A imprensa longe de Gaza

Há poucos jornalistas hoje na Faixa de Gaza. Isto é fato.

Duas semanas depois de Israel lançar uma ampla campanha militar contra o território palestino, com bombardeios aéreos e invasão terrestre, com o declarado objetivo de interromper lançamentos de misseis do grupo Hamas, a imprensa estrangeira segue vetada.
BBC, CNN, ITV, ABC, NBC, CBS, The New York Times, The Times, The Guardian, Le Monde, El Pais, a imprensa brasileira, argentina, japonesa etc, as agências internacionais, enfim, os grandes veículos de mídia estão limitados ao trabalho dos seus poucos correspondentes locais já baseados em Gaza.

Israel alega proibir a entrada de jornalistas estrangeiros por uma questão de segurança. Mas, quanto mais complexos tornam-se os eventos dentro do território, maior a necessidade de que jornalistas tenham acesso aos fatos, em um conflito que dia-a-dia desafia a política e a diplomacia. Acusações são feitas, pontos de vista conflitantes são apresentados, e a imprensa não pode cumprir o seu papel de tentar mostrar ao mundo o que realmente acontece no campo de batalha.

Nas mais recentes polêmicas, aparece, de um lado, o governo israelense. Do outro, as Nações Unidas, a Cruz Vermelha Internacional e outras entidades humanitárias, como a Oxfam.
A ONU abandonou a assistência a civis palestinos, alegando que funcionários seus foram mortos pelas forças israelenses enquanto tentavam fazer seu trabalho.
No mesmo dia, a Cruz Vermelha acusou Israel de não cumprir sua responsabilidade de ajudar civis sobreviventes de confrontos, depois que crianças palestinas foram encontradas junto aos corpos de suas mães, mortas em um ataque.
Bombardeios mataram dezenas de civis ao atingir duas escolas da Organização das Nações Unidas, que também acusa Israel de bombardear um abrigo de refugiados, matando outras 30 pessoas, depois de tê-los evacuado de suas casa e os dirigido para o local.
A Anistia Internacional acusou os dois lados de abusos contra a população civil palestina.

O governo israelense tem rebatido as acusações, mas promete investigá-las. Israel diz ainda que o Hamas tem usado civis palestinos como escudos humanos e que membros do grupo, ou pessoas ligadas a ele, têm interesse em associar o país a supostos crimes de guerra. Israel não chega a acusar a ONU ou a Cruz Vermelha de associação com o Hamas, mas sabe-se que os organismos internacionais de ajuda são vistos com suspeita pelo governo israelense.
E a imprensa internacional? Continua proibida de entrar na Faixa da Gaza, limitada a um pequeno número de bravos repórteres locais, sem recursos suficientes para verificar o que realmente acontece no território.

Toda grande potência militar tenta, durante uma guerra, controlar o fluxo de informação nas áreas que domina. Na Guerra da Bósnia (1992-1995), os sérvios impediam a entrada de jornalistas ocidentais a leste de Sarajevo. No Iraque, os Estados Unidos praticamente exigiram que repórteres estivessem com suas tropas para poder trabalhar.
Quem agisse de forma independente corria o risco de ser morto, como aconteceu com o britânico Terry Lloyd. Mas nesses conflitos, como em muitos outros, jornalistas seguiam fazendo o possível para cobrir os conflitos, circulando por áreas de combate, mesmo sabendo que poderiam perder a vida.

A diferença em Gaza é que se trata de uma área mínima, cercada pelo mar, por Israel e pelo Egito, que não quer problemas em seu território e mantém suas portas fechadas. Neste conflito, Israel define quem entra e quem sai. A população civil não sai. Jornalistas não entram.
Israel fechou a Faixa de Gaza para jornalistas porque pode fazê-lo, porque seu controle sobre o território lhe permite esse poder sobre a informação. Outros países provavelmente fariam o mesmo, porque controlar a informação é vital em uma guerra. Pode definir seu resultado.
Vence com isso a lógica militar, mas perdem a opinião pública, os feridos e as famílias dos mortos, que gostariam que as acusações de atrocidades, possíveis crimes de guerra e supostos erros cometidos em Gaza fossem devidamente, e rapidamente, esclarecidos.
As razões da guerra irracional em Gaza
Os defensores da ação militar de Israel contra a Faixa de Gaza, entre eles membros do seu governo, têm há dias repetido o mesmo discurso: "nenhum país do mundo aceitaria ser atingido diariamente por dezenas de mísseis lançados por um grupo inimigo". Israel, segundo esse raciocínio, foi obrigado a reagir a uma provocação do palestino Hamas. Algo tinha de ser feito.

No século 19, o general da Prússia Carl von Clausewitz desenvolveu, em seu livro Da Guerra, a idéia de que a guerra não é um fim em si mesmo, mas um meio pelo qual um ator político impõe sua vontade sobre outro. Seria a "continuação da política por outros meios", considerando que por trás de uma operação militar estaria uma decisão consciente, racional, de se adotar um projeto de Estado para derrotar um oponente.
Trata-se do conceito tradicional de guerra, abalado pelos inúmeros conflitos das últimas décadas envolvendo atores não-governamentais e soldados irregulares, em confrontos assimétricos e imprevisíveis na Europa (Bósnia), África (Congo, Ruanda, Uganda etc) e Ásia (Afeganistão, Chechênia).

Mas, o raciocínio de Clausewitz continua vivo, ou deveria, nos casos de conflitos que envolvem Estados constituídos, especialmente os democráticos. Pelo menos é o que imaginam os analistas que, em artigos em jornais e revistas e aparições na televisão, têm tentado entender a verdadeira razão pela qual Israel lançou sua ira sobre a Faixa de Gaza, um lugar onde 1,5 milhão de pessoas vivem praticamente sem comida, sem remédios e agora sob chuvas de bombas. E sem ter para onde fugir.
Seria a necessidade de reagir aos mísseis do Hamas, assim como o bloqueio a Gaza, parte de uma política de Estado, como imaginava Clausewitz? Ou estaria essa guerra ligada à necessidade de um governo de se fortalecer semanas antes das eleições gerais no país? Seria o bombardeio de Gaza benéfico para o próprio Estado de Israel e para a região? Para as negociações de paz com a Autoridade Nacional Palestina? Para o futuro das relações entre israelenses e seus vizinhos palestinos, dois povos condenados a viver eternamente lado a lado?

Os que criticam o governo e o Exército de Israel dizem que essa ação militar não levará a lugar algum. Ou melhor, levará ao fortalecimento do grupo Hamas entre os palestinos, da mesma forma como o xiita Hezbollah foi elevado à categoria de grupo militante herói após os bombardeios israelenses no Líbano, em 2006.
Certamente haverá custos desagradáveis. Jonathan Freedland, do The Guardian, diz que Israel não tem estratégias para a paz, apenas para a guerra. Ou seja, a razão israelense seria uma razão militar e não política. A guerra seria um fim em si mesmo, uma reafirmação do poderio bélico de um país que nasceu sob o ataque dos seus vizinhos e vê na sua sobrevivência a necessidade de um eterno embate com o mundo exterior.
A política e a democracia israelenses viriam do conflito armado, e não o contrário. Clausewitz ao inverso: a essência da existência de uma nação seria a guerra, e a política existiria como sua continuação.

Israel sabe que não pode simplesmente aniquilar o Hamas, e se o fizesse poderia surgir em seu lugar um outro grupo, ainda mais radical. A ocupação do sul do Líbano, no início dos anos 80, visava derrotar um inimigo palestino, a OLP de Yasser Arafat. Acabou resultando no surgimento do Hezbollah.
As razões da guerra em Gaza são legítimas sob os olhos de uns, mas insuficientes sob os olhos de outros. Parecem mais ligadas a uma necessidade de reagir, ao curto prazo, ao imediatismo determinado pelo medo.
O raciocínio de Clausewitz, baseado numa lógica política, sugere que uma guerra deve ser buscada quando se pretende atingir uma vitória absoluta e, conseqüentemente, conquistar um posterior estado de paz. Com sua ação militar em Gaza, centenas ou milhares de mortos depois, não importa, é bem possível que Israel não consiga nem uma coisa nem outra.
Rogério Simões - BBC
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'New intifada'

Meshaal called on Arabs to pressure their leaders and the international community through protests.
"We are living the hardest moments of the resistance now, we want another intifada [uprising] in Palestine and on the Arab street," he said, calling on the Arabs to continue protesting.

Meshaal said that Israel was covering up the true nature of its losses by saying that troops had been killed by their own fire and in accidents.

"What did you achieve through this war... other than the killing of children, of innocents?" he asked the Israeli leadership.

"You have lost on the moral and humanitarian fronts ... and you have created a resistance in every house," Meshaal said.

He slammed Israel's assault on Gaza as a "holocaust" in which the blood of Palestinian children was being shed to bolster prospects in next month's Israeli elections.

"The enemy has failed by creating a real holocaust on the soil of Gaza.

"Palestinian blood has become a means to win elections," he said, addressing the Israeli people whose leaders are to face off in general elections on February 10.
Egyptian plan

Meshaal's comments come as a Hamas delegation is in Egypt, together with Mahmoud Abbas, the Palestinian president, to discuss an Egyptian ceasefire proposal and possible international monitoring force to enforce an agreement.

Meshaal said that any international monitoring force in the Gaza Strip would be treated as an "occupation" force.

"Before any negotiations could take place, Israel had to halt attacks, pull out of the Gaza Strip and lift the siege of Gaza," Meshaal said.

He also insisted on Hamas's inclusion, together with the Egyptians and the Europeans, in any monitoring system on the Rafah border.

A 2005 agreement to monitor the Rafah crossing did not include Hamas and the Egyptians have said they will stick to that agreement.



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