Uma Ciência Inconveniente
Wilhelm Reich nasceu em 24 de março de 1897, na Galícia – na época, Império Austro Húngaro. Como todo judeu, teve que escolher entre medicina ou direito. Foi educado em casa até os 13 anos, quando a mãe suicidou-se (por não agüentar o peso de o pequeno Reich ter dito a seu pai que a viu trocando carícias com seu preceptor – fato que, suspeitam alguns estudiosos, o focou no estudo da sexualidade humana). Três anos depois, perdeu o pai. Em seguida, durante a Primeira Guerra Mundial, teve a casa invadida pelo exército russo. Depois, alistou-se no exército austríaco, chegando ao posto de tenente.
Aos 23 anos já era membro da Sociedade Psicanalítica de Viena; embora ainda fosse estudante de medicina (formou-se em 1922), recebeu autorização de Freud para tratar dos pacientes que procuravam a instituição. De 1924 a 1930, foi indicado por Freud para ser o coordenador dos Seminários da Teoria da Técnica Psicanalítica (mais conhecido como “Seminários Técnicos de Viena”), no qual se discutiam problemas práticos de tratamento psicanalítico, os “furos” da técnica; três dos seus ensaios foram incluídos num volume intitulado "The Psychoanalytic Reader" que ainda hoje é leitura recomendada nos institutos psicanalíticos.
A sua trajetória de vida apresenta contrastes extraordinários. Embora possua reputação como cientista íntegro, foi difamado publicamente como charlatão. Seu trabalho produtivo abrangeu um período de quarenta anos por seis países. E até hoje é alvo de polêmica em cada campo que abordou.
Em Viena, Freud o considerou um clínico brilhante (Freud, e outros analistas, encaminhavam para Reich os clientes considerados difíceis de serem tratados), contudo foi excluído da Sociedade Psicanalítica quando suas opiniões se tornaram bastantes radicais do ponto de vista social. Especialmente quando afirmou que a pulsão de morte não era inerente mas adquirida, quando contestou a universalidade do complexo de Édipo (baseado no povo de Trobrianda) e criticou a “saúde” do mecanismo de defesa sublimação.
Em Berlim, simpático aos ideais marxistas, foi um lutador no movimento contra o fascismo; os comunistas, entretanto, destruíram suas obras em virtude de sua preocupação com a psicologia mais profunda. Hitler pôs sua cabeça a prêmio. Fugindo no nazismo e da caça aos judeus foi morar e trabalhar na Escandinávia.
Em Oslo (Noruega), fundou uma nova escola de terapia psicossomática, mas a imprensa o acusou de "judeu pornográfico”.
Na França, seu trabalho de cunho biológico foi confirmado pela Universidade de Nice e aceito para publicação pela Académie des Sciences; contudo, foi forçado a emigrar em conseqüência da campanha de um jornal maldoso, da Noruega, que afirmou serem os seus resultados tão fantásticos que deveriam ser falsos.
Em 1939 aceita um convite do Dr. Theodore P.Wolf (que era o porta-voz da Sociedade Americana de Medicina Psicanalítica) e muda-se para os Estados Unidos onde leciona no New School for Social Research, de New York (até 1942). Muda-se para o Maine e instala seu laboratório (Orgone Institute), centro de seus trabalhos e pesquisas. Repensa a sua obra escrita anteriormente e escreve inúmeros trabalhos sobre orgonomia. Seus discípulos decidem transformar o Instituto em "Wilhelm Reich Foundation" em Rangeley, no estado do Maine.
Na América, descobriu uma radiação cósmica na atmosfera (a energia vital – orgone – a mesma energia que os chineses chamam “chi” e o japoneses “ki”, e a dimensão objetiva e palpável da libido freudiana). Einstein – que foi proibido pelo governo de trocar correspondência com Reich - confirmou duas de suas descobertas e disse que seria uma grande surpresa para a Física se as descobertas de Reich fossem verdadeiras. Trinta doutores aplicavam a nova forma de tratamento médico criada por ele e que foi declarada pelo FDA como uma farsa, tendo todo material de pesquisa sido confiscado e destruído por ordem judicial.
Em 1954 a instituição federal FDA (Food and Drug Administration) instruiu-lhe um processo criminal amparando-se em leis federais sobre a venda de objetos terapêuticos - os acumuladores de orgone. Depois da sentença, começou uma verdadeira inquisição macartista (período conhecido como "caça as bruxas" do senador Joseph MacCarthy); foram destruídos os acumuladores que a Fundação mandara fazer para fins de pesquisa e investigação terapêutica. Seus livros foram queimados. Reich, nesta época, buscava a cura do câncer e neutralizar a energia atômica, fato que preocupava a indústria farmacêutica e o governo americano, os primeiros perderiam os milhões arrecadados com seus “tratamentos” e os segundos...
Reich postulava que o câncer advinha da resignação e que seu tratamento deveria ser à base de psicoterapia e trabalho com a energia orgone (até hoje, diversos médicos indicam os acumuladores para casos de câncer). Sua visão funcional, orgânica e sistêmica de saúde contrastava e contrasta até hoje com a visão mecanicista e biologizante da vida atuada pela medicina tradicional e farmacologia. Em 11 de março de 1957 Wilhelm Reich é preso na penitenciária federal de Lewisburg (Pensilvânia) por ter comercializado os acumuladores sem a permissão do governo; em sua defesa diz que devia ser julgado por médicos e cientistas, não por juizes. Passa por diversos constrangimentos e tratamentos suspeitos dentro da prisão (“testavam” drogas nele) e em 3 de novembro de 1957 morre de “ataque cardíaco” naquela penitenciária.
O fato de Wilhelm Reich ter iniciado o seu trabalho no campo da sexologia com suas investigações sobre o orgasmo, tornou-o de modo especial vulnerável a ataques moralistas e difamações de ordem pornográfica. Sua descoberta da função do orgasmo e a potência orgástica enquanto metáfora da saúde humana foram contra a moral de sua época e o preço lhe foi caro. Referências negativas ao seu trabalho são comuns. Reich teve um insight profundo à cerca da existência do animal humano e de sua incapacidade em administrar os próprios fluxos emocionais vegetativos – principalmente a sexualidade. Aplicou a psicanálise freudiana ao corpo e decodificou sua linguagem ao ocidente. Teve inúmeros discípulos que criaram diversas abordagens corporais de psicologia. Suas descobertas se mostram plausíveis com os avanços da ciência, inclusive da física quântica e neurociência. Ao fazer sua releitura da psicanálise criou um método prático e eficiente de psicoterapia. Ainda na década de 1920, desenvolveu o conceito de Análise do Caráter e Análise das Resistências, bem como elucidou aspectos importantes da transferência entre terapeuta e cliente.
Na década seguinte, começou a trabalhar diretamente com o corpo dos clientes, associando a psicanálise à observação do corpo, das expressões dos olhos e da face, da qualidade da voz e dos padrões de tensão muscular. Descreveu o que nós chamamos hoje de linguagem corporal. Passou a usar uma técnica para aprofundar e liberar a respiração, a fim de melhorar e intensificar a experiência emocional. Transcendeu/atualizou a psicanálise freudiana e buscou uma teoria mais próxima da saúde humana, independente de moral vigente, raça ou credo.
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