Orto ou heterodoxo. Qual será o perfil do próximo presidente do BC?
O cenário com Meirelles fora do BC é de continuidade ou chance aos heterodoxos?
Especulações em relação à troca de nomes do alto escalão do Governo por motivos eleitorais são naturais, mas costumam passar mais distantes do Banco Central. No entanto, seu presidente Henrique Meirelles é alvo de rumores sobre uma candidatura ao governo estadual de Goiás em 2010 (ver matéria aqui). Mais que uma sucessão, estão em jogo a confiança no país e sua maturidade institucional.
Os rumores são antigos, mas uma nova centelha foi disparada no mercado com reportagem publicada pela revista Carta Capital, Ed 529, que afirma ser certa a saída de Meirelles após seis anos no comando do BC. Até mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva haveria sido informado sobre a decisão.
Para ocupar o Banco Central, Meirelles nem mesmo assumiu o cargo de deputado federal, para o qual foi eleito pelo oposicionista PSDB em 2002, com a maior votação do estado de Goiás. Para concorrer em 2010, no entanto, seria obrigado a deixar o comando do banco e cumprir um período de quarentena, o que anteciparia a saída para este ano.
Em alguns meses, será a pessoa que mais tempo permaneceu no comando da autoridade monetária brasileira - marco de resistência em um país de instabilidades e pressões sobre os formuladores de política econômica. Ainda mais em um momento de crise, a saída de Meirelles pode causar apreensão entre investidores.
Fogo cruzado
Para seus defensores, Meirelles sintetiza o compromisso com políticas econômicas prudentes e voltadas ao mercado (entenda-se ao Grande Capital, banqueiros e magnatas das indústrias)- relação direta com a estabilidade vivenciada pelo País há alguns anos, especialmente sobre inflação. Já seus detratores consideram-no excessivamente conservador - principal responsável pelo desperdício de mecanismos monetários para a promoção do crescimento.
Qualquer que seja a interpretação, a conduta de Meirelles foi fundamental para a superação da enorme desconfiança nutrida pelo mercado em relação ao atual presidente, em função de seu passado radical sobre questões como o pagamento da dívida e os gastos públicos - um capítulo quase esquecido, de tão distante e absurdo que aparenta ser na metade de seu segundo mandato.
Fato e norma
"A figura do presidente é muito importante, especialmente no Brasil. Existe uma independência de fato, mas não por lei. Isso ainda joga um peso importante nas costas do presidente do Banco Central", afirma Alessandra Ribeiro, analista da Tendências Consultoria (Empresa cujos acionistas foram elencados aqui, todos submissos ao "economista" Serrágio).
O cenário mais provável projetado pela consultoria, todavia, é composto por um processo sucessório menos traumático. Meirelles sairá, mas a transição deve acontecer sem grandes choques. Assim, o Clipping do Tato entende que pode ocorrer uma situação inaudita - a primeira reação é uma maior propensão ao risco. Veríamos uma reação positiva com os preços de ações em elevação, compra de papéis de renda fixa, a queda de taxas futuras [de juro], com a possível valorização do real.
Um presidente de perfil distinto também exigiria uma troca completa da diretoria, dada a incompatibilidade de linhas mais heterodoxas com pessoas como Mário Mesquita e Alexandre Tombini - também especulados como possíveis sucessores de Meirelles.
Marco institucional
Primeira agência de classificação de risco a elevar a nota da dívida brasileira ao grau de investimento, a Standard & Poor's destaca que "na avaliação do rating do Brasil, foi muito importante esse compromisso tão forte com políticas pragmáticas", afirma Sebastian Briozzo, diretor de rating soberano da S&P.
Briozzo não atribui peso tão grande ao presidente do Banco Central. "As políticas não dependem de uma só pessoa", disse, embora reconheça que o papel do Banco Central nos últimos anos, sob a presidência do Meirelles, foi muito importante para a consolidação da estabilidade monetária no Brasil.
Ressaltando que a agência não assume uma troca no comando do BC em suas análises, o analista pontua que "uma mudança seria um desafio, mas nós pensamos que o grau de desenvolvimento das instituições permitirá uma transição boa, no caso de uma saída".
Se haverá uma reavaliação somente por causa da alteração da diretoria? "Não necessariamente", responde Sebastian Briozzo. "O importante são as políticas implantadas.
Temos países que são heterodoxos com grau de investimento e ortodoxos que estão abaixo. O importante para nós é que sejam consistentes".
Na corda bamba
Continuam naquela toada as bolsas em WALL STREET, mais caindo do que subindo e flertando, muitas vezes, com níveis perigosos de suporte. A agenda forte desta semana não dá segurança de nada. Muito pelo contrário, só o que deve é garantir novas ondas de intensa VOLATILIDADE aos negócios.
Na sexta-feira, foi o balanço da GE (-10,76%) que resgatou mais uma vez o temor de desaquecimento mundial, mantendo o DOW Jones no negativo (-0,56%, em 8.077,56 pontos).
Já o NASDAQ (0,81%, aos 1.477,29 pontos) teve mais sorte, favorecido pelos balanços positivos do GOOGLE (+5,94%) e AMD (+2,48%). Também o S&P-500 escapou do fechamento negativo, subindo 0,54% (a 831,95 pontos).
Desatrelados das bolsas nos últimos pregões, os TREASURIES voltaram a cair, com a correspondente alta nos juros. O movimento foi, mais uma vez, induzido pela perspectiva de crescimento da oferta de novos títulos e pelo temor de que a CHINA suspenda ou reduza as compras de títulos, depois das polêmicas declarações do indicado ao cargo de secretário do Tesouro, Timothy GEITHNER, de que Pequim estaria manipulando as suas taxas de câmbio. Em NY, o juro da NOTE de dez anos subiu a 2,604% (de 2,592%).
No final de semana, o Banco Popular da China negou a acusação “falsa e enganosa”, interpretada como um sinal da intenção de protecionismo do governo OBAMA.
Entre os METAIS, o receio de colapso no setor bancário europeu e temor de que todos os programas de socorro e estímulo econômico nas maiores economias acabem gerando inflação no longo prazo patrocinaram uma CORRIDA de proteção para o OURO.. Em NY, o contrato da onça-troy para fevereiro avançou 4,31%, negociado a US$ 895,80.
Usado como HEDGE contra as pressões inflacionárias, o metal roubou atratividade do mercado de moedas e precipitou uma realização de lucros do DÓLAR contra o EURO (US$ 1,2982) e também no IENE (88,86/US$), que já algum tempo estavam devendo um ajuste. A recuperação das bolsas de NY das mínimas também estimulou essa correção.
Nas mínimas, o COBRE barato atraiu compras em Londres, onde subiu US$ 161, para US$ 3.251 por tonelada. Apesar disso, um analista disse na DJ que a tendência é de os preços retomarem a baixa já nesta semana, com os preços do metal rompendo o suporte de US$ 3 mil. Ainda os contratos do alumínio para três meses subiram US$ 12, cotados a US$ 1.342; o zinco (US$ 1.160) avançou US$ 41; e o níquel, US$ 1.150, a US$ 12.100.
O PETRÓLEO subiu, embora especialistas não confiem no rali dos preços nos últimos pregões, que desafia os fundamentos de pouca demanda para muita oferta.. Não é difícil os movimentos de alta estarem associados aos interesses do vencimento, nesta semana, das opções e dos futuros da gasolina, gás natural e óleo para aquecimento, na NYMEX. Na sexta-feira, o contrato do WTI fechou a US$ 46,47 (+6,41%) e o BRENT, em Londres, encerrou a US$ 48,37 (+6,57%). Alguns traders insistem que o mercado não sustentará o piso de US$ 40, devendo voltar a testar as mínimas recentes, perto de US$ 32.
Em tempo...
BB informou que fará provisão adicional de R$ 1,7 bilhão para perdas da carteira de crédito no quarto trimestre de 2008, em razão da atual conjuntura. Paralelamente, o banco revisou os cálculos de seus ativos e passivos atuariais, o que deve gerar um impacto positivo de R$ 2,520 bilhões no lucro do quarto trimestre.
POSITIVO. Receita líquida totalizou R$ 527,2 milhões no quarto trimestre, redução de 5% sobre o mesmo período de 2007. No ano, a receita subiu 12,3% e atingiu R$ 2 bilhões.
CPFL. Venda da participação do grupo VOTORANTIM na companhia pode demorar mais do que imagina o mercado, disse uma fonte à AE.
CCDI, que divide com o VOTORANTIM os 28,4% detidos pela VBC Energia na holding elétrica, vetou a conclusão do negócio com a NEOENERGIA e a CEMIG. Pesa o fato de a Neoenergia ter ligações com a ODEBRECHT, com a qual a Camargo Corrêa travou uma grande batalha nos últimos meses em torno da hidrelétrica Jirau.
TIM. CVM decide que a TELCO, controladora da TELECOM ITALIA, tem de realizar OPA para acionistas minoritários da unidade de telefonia móvel do grupo italiano no Brasil.
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