Michael Moore na TV Cultura

A TV Cultura, num ato de ousadia, exibe hoje (10/02/09), o documentário Fahrenheidt 11'9 do polêmico diretor Michael Moore

Todo o trabalho de Moore, desde os seus livros aos filmes, é profundamente interventivo e crítico de algum sector da sociedade norte-americana. Mas nunca o cineasta tinha ido tão longe como agora. Fahrenheit 9/11 é como que um prolongamento do seu discurso de aceitação do óscar. Nessa altura Moore avisou o presidente norte-americano de que o seu tempo estava a acabar e este filme tem como objectivo principal concretizar essa ameaça. Nunca um filme teve um prazo de validade tão óbvio, Fahrenheit 9/11 deve ser visto antes das próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos (em Novembro), para fazer sentido. Por isso, o seu lançamento em DVD está já agendado para 5 de Outubro e deverá continuar a senda de sucesso que o filme alcançou nas salas de cinema, ao ser o primeiro documentário a ultrapassar os 100 milhões de dólares em receita de bilheteira.

Com um tema tão sensível, não é de estranhar que as polémicas se tenham sucedido, desde os problemas em assegurar a distribuição do filme até à sua classificação para adultos. No entanto tudo isto apenas contribuiu para o sucesso do documentário.

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Mas, polémicas à parte, o que encontramos em Fahrenheit 9/11 é um filme profundamente satírico à imagem do que Moore já nos habituou. A diferença aqui é o facto de o realizador aparecer muito menos no ecrã do que em Bowling for Columbine, por exemplo. A "estrela" aqui é Bush e é nele e na sua família que se centram os ataques de Moore, como as ligações à família Bin Laden. É pena que Moore não se fique pelo que efectivamente pode provar e coloque pensamentos na cabeça de Bush na cena da escola primária. Bush já provou que não precisa que ponham palavras (ou pensamentos) na sua boca, para se ridicularizar.

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Para além disso Moore manipula os factos a seu gosto (não o esconde) para melhor passar a sua mensagem e para os mais informados esse facto é de lamentar e enfraquece a sua tese, oferecendo argumentos aos seus detractores. O exemplo mais gritante é quando enumera os membros da coligação que invadiu o Iraque, ridicularizando os países pequenos e omitindo o Reino Unido e a Espanha. O facto destes países pertencerem à coligação não impede que os EUA estivessem dispostos a avançar sozinhos e que tenham tido o maior papel na invasão. Assim, para os mais informados fica a ideia de que Moore os está a tentar enganar. Mas a verdade é qué é tipicamente americano menosprezar ou ignorar os outros e para a maioria dos norte-americanos a quem o filme se dirige isso pode passar despercebido.

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Esse é para mim outro dos pontos fracos do filme, pelo menos para nós europeus. As conclusões apresentadas podem surpreender os americanos, mas a verdade é que para o europeu mais informado já não são novidade, até porque o controlo dos meios de comunicação social a propósito da guerra não foi tão apertado aqui como nos EUA.

Como pontos fortes, destaque para a leitura do Acto Patriótico por Moore, ou o recrutamento para os Marines. Vale a pena realçar também as tentativas de Moore em convencer os Congressistas a alistarem os seus filhos no exército. No entanto desagradou-me (como me desagrada nalguns órgãos de comunicação social) a exploração do drama de uma mãe que perdeu o seu filho no Iraque.

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Em resumo Fahrenheit 9/11 tem o objectivo muito claro e faz muito mais sentido visto do outro lado do Atlântico, mas cinematográficamente falando está longe de apresentar os méritos necessários à obtenção da Palma de Ouro que alcançou em Cannes. Para mim não é sequer o melhor filme de Micheal Moore.

Fonte: Take 2

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