas não é que tenha conseguido com isso atualizar sua vestimenta - perdoem a repetição - republicana. Sarney enverga o figurino de um coronel muito arcaico e de um patriarca terrivelmente mandão. Seu apetite é invejável De quatro em quatro anos, chega a apresentar certa desordem hormonal, tal a fome que vai à mesa - e à sobremesa.


5 - Tarso Genro:
O ministro da Justiça vai à passarela na versão estilizada de A Valsa dos Toreadores, de Jean Anouilh (no traço de Saul Steinberg para a Broadway). Homem da fronteira, Genro se tem em conta de um domador de miuras, mas, quando a besta-fera surge, ele consegue ser no máximo um picador: sobe no cavalo e ese protege, à moda de São Jorge, de lança em punho. A acompanhante que se vê aí deve ser aquela gaúcha lá, tal o ar de incredulidade dela.

6 - Dep Marcelo Itagiba:
Esse aí fez e faz o impossível, numa certa CPI dos Grampos (sem áudio), para vestir o uniforme da primeira divisão. No entanto, por mais que tente, continua a ser mera figuração no desfile dos que de fato manda. O dep. Marcelo Itagiba (para quem não o conhece, e são muitos: PMDN-RJ) é uma espécie de Sherlock de si mesmo, caricatura de investigador que só investiga aqueles que investigam os apaniguados dele.


7 - Dep Mich
el Temer:
Trafega na maciota, esgueirando-se pela parede, quase sussurrando, pisada discreta, vai só no sapatinho enquanto percorre os camarins do circo político de Brasília. As pessoas elogiam sua elegância natural (sic!), mas o fato é que o presidente da Câmara tem um dragão dentro dele disposto a soltar fogo quando se trata de obter as benesses da República. Está sempre - como nesta ilustração - ganhando na loteria do poder. É simples: Michel Temer ganha porque joga.

8 - Protógenes Queiroz:
Este é um dos vários Elvis Presley que Andy Warhol pintou. O ínclito delegado Protógenes Queiroz tem, sim, vocação pop, mas nem sempre o mesmo jogo de cintura de The Pelvis. E olhem que Protógenes é obrigado a rebolar para neutralizar o chorus line dos queridinhos do banqueiro bandido, e condenado, Daniel Dantas. Deve ter ficado lisonjeado ao ver a orquestra imperial ensaiar a partitura do tal Pacto Republicano só para acertar contas com o atrevimento de um delegadozinho do andar de baixo.


9 - Daniel Dantas & STF:
Todo trambiqueiro tem grande apreço por si mesmo - e uma confiança infinita em seu poder de tapear os patetas, corromper os corruptíveis e seduzir os seduzíveis. Às vezes, dá certo. Moça faceira, o STF, por exemplo, caiu na conversa. Daniel Dantas acha-se o máximo, mas, na coreografia de um pacto feito para que, ao final, o vilão acabe mocinho, e vice-versa, o figurino, este aí, que cabe a ele vem direto da Commedia Dell'Arte. Com muita comédia e pouca arte.
(Texto extraído da coluna Estilo - CartaCapital - Ed 543 - com figuras ilustrativas selecionadas pelo Clipping do Tato)

Comentário: Faltou o 10º...


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