A tv e a política

Parte da grande batalha cultural e política do Brasil sob a ditadura militar (1964-1985) se deu também e fortemente pela televisão.
Antes desta fase, o rádio e a imprensa escrita tinham a supremacia da comunicação social no Brasil, desde a Era Vargas (1930-1954). Finda a ditadura militar, as forças e interesses econômicos e políticos poderosos encastelados no Estado e na Sociedade usaram e usam da tv para criar um novo tipo de governabilidade e de modelagem econômica, social e cultural.
As eleições ocorridas nas últimas duas décadas foram ‘decididas’ pelo poder do mesmo veículo, somado a todas as outras injunções de tais eventos.
Quando se fala em midiatização da cultura, fala-se, quase sempre, na chegada à tv de algum tipo de manifestação, antes invisível ao grande público ou de pouca expressão neste veículo. Os grandes fenômenos de massa da atual fase da modernidade são, por vezes, patrocinados pela tv aberta.

Alguns indicadores apontam diferenças entre as empresas de televisão brasileiras e as de outros países, no que se refere às suas relações com o público. Dentre eles, destaca-se o fato de que no Brasil é comum que a grande maioria dos televidentes veja a mesma programação, ao mesmo tempo e cotidianamente, em uma extensão geográfica continental.
Outro indicador é o da hegemonia de uma só das redes nacionais. Ainda outro, é a da existência das mesmas matrizes publicitárias mostradas em todo o país. No plano material e no simbólico, predomina a unidade nacional de ação das empresas teledifusoras. Elas dividem, entre si, o mercado e concorrem dentro de normas pré-estabelecidas por elas e pelo Estado.

O Brasil e o mundo passam na tv e esta reproduz as imagens: de inúmeras paisagens naturais e modificadas pelas técnicas humanas e das mais diversas sociedades e culturas de toda parte.
Obviamente, o epicentro do que passa neste veículo é a representação de nossas realidades geofísicas, sociais, tecnológicas e culturais. Representar não é o mesmo do que reproduzir.
Consiste em construir imagens e sons a partir do que se quer ver e do que se é de fato. Como as empresas privadas de tv estão situadas no eixo urbano São Paulo - Rio de Janeiro, predomina o que se produz e se pensa nestas duas megalópoles.

O Brasil entrou na era da vídeo-esfera, sem completar sua passagem pela grafo-esfera. Está entrando velozmente na era digital, mantendo, com imensa força o apelo do vídeo de massa, mesmo que se veiculado pela futura tv digital.
As decisões políticas sobre este assunto - a recente escolha do modelo japonês - relacionam-se fundamentalmente aos prognósticos de décadas à frente de prevalência da televisão aberta, comercial, generalista e ‘gratuita’.
Ela conviveria, sem maiores problemas, com os demais objetos sociais da fase presente da modernidade, fundindo-se ou separando-se de acordo com os objetivos estratégicos dos investimentos e suas ressonâncias junto ao público consumidor.

Os idealizadores governamentais e privados da política vídeo-esférica brasileira presumem que não haverá maiores alterações na ordem social do país, sobretudo no item da distribuição de renda e dos bens simbólicos de natureza cultural.
Acreditam na eternização de nosso atual modelo de organização societária, dos parâmetros da formação intelectual do público e das possibilidades de consumo decorrentes.
Sabem que, neste quadro de problemas estruturais, dificilmente a tv por assinatura crescerá muito. Seu desenvolvimento será lento, gradual, dependente e aproximativo da tv aberta. Esta situação já é possível de se constatar, analisando-se o que ocorre no país. Estas forças planejam o futuro, a partir de suas visões conservadoras do presente.

A tv brasileira, bancada pelo mundo dos negócios nacional e globalizado, é pensada, contemporaneamente, como na sua origem: a mais poderosa máquina já inventada para se tentar obter o consenso social voltado para o consumo.
O objetivo inicial - década de 1950 - era o de vender as mercadorias da indústria e do comércio. No contexto atual, a publicidade é generalizada e tem, como um dos seus braços, a propaganda política.
Foram desenvolvidas várias técnicas de convencimento massivo, as quais hoje estão centradas na busca e na consolidação de comportamentos individuais e coletivos que não escapem do consenso sociotelevisivo.

A tv aberta transformou-se no principal objeto social da modernidade brasileira. Superou, sem destruir, o rádio. Relativizou a importância do cinema e da imprensa escrita. Convive, de modo harmônico, com o uso cada vez maior dos recursos proporcionados pela internet.
Entretanto, não se pode esquecer que não destruiu os meios de comunicação humanos. As pessoas continuam conversando, gesticulando e expressando de mil e uma maneiras o que sabem, sentem e pensam sobre tudo.
É muito comum que vários autores ‘esqueçam’ destes meios - teses anti-humanistas - e dêem maior importância às máquinas de comunicar de nosso tempo.

A tv, bem como as demais mídias, é um instrumento de reforço dos usos tradicionais da comunicação humana. Mais importante do que assistir às telenovelas é conversar sobre elas com os outros. Alguns bordões dos programas humorísticos são assimilados e repetidos nas ruas à exaustão.
O que é visto e escutado na tv pode vir a ser incorporado às memórias individuais e coletivas. Não, raramente, operam-se rejeições, mesmo quando a tv insiste em determinado tema, tipo ou comportamento. Os meios humanos de comunicação dão a palavra final sobre os efeitos da tv nos seus públicos.
Em outras palavras, os efeitos da tv dependem dos contextos onde são desenvolvidos e as reações dos tele-audientes são parte desses.
Fonte: Luís Carlos Lopes - Universidade Federal Fluminense

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