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Duas soluções para a crise: uma grande guerra ou uma economia de baixo carbono
Nada de aumentar a regulação, melhorar o mercado imobiliário nem nacionalizar os bancos. A solução para a atual crise financeira internacional está em uma trajetória de inovação tecnológica e descarbonização da economia. Ou isso, ou um conflito bélico de proporções da Segunda Guerra Mundial, acompanhado de medidas protecionistas e atrasos econômicos.

A visão particular sobre os problemas financeiros globais é compartilhada pelos professores José Eli da Veiga, da FEA-USP, e Sérgio Besserman Vianna, da PUC-RJ. Em evento promovido pelo Instituto Ethos na última quinta-feira (22), ambos mostraram um ponto de vista diferente do consenso, no qual uma boa solução para a crise significa mais uma aproximação ao desenvolvimento sustentável e à cooperação internacional do que à resolução de problemas pontuais.

"Os diagnósticos atuais da crise continuam muito precários e superficiais. A idéia de que a crise teve a ver estritamente com a bolha imobiliária é tão superficial quanto imaginar que um incêndio decorre do pavio. A idéia de que ela decorre de problemas de regulação é, no mínimo, acaciana", argumenta Sérgio Besserman Vianna.

Saindo de Depressão de 1930
Os dois profissionais acreditam que a solução será baseada na construção de uma economia de baixo carbono. "Qualquer visualização de uma saída da crise que não passe por uma opção bélica seria necessariamente algo em que a Ciência e Tecnologia teria que ser colocada em primeiro lugar. Isso exigiria uma cooperação internacional, com uma idéia de aliança científico-tecnológica", explica Veiga.

Assim como visto em grande parte das análises de economistas, sua argumentação tem base em comparações com crises anteriores, principalmente a Grande Depressão. Segundo o professor, embora o New Deal tenha sido fundamental, quem efetivamente tirou os Estados Unidos da depressão de 1930 foram os esforços da Segunda Guerra Mundial.

Uma crise que já dura 20 anos
De acordo com Besserman, o mundo está vivendo a mesma crise nos últimos 20 anos, reforçada pela globalização do capitalismo. "Cada vez que você pode expandir largamente as suas fronteiras, o desequilíbrio pode ser sustentado. Como você consome mais do que pode? Se endividando", conta o professor. Ele cita Joseph Stiglitz quando afirma que os norte-americanos passaram as últimas duas décadas consumindo cerca de 6% a 7% ao ano acima do que os fundamentos macroeconômicos do país permitiriam.

Suas declarações levam à conclusão de que, ao invés de enfrentar os problemas, o mundo tem ignorado-os. "Se você está numa bicicleta e perde o equilíbrio, você pode fazer duas coisas: ou você para e se permite cair ou você acelera e nisso você se equilibra. E se você tem condições de acelerar, acelera. O fato é que quando você cair, lá na frente, duas décadas depois, o tombo vai ser muito maior", reflete o professor.

Segundo ele, há outros problemas tão graves quanto o padrão de consumo norte-americano e a falta de regulação no mercado. Por exemplo, o fato de que alguns países serem superavitários enquanto outros são deficitários; ou as incertezas em relação aos valores relativos das moedas. Um outro grande fator ressaltado por Vianna é a insustentabilidade do desenvolvimento atual - não há condições políticas nem sociais para manter esse ritmo.

A opinião é corroborada por José Eli da Veiga, que acrescenta ainda um ponto polêmico na discussão. Para ele, os 30 países desenvolvidos do mundo não precisam mais crescer. "O desenvolvimento deles não precisa mais dessa obsessão pelo aumento do PIB, que não é uma boa forma de medir desenvolvimento da economia", argumenta.

O Brasil na contramão
É claro que uma discussão de soluções para a crise não inclui medidas estritamente brasileiras, já que estamos importando os problemas. Porém, vale atentar para o fato de que, se a solução realmente estiver na inovação tecnológica e na descarbonização da economia, o País provavelmente terá um problema sério a ser enfrentado no futuro próximo.

Veiga chama atenção para dois fatores:
  • O primeiro é o plano decenal de energia que prevê 67 termelétricas a serem construídas até 2017. "Isso é ir na contramão da história. Isso é exatamente dizer o seguinte: nós ignoramos que o mundo vai ter que fazer a transição para uma economia de baixo carbono e nós vamos no sentido exatamente contrário, apesar de termos potencial hidrelétrico e de existirem outras opções".
  • O segundo é que o Congresso nacional, para reduzir custos, cortou recursos para a área de Ciência e Tecnologia, crítica auto-explicativa depois de todas as considerações feitas pelo professor. No mesmo evento, João Carlos Ferraz, diretor de planejamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), citou uma pesquisa de 2005 que revelava que a Fundação Fiocruz sozinha tinha mais doutores do que todo o setor privado brasileiro junto.
Uma questão colocada pelos participantes do evento é que, se as pesquisas tecnológicas são negligenciadas tanto pelo governo quanto pelas empresas brasileiras, como o Brasil conseguirá acompanhar o resto do mundo na saída da crise?

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