Em tempos de crise, nós podemos ?

O Senador Barack Obama acabou de ser eleito o 44º presidente dos Estados Unidos. Isso é um feito histórico. Ele é o primeiro norte-americano afro-descendente a chegar a essa posição, o que infundiu um justificado senso de orgulho não somente entre negros, mas em todo o país. Há apenas 51 anos, era necessário chamar a Guarda Nacional para auxiliar na integração da Escola
Secundária Central em Little Rock, Arkansas. Hoje, temos um presidente negro.

Mas sua vitória representou mais do que isso. Ele também energizou e motivou os jovens a participar ativamente na campanha presidencial. Eles votaram em maior número do que em outras eleições e predominantemente a favor de Obama. Finalmente, sua campanha foi conscientemente moderna e utilizou a internet como nunca havia sido feito anteriormente. Consequentemente, conseguiu obter contribuições financeiras maiores do que os demais rivais, e gastou muito mais do que seu oponente republicano, o senador John McCain.

Obama entrou na campanha sem um conhecimento profundo sobre relações exteriores, e sem experiência pessoal de América Latina. Ele nunca visitou a região. Respondendo de forma clara ao apoio que recebeu dos sindicatos, fez poucos comentários, tanto no período das primárias quanto no da eleição final, exceto ao expressar preocupações com acordos de livre comércio. A questão das relações exteriores foi colocada em segundo plano nos últimos meses à medida que a situação financeira e econômica piorava e já se transformava em séria recessão. Este foi o tema fundamental na escolha do novo presidente para a grande maioria dos eleitores.

Não obstante, há uma razão muito boa para se acreditar que sua presidência oferece uma oportunidade para se ter relações melhores e mais próximas dentro da região, particularmente com o Brasil.

A crise financeira e o declínio econômico, que ele confrontará como sua primeira prioridade, tornaram-se internacionais. Os Estados Unidos, bem como a Europa e o Japão, já foram afetados. As instituições financeiras dessas regiões solicitaram intervenção federal para evitar um agravamento do congelamento de crédito e da ausência de empréstimos. As taxas de juro vêm sendo reduzidas e grandes quantidades de dinheiro vêm sendo disponibilizadas para lidar com o
subprime e outros mercados.

Este declínio na atividade econômica e menor crescimento do comércio repercutiram nos países em desenvolvimento, que também tiveram as suas previsões preliminares de crescimento para 2009 continuamente reduzidas. Os preços das commodities despencaram, inclusive os de produtos alimentícios, metais e petróleo. Os níveis atuais retornaram ao anteriores ao recente boom econômico.

Ocorreram também cortes nas taxas de juro em muitos desses países, e a China e outros anunciaram novos programas de apoio para sustentar sua expansão interna. Alguns países em desenvolvimento, incluindo a Coréia do Sul, Cingapura, México e Brasil, receberam permissão especial para realizar grandes empréstimos do Federal Reserve Bank dos Estados Unidos.

Fonte: Revista Nova Bolsa - Out/Dez 2008
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O mundo espera mais

Da Redação CartaCapital

Barack Obama ficou devendo. Sem conseguir impor sua vontade no Congresso, o novo presidente teve de assistir a mudanças que desfiguraram parte do programa de recuperação econômica. Os recursos destinados à redução de impostos, investimentos em infraestrutura e recuperação de empregos somarão 789,5 bilhões de dólares, ante os mais de 800 bilhões de dólares previstos em versões anteriores na Câmara e no Senado.

Acuado pelos congressistas, o governo abriu mão de pontos relevantes. Foi cortado à metade um programa de assistência às combalidas finanças dos estados. Também o crédito tributário a cada família foi reduzido de mil para 800 dólares.

Paul Krugman ficou irritado com o pacote menor. “Deveríamos estar negociando entre 1,3 trilhão e 1,4 trilhão de dólares. Para ele, é uma panaceia e não uma solução para a maior crise financeira desde a Grande Depressão. As medidas teriam se concentrado na redução dos impostos e seriam fracas em termos de estímulo aos gastos.

O inquieto colunista foi além

Escreveu que os congressistas cederam a lobbies, uma vez que os cortes foram feitos na renda das famílias e nas finanças dos estados e não em obras cobiçadas por poderosos grupos empresariais.

O consultor editorial de CartaCapital, Luiz Gonzaga Belluzzo, compartilha dessa inquietação. Em sua análise, ele argumenta que o caminho trilhado pelo governo para sanear a banca corre o risco de ser malsucedido, além de eventualmente acarretar prejuízos. “As dívidas e os ativos dos bancos são de difícil, se não impossível, precificação”, afirma na coluna ContraCorrente.

No mesmo dia do acordo, oito executivos de instituições financeiras foram à Câmara justificar como gastaram os 165 bilhões de dólares do Programa de Alívio de Ativos Problemáticos (Tarp), liberados no fim de 2008. Foram fortemente acuados pelos deputados, pois há um sentimento de revolta na sociedade americana, pelo fato de o grosso do dinheiro ter sido destinado a mordomias e bônus bilionários e não à reativação do crédito.

Os banqueiros ensaiaram um mea-culpa. Lloyd Blankfein, do Goldman Sachs, reconheceu a percepção da opinião pública e soltou esta: “Às vezes, com razão, a sociedade considera que Wall Street perdeu de vista suas amplas obrigações públicas”.

Tradução: “Enfiamos o pé na jaca”.

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