Bolsa acumula alta de 12% no ano. Suba no trem bala enquanto há tempo
Valor de mercado de 45 companhias brasileiras caiu mais de 80% em 2008
Do Valor Online
SÃO PAULO - Estudo divulgado hoje pela consultoria Economática mostra que 45 empresas brasileiras perderam mais de 80% do seu valor de mercado durante o turbulento ano de 2008.
Entre elas, o maior tombo foi registrado pela Agrenco, cujos controladores foram acusados de fraudes e desvio de dinheiro, o que acabou levando o valor da companhia a uma queda acumulada de 98,3%. A empresa brasileira, no entanto, é somente a quinta colocada entre as 122 companhias abertas analisadas pela consultoria e que tiveram o valor de mercado reduzido em mais de 80% no ano passado.
O estudo contempla um total de 1.888 empresas, sendo mil dos Estados Unidos e o restante de Brasil (357), Chile (173), México (108), Peru (105), Argentina (80), Venezuela (38) e Colômbia (27).
De acordo com os dados apresentados, os quatro maiores tombos foram registrados por empresas americanas, sendo o maior deles o da Idearc, que já fechou o capital e viu seu valor de mercado encolher 99,9%. Estopim do período mais grave da crise internacional, o banco Lehman Brothers quebrou e seu valor de mercado caiu nada menos que 99,7%. Na seqüência aparecem as companhias RH Donnelley e E W Scripps, com quedas de 99% e 98,4%, respectivamente.
Entre as brasileiras, após a Agrenco, a maior queda de valor de mercado foi registrada pela Laep, controladora da Parmalat no país. As ações da empresa registraram o 15º maior tombo do ranking divulgado, com baixa de 95,8%. Em seguida aparecem MMX (-95,5%), Abyara (-94,7%), Inpar (-93,5%) e Brasil Ecodiesel (-93,4%).
Em termos nominais, as 45 empresas brasileiras com queda superior a 80% perderam nada menos que US$ 52 bilhões em valor de mercado, que somado recuou de US$ 59,7 bilhões para US$ 7,7 bilhões. No caso das 59 empresas americanas nas mesmas condições, a perda foi de US$ 801 bilhões.
Dois campos férteis para novos e "lucrativos" conflitos, que têm como pano de fundo a aceleração econômica mundial, com um quadro recessivo duradouro, rumo a uma retomada balística e militar por parte das potências petro-atômicas.
A prova dos nove
Até aqui, os indicadores econômicos, de inflação e atividade, têm aberto espaço para a possibilidade de o COPOM começar a cortar a SELIC já este mês (dias 20 e 21). A dúvida ainda recai sobre o tamanho e a intensidade do corte. Entre players, a aposta corrente é de que o BC poderá dar logo uma redução de meio ponto. Mas serão os dados desta semana que reforçarão esta estimativa ou, do contrário, estimularão uma rodada de correção na CURVA DO DI, que já faz dias que vem devolvendo prêmio com vontade.
Na BM&F, o DI com vencimento em janeiro de 2010 encerrou a sexta-feira projetando taxa de 12,14% (de 12,19% na terça-feira). O janeiro de 2012 caiu a 12,17% (de 12,36%).
O IBOVESPA começou o ano com disposição para rali e retomou os 40 mil pontos logo de cara, patamar que não atingia desde 4 de novembro, quando chegou aos 40.254,80 pontos. Na sexta-feira, disparou 7,17%, aos 40.244,22 pontos, sem tocar, em nenhum momento, o terreno negativo. O volume financeiro, de R$ 2,22 bilhões, foi considerado positivo, em se tratando de um pregão espremido entre o feriado e o final de semana.
O ânimo foi garantido pelas mega blues PETROBRAS e VALE, beneficiadas pela alta dos metais e do petróleo. Sozinhas, as duas responderam por mais de 40% do volume de negócios, ao movimentar R$ 954,751 milhões. VALE PNA teve valorização de 9,67%, a R$ 26,20 e VALE ON, +10,15%, a R$ 30,50. PETROBRAS PN ganhou 7,44%, a R$ 24,54, e PETROBRAS ON, +8,62%, a R$ 29,86. O setor siderúrgico também se destacou na alta. CSN ON fechou com ganho de 9,38%, GERDAU PN, +7,04%, e USIMINAS PNA, +8,26%.
Ninguém acredita que a volatilidade acabou. Mas os prognósticos apontam para uma recuperação, ainda que gradual. "Pelo menos no que se refere a preços de ativos, não passa pela cabeça de ninguém que a bolsa possa cair outros 41% e o real perder 23% contra o dólar”, afirmou Maurício MOLAN (do SANTANDER) no Broadcast.
Maestro do otimismoOs poucos investidores que não fizeram a ponte entre o feriado do Ano Novo e o final de semana compraram ações na sexta-feira em NY. Embalou esse movimento a expectativa, ainda pouco sustentada em fundamentos, de que, sob a liderança de OBAMA, o ano que se inicia poderá ser melhor do que o massacre que foi 2008 para os negócios.
O novo plano de reativação da economia norte-americana ainda é discutido no Congresso dos EUA, onde enfrenta resistência por parte de republicanos "zelosos" com a saúde das contas públicas. Mas “parece que existe algum otimismo com o pacote de estímulo de OBAMA e o com o possível corte (adicional) de impostos”, comentou à agência DJ o gerente de carteira Daniel MORGAN (da SYNOVUS SECURITIES).
Mas parte da explicação para a alta das bolsas, não apenas na sexta-feira como em toda a semana passada, deve incluir o fato de que muitos papéis ficaram baratos, valem agora quase que uma bagatela, depois de o DOW Jones e S&P-500 registrarem no ano passado seus piores desempenhos desde a Grande Depressão e o Nasdaq nunca antes ter visto tamanha queda em toda a sua história, nem mesmo quando a bolha tecnológica estourou. Além disso, o baixo volume financeiro exagera as oscilações em termos porcentuais. Sem falar que movimentos para melhorar o perfil de portfólios são tradicionais nessa época, num embelezamento de carteiras típico de começo de ano.
Se esses ganhos se sustentarão nos próximos dias é o que se verá. A agenda desta semana promete. Para o PAYROLL da sexta-feira, analistas falam numa taxa de desemprego de 7% nos EUA em dezembro, nível bastante elevado para uma economia como a norte-americana. Em novembro, quando a taxa ficou em 6,7%, foram eliminadas 533 mil vagas de trabalho no país, a maior perda desde dezembro de 1974, quando os americanos sentiam na pele (e no bolso) os efeitos do primeiro choque de petróleo.
As ações das petrolíferas também avançaram, sustentadas pela alta de 3,90% do contrato de petróleo para fevereiro na NYMEX, para US$ 46,34 o barril, uma valorização que se soma ao ganho de 14% registrado na quarta-feira. A commodity até realizou lucros durante a manhã, mas migrou para o território positivo à tarde, quando as preocupações com a tensão geopolítica voltaram a dominar os negócios. Em Londres, o barril do BRENT fechou a US$ 46,91 (+2,90%).
Além dos ataques de Israel contra alvos palestinos na Faixa de Gaza, numa ofensiva que já dura dez dias, os investidores temem o impacto que a decisão da Rússia de suspender o envio de gás para a Ucrânia possa ter sobre o fornecimento da commodity para os países da União Européia, em pleno inverno.
Outro destaque no mercado de petróleo foi a decisão do governo norte-americano de comprar 12 milhões de barris para reconstruir as Reservas Estratégicas de Petróleo, aproveitando o baixo preço da matéria-prima. A compra será financiada com US$ 600 milhões obtidos pelo governo com a venda das reservas em 2005, após a passagem dos furacões Katrina e Rita. Segundo o Departamento de Energia, com as aquisições, a capacidade total de armazenamento das reservas atingirá o limite de 727 milhões de barris, capaz de abastecer o país durante 70 dias sem precisar de importações.
Os mercados de TREASURIES e câmbio, por sua vez, sentiram o efeito da alta das ações. O maior apetite por risco e o fim do suporte proveniente da procura pelos papéis no final do ano estimularam a venda de títulos. O juro da NOTE de dez anos subiu para 2,407% (de 2,24%). Essa mesma disposição pelo risco ajudou o dólar a subir, principalmente frente ao iene, numa trajetória que ganhava força à medida que o Dow ampliava sua valorização. O euro caiu a US$ 1,3857 e o dólar subiu a 92,30 ienes.
Com baixo volume de negócios, o contrato de OURO para fevereiro sofreu pequena realização de lucros e cedeu US$ 4,80 (-0,54%), para fechar em US$ 879,50 a onça-troy em NY. A prata, no entanto, subiu 1,73%, para US$ 11,49 a onça-troy. O cobre, ajudado por compras especulativas, manteve o rali do final de 2008 e subiu 3,62%, a US$ 1,461.
Hoje, a Ibovespa escapa da incerteza externa e avança 3,17%, com disparada da Vale. Mesmo pressionado pela indefinição dos investidores norte-americanos, o Ibovespa encontrou espaço para estender os ganhos do final da semana passada, graças ao bom desempenho dos papéis ligados ao mercado de commodities. O início do ano trouxe mais uma série de aportes governamentais em infra-estrutura, impulsionando as perspectivas para o setor em 2009.
Boa parte do otimismo que segurava os índices de Wall Street vinha de expectativas criadas por Obama. O presidente-eleito dos EUA divulgou sua idéia de cortar impostos e ampliar gastos, que pode reduzir a carga tributária do país em US$ 300 bilhões segundo estimativas. Na Alemanha, Angela Merkel divulgou a intenção de investir cerca de US$ 70 bilhões em infra-estrutura.
As matérias-primas realmente fizeram a diferença para a bolsa brasileira. O grande destaque foi a Vale, que disparou refletindo também uma redução de 1,3% nos estoques chineses e 8% nos estoques indianos de minério de ferro na última passagem semanal. Os conflitos na Faixa de Gaza colocaram o petróleo novamente em destaque nos noticiários, garantindo bom desempenho também para a Petrobras.
Dólar cai para R$ 2,26
Refletindo o cenário mais tranquilo nos mercados e as intervenções do Bacen, o dólar comercial fechou com expressiva desvalorização de 3,43%, cotado a R$ 2,26.
Foram realizados leilões de venda conjugada com leilão de compra de moeda estrangeira no mercado interbancário. A operação colocou no mercado US$ 650 milhões e a taxa de venda foi de R$ 2,291.
Ibovespa avança 3,17%
Graças ao bom desempenho da Vale e dos setores siderúrgico e imobiliário, o Ibovespa fechou a segunda-feira (5) com forte avanço de 3,17%, acumulando mais de 10% de valorização neste início de ano. Com a variação, o índice chegou a 41.518 pontos, com volume financeiro de R$ 4,18 bilhões.
Comentário: O bom começo de ano das ações contraria o desempenho extremamente negativo em 2008, com queda acumulada de 83%, fazendo com que o PIG arrastado por ondas especulativas sobre o real espalhasse o pânico como estratégia de ganhos no curto prazo. Malograda a estratégia voltemos as atenções para o setor produtivo, investimentos de infra-estrutura por parte do Estado e planejamento de médio e longos prazos da iniciativa privada. O que se espera, aliás, do setor produtivo nacional não é outra coisa senão virar os faróis para frente antes que sejam engolidos pelo trem bala a lhes coçar os traseiros.
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