Quem tiver paciência para ler tudo merece muitos doces


A função social do capitalismo de Estado


Até por volta do fim da Primeira Guerra Mundial na Rússia, e até a crise econômica de 1930 nos Estados Unidos, a relação entre o sistema do capitalismo privado e o sistema do Estado era simples. Para Lenin e seus contemporâneos, o "Estado capitalista" não passava de instrumento do poder da "classe de capitalistas privados". A simplicidade desta relação traduziu-se, por exemplo, do seguinte modo, nos filmes russos sobre a revolução:

O proprietário de uma fábrica tenta baixar os salários, enquanto os operários exigem salários mais altos. O capitalista recusa-se a ceder a essa exigência; em resposta, os operários da fábrica entram em greve, para impor o cumprimento das suas reivindicações.

O capitalista chama então o chefe de polícia, encarregando-o de "restabelecer a ordem". Aqui, o chefe de polícia atua como um instrumento público do capitalista, revelando claramente que o Estado é um "Estado Capitalista".

O chefe de polícia envia os seus contingentes, manda prender os "instingadores"; os operários estão sem líder. Algum tempo depois, começam a sentir o tormento da fome e, voluntária eou involuntariamente, voltam ao trabalho. O capitalista venceu.

Há necessidade de uma organização de trablhadores melhor e mai sólida. Na opinião dos sociólogos que tomaram o partido dos trabalhadores, esse filme refletiu a relação entre o Estado e o capitalismo na América.

Contudo, vinte anos de gigantescas transformações sociais provocaram alterações que já não coincidem com o esquema simples que descrevemos acima.

No sistema de capitalismo privado, começaram a surgir cada vez mais claramente organismos que foram designados globalmente como "capitalistas de Estado".

A sociedade russa substituiu o papel do capitalista privado pelo domínio ilimitado do Estado. Não importa o nome que se dê a ele, mas o certo é que, de um ponto de vista sociológico correto e rigorosamente marxista, o capitalismo privado foi substituído pelo capitalismo de Estado.

Portanto, o conceito de capitalismo é determinado, não pela existência de capitalistas individuais, mas pela existência de uma economia de mercado e de trabalho assalariado.
(From the The Mass Psychologogie of Fascism, W. Heich.
tradução de Maria da Graça M. Macedo. Martins Fonte Ed Ltda; 1970)


Anarquistas, graças à Deus

Anarquismo é uma palavra que deriva da raiz grega αναρχία an (não, sem) e archos (governador) e que designa um termo amplo que abrange desde teorias políticas a movimentos sociais que advogam a abolição do Estado enquanto autoridade imposta e detentora do monopólio do uso da força. De um modo geral, anarquistas são contra qualquer tipo de ordem hierárquica, defendendo, pelo contrário, tipos de organizações horizontais e libertárias.

A própria definição adotada pela maioria dos dicionários, mostra a deturpação etimológica que a palavra anarquismo sofreu durante o tempo.

Uma das visões do senso comum sobre o tema é na verdade o que se considera "anomia", ou seja, ausência de leis. O anarquismo não se relaciona com a prática da anomia. Os anarquistas rejeitam esta denominação, e o anarquismo enquanto teoria política nada tem a ver com o caos ou a bagunça.

Grupos distintos têm compreensões diferentes quanto à abolição dos governos e à organização social que disso resultaria.

O anarquismo busca a total liberdade do indivíduo, para conseguir se basea nos seguintes princípios:

Antiautoritarismo

Repulsa total a qualquer tipo de hierarquia ou domínio de umas pessoas sobre as outras, defendendo uma organização social baseada na igualdade e no que a liberdade é o valor supremo. Por ele tem como principais (não únicos) objetivos de suprimir o Estado, a acumulação de riqueza própria do capitalismo (exceto os Anarco-capitalistas) e as hierarquias religiosas. À diferença do Marxismo, que pretende usar os instrumentos burgueses (Estado e partidos políticos) para a conquista do poder, o anarquismo rejeita o princípio de autoridade.


Humanismo

Nos meios anarquistas, de forma geral, rejeita-se a hipótese de que o governo, ou o estado sejam necessários ou mesmo inevitáveis para o processo de sociabilidade dos seres humanos. A sociedade, antes, constitui fenômeno inevitável capaz de se auto-organizar, dependendo esta organização dos indivíduos que a compõem. A presença, portanto, de autoridades e hierarquias não seria de forma alguma natural, mas instituições artificiais.

O humanismo dos anarquistas vê na instituição da autoridade e das ordens hierárquicas uma falha na capacidade de todo indivíduo em autodeterminar-se sem delegar suas responsabilidades sociais a outrem fazendo surgir em seu meio a desigualdade. A imposição da opressão e da autoridade é que provoca a corrupção no convívio social.


Ação direta

Os anarquistas afirmam que para solucionar os problemas sociais, não tem que delegar a ninguém, mas sim, que tem que atuar diretamente contra o problema em questão, este é o significado de ação direta. Embora, em numerosas ocasiões, este conceito foi erroneamente entendido como uma chamada a realizar "ações violentas". Tem que diferenciar por tanto entre Ação direta Violenta e Ação direta não-violenta.


Apoio mútuo

Este é o princípio básico de solidariedade que seguem normalmente os grupos anarquistas. Piotr Kropotkin, em sua famosa obra "O Apoio Mútuo", explica os motivos pelos quais as sociedades se devem basear neste princípio e o ilustra com numerosos exemplos, tanto do comportamento dos animais como de elementos de diferente culturas humanas.


Socialismo libertário

Os anarquistas socialistas libertários acreditam que a função de qualquer governo é a manutenção do domínio de uma classe social sobre outra. Eles acreditam que, no sistema capitalista, o Estado mantém a desigualdade social através da força, ao garantir a poucos a propriedade sobre os meios de subsistência de todos.

Esta teoria clama por um sistema socialista, onde a posse dos meios de produção seja garantida a todos os que trabalham. Neste sistema, não haveria necessidade de nenhuma autoridade e/ou governo, visto que não haveria necessidade de impor privilégios de uma classe sobre outra. A sociedade seria gerida por associações democráticas, formadas por todos, e dividindo-se livremente (ou seja, com entrada e saída livre) em cooperativas e estas, em federações.

A origem da tradição socialista libertária está nos séculos XVIII e XIX. Talvez o primeiro anarquista (embora não tenha usado o termo em nenhum momento) foi William Godwin, inglês, que escreveu vários panfletos defendendo uma educação sem a mão do Estado, observando que esta tornava as pessoas menos propensas a ver a liberdade que lhes era tirada. O primeiro a se auto-intitular anarquista e a defender claramente uma visão mais socialista, foi Joseph Proudhon, seguido por Bakunin que levou e elaborou as idéias de Proudhon à primeira Associação Internacional de Trabalhadores (AIT). Mais tarde, Kropotkin desenvolve a vertente comunista do anarquismo, enquanto Nestor Makhno tenta implantar o anarquismo em plena revolução russa na Ucrânia, com apoio de várias comunidades camponesas, mas que acabam massacradas pelos revolucionários leninistas e trotskistas. (ver Godwin, Proudhon, Bakunin, Kropotkin, Makhno, etc).

Poucos anarquistas defendem a violência contra indivíduos. Durante o fim do século XIX e início do século XX, o anarquismo era conhecido como uma ideologia que pregava os assassinatos e explosões, devido a ação de pessoas como o russo Nechaiev, o francês Ravachol e à influência dos meios de comunicação da época. A maioria dos anarquistas acreditam que a violência contra indivíduos é inútil, já que mantém intactas as relações sociais de exploração e as instituições que a mantém. Entretanto, os anarquistas acreditam ser inevitável o recurso à violência como legítima defesa à violência do Estado ou de instituições coercivas. Anarquistas como Errico Malatesta publicaram célebres debates e publicações, condenando o individualismo-terrorista de alguns anarquistas.

Existiram, no entanto, outros anarquistas, como Leon Tolstoi, que acreditavam que o caminho da anarquia era a não-violência. Tolstoi, inclusive, manteve contato com Gandhi.


Anomia

A idéia popular de anarquismo como absoluto caos e desordem, que os estudiosos chamam de anomia (ausência de normas) é rejeitada por todos anarquistas tradicionais citados acima. Os anarquistas concebem os governos como as atuais fontes de desordens defendendo, portanto, que a sociedade estaria melhor ordenada sem eles.

Esta convenção tem fortes conotações e historicamente tem sido usadas como uma deficiência por grupos políticos contra seus oponentes, mais notavelmente os monarquistas contra os republicanos nos últimos séculos. Entretanto, a anomia tem sido abraçada por movimentos de contracultura.

Para você, estimado leitor imaginário, que teve paciência para ler tudo:

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