A Origem da Crise Mundial
"The liberty of a democracy is not safe if the people tolerate the growth of private power to a point where it becomes stronger than their democratic State itself.
That in it’s essence, is Fascism - ownership of government by an individual, by a group or by any controlling private power.”
Franklin D. Roosevelt, Message proposing the “Standard Oil” Monopoly Investigation, 1938
♣
TRADUÇÃO A MARTELO.
“A liberdade de uma democracia não está a salvo se o povo tolerar o crescimento de poderes privados a um ponto em que eles se tornam mais fortes que a própria democracia.
Isso, na sua essência constitui o fascismo - o governo é propriedade de um individuo, de um grupo, ou de qualquer grupo privado que o controle”.
“Franklin D. Roosevelt (1882-1945), mensagem propondo a investigação da standard Oil”.
Pontos de vista:
Por Stephen Kanitz:
Por que os grandes emprestadores de hoje são os fundos de pensão, hedge fund, e as empresas de private equity, e não os bancos comerciais, com seus mais de 500 anos de tradição nessa área?
A origem da crise atual remonta a 1933 e 1935, quando o governo americano instituiu uma série de regulamentos visando a impedir que os bancos emprestassem além de sua capacidade financeira. Esses regulamentos foram sendo modificados ao longo dos anos, e sua última versão são os acordos de Basiléia I e II.
Neles encontramos a regra básica comum a todos: "Os bancos poderão emprestar no máximo doze vezes seu capital e reservas, corroídos pela inflação do ano, ano após ano".
Deve ser a regra mais estapafúrdia e incoerente da história econômica do mundo, porque enfraquece a capacidade de emprestar dos bancos ano após ano, justamente o contrário do que queriam fazer.
Imagine o estrago que acarretaram ao setor bancário vinte anos de inflação multiplicados pela alavancagem de doze vezes o patrimônio líquido. Devido à inflação média somente deste ano, os bancos do mundo deixarão de emprestar 2 trilhões de dólares em 2008, só para poder se enquadrar nos ditames de Basiléia I e II.
Um tiro no pé dos bancos e na economia do planeta.
Os bancos comerciais, para sobreviver, mergulharam de cabeça em outras atividades, como serviços, derivativos, securitização de recebíveis.
No ano passado, somente os bancos americanos realizaram a loucura de 157 trilhões de dólares em derivativos, contra 500 bilhões em 1988. Hoje, os empréstimos não passam dos 6 trilhões; o negócio dos bancos comerciais agora é outro.
No Brasil, sentimos o efeito dessa regra bancária insana em 1982 e 1983, quando a inflação americana atingiu 20%, obrigando os bancos a recolher 20% de seus empréstimos, por simples regulamentação governamental, criando a famosa crise da dívida externa, que nos causou uma década e tanto perdida.
Acusaram-nos na época de ser um país superendividado, de ter tomado empréstimos demais, quando na realidade eram eles que estavam sendo forçados a dar empréstimos de menos. Os bancos também foram acusados injustamente de ter emprestado sem rigor, o que resultou nesses acordos ainda mais rígidos de Basiléia I e II, que mantiveram o absurdo original de usar como cálculo um capital corroído anualmente pela inflação. Um enorme retrocesso.
Compare isso com a regra utilizada pelo Banco Central brasileiro até 1995: "Os bancos poderão emprestar até doze vezes seu capital, corrigido anualmente pela inflação". Se em vez de pedirem moratória, implorarem por mais prazo, nossos negociadores tivessem exigido a troca do "corroído pela inflação" por um "corrigido pela inflação", os bancos americanos teriam tido o necessário espaço para respirar e teríamos resolvido a não-crise numa boa. Tínhamos até a obrigação de alertar o mundo, pois só os economistas brasileiros enxergam essas frases em itálico, calejados que fomos pela inflação.
Mas, em 1995, nosso Banco Central introduziu, inexplicavelmente, a regra "corroído pela inflação", enfraquecendo nosso sistema bancário, forçando-o a ganhar dinheiro com serviços, e não com empréstimos, comprometendo o crescimento do Brasil – mais um erro do governo FHC. Há males que vêm para o bem. Por termos enfraquecido o setor bancário mundial, hoje existem novos personagens dando crédito, crédito mais bem distribuído, menos conservador, mais agressivo.
Agora, em vez de o risco ser concentrado nos 100 maiores bancos do mundo, como em 1983, o risco está pulverizado entre 45.000 fundos e no mínimo 200 milhões de investidores de classe média para cima.
Muitos desses fundos estão de fato com problemas. Investidores que escolheram erradamente fundos muito alavancados e concentrados amargarão prejuízos, mas não teremos o risco de quebra em massa nem o contágio de bancos em liquidação, como antigamente.
Stephen Kanitz é formado pela Harvard Business School
******
Por Joseph Stiglitz
A situação nos EUA - há ou não recessão.
Existem duas doutrinas em Wall Street neste momento. A doutrina divide-se, sobre se será ou não mau para os EUA.
Uma doutrina são só profetas da desgraça e dizem que vem aí o inferno (Gloom and Doom); Outra doutrina afirma que isto é só uma recessãozinha que passa já para a semana.
Stiglitz afirma ser mais da escola “Gloom-Doom e pensa que esta é a crise mais grave nos ultimo quarto de século. Porque começa no sistema financeiro. Mas, claramente, ele acha que o sistema financeiro não funciona bem.
Nota o problema da crise do “Sub Prime”, e nota os problemas existentes de inadequados sistemas de concessão empréstimos, de fechar os olhos a empréstimos que não deveriam ser feitos, de ocultar mais dados relativamente à solidez ou não do crédito (se há muito ou pouco crédito mal parado…), e que tudo isto acontece não só nos mercados de empréstimos mas noutros locais da economia.
Menciona que proximamente (a entrevista foi feita em Março de 2008) “2 million foreclousures” (ou seja, 2 milhões de hipotecas serão resgatadas relacionadas com compras de casas ou sítios comerciais…)
E pelo menos até Março de 2009 - também por causa das eleições americanas,não será possível existir um entendimento entre o novo Presidente, seja qual for, e todas estas instituições no que toca a definir como se pagarão dividas.
A assimetria da informação.
Stiglitz nota a ironia da situação. Os EUA orgulhavam-se de serem um país com “transparência ” na forma como construiam as suas empresas, os negócios e como o “mercado” funcionava.
Nas crises financeiras de 19997/98, em termos mundiais, aos governos asiáticos foram dados sermões arrogantes por parte da entidades americanas sobre a falta de transparência.
Mas, atualmente, nota-se que existem, nos EUA, produtos financeiros extraordinariamente complicados, que ninguém tem bem a noção do que são ou não são conjugados com más praticas de fazer negócio.
Na assimetria de informação, em principio existem duas partes e uma delas tem muito maior informação que a outra podendo assim obter vantagens. (Assimetria de informação é a área de estudos no qual Stiglitz se especializou e pelo qual ganhou o prémio Nobel.
Aqui ao que parece e se conclui, parece que existe actualmente no mercado americano uma assimetria de informação bizarra em que ninguém sabe nada ou dispõe da informação necessária para conseguir saber alguma coisa.
Stiglitz acha que o que o que aconteceu foi que os donos da hipotecas originárias sabiam um pouco mais do que as pessoas a quem venderam e essas pessoas sabiam que essas hipotecas eram maus produtos e que quem comprava viria no futuro a ter dificuldades em fazer os pagamentos mas - mesmo assim venderam.
Mas por debaixo deste conceito de securitização do produto tal situação, criou uma vantagem: dispersou o produto (as hipotecas) pelo mundo todo, baixando o risco do mesmo.
Mas criou uma outra nova desvantagem enorme: criou uma nova assimetria da informação.
Porque a pessoa /empresa que cobrou a hipoteca já não era a pessoa/empresa que a tinha originado.
Debaixo do termo de “securitização” esta multiplicidade de donos e vendedores criou um novo rasto de donos e novas informações assimétricas entre novos donos. (O problema existe, mas é “transferido” para dentro de múltiplas camadas de inúmeros donos e empresas…)
Problema a longo prazo.
A divida dos Estados Unidos é uma divida internacional- a erosão do dólar.
A América tem estado a pedir emprestado 800 biliões de dólares por ano - para sustentar a guerra, a crise habitacional, fazer injecções de dinheiro na economia (Pump the economy) etc.
E em poupanças que nos EUA não se estão a fazer - originando pedidos de empréstimos, bem como porque os EUA tem estado a viver acima do seus meios.
Tudo isso - acumulado - está a dar cabo da confiança (Uma enorme falta de confiança) dos americanos enquanto consumidores.
Antes, o que sucedia.
No passado países ou empresas estavam na disposição de emprestar aos EUA a taxas de juros mais baixas do que aquelas que os EUA estavam dispostos a emprestar a esses mesmos países ou empresas. (Os EUA - país por si só - funcionavam como uma super garantia…mesmo que o dinheiro não existisse.)
Atualmente quase todos os países estão muito menos dispostos a emprestar aos EUA a taxas de juros baixas ou caso estejam exigem garantias mais fortes de pagamento da divida.
Daí as reservas monetárias estarem a fugir, saindo do dólar e a passarem para o euros e para o Yen.
Está a acontecer uma clara saída do dólar para outras moedas.
As principais consequências:
- O padrão de vida dos americanos terá que descer.
- Não se poderá, nos EUA, continuar a viver acima das possibilidades.
- Terão que se começar a pagar as dividas em vez de as pagar passando-as para gerações posteriores.
(Qualquer semelhança - a escala portuguesa - com os TGV`s e com os aeroportos e demais planos tecnológicos é pura coincidencia…)
(Qualquer semelhança com a política idiota que tem vindo a ser feita nos últimos 20 anos em Portugal com obras faraónicas que levam a lugar nenhum é pura coincidência…)
Hoje: aspectos financeiros a ter em conta com a retirada dos EUA do Iraque.
A Retirada:
Stiglitz no seu estudo, prova e demonstra que, mesmo que os EUA saissem do Iraque - agora, mesmo assim existiriam custos substanciais só por se sair do Iraque. (Deve-se esquecer a proposta de Jonh Mccain , candidato a Presidente que falava em “uma guerra para durar 100 anos)”.
Quais seriam?
1- reescalonar os militares (todo o exército) e o respectivo equipamento, no caso do equipamento, porque gastou-se equipamento mais depressa do que se repôs;
2- Atender à quebra de padrões de qualidade na formação das forças armadas americanas. Ao aceitar-se toda a gente no recrutamento em vez de excluir candidatos sem perfil começaram-se a contratar criminosos, neo nazis, pessoas notoriamente idiotas, etc, e tudo isso afecta a operacionalidade de um exército e a sua capacidade de combate.
Stiglitz e a sua equipa apontam para um gasto inerente a uma retirada e a este reescalonamento da ordem dos 100 biliões de dólares ou mais. 100 biliões é uma estimativa conservadora.
O tempo da retirada.
Para fazer uma retirada, esta duraria - uma vez que não pode ser feita do dia para a noite - duraria pelo menos um ano a efectivar:
Esta análise de Stiglitz e da sua equipa é baseada no orçamento apresentado pelo departamento correspondente do congresso norte americano, que prevê - muitas pessoas pensam isto mesmo nos EUA, que o que teria que ser feito seria os EUA, rapidamente - ao retirarem - terem que se converter não numa força de combate ainda presente no terreno, mas numa força de ocupação, de estilo força de paz das nações Unidas, e mesmo isso não é destituido de custos elevados.
Stiglitz dá o exemplo da Coreia do Sul, onde, apesar de não combaterem as forças americanas lá estacionadas, estão lá há 40 anos e isso custa, todos os anos, dinheiro.
Razão de ser desta força a ser mantida:
A) Para manter uma presença;
B) Defender os poços de petróleo e as rotas de transporte.
C) Ajudar a estabilizar o Iraque.
E mesmo tudo isso custa dinheiro e tempo, pelo menos 10 anos de tempo. Caso tudo corra bem.
Stiglitz analisou dois cenários, sempre baseados nos dados do departamento do orçamento pertencente ao congresso. Chegou às seguintes conclusões:
(1) Num cenário de forças de paz mesmo a 10 anos isto custaria 382 biliões;( Cenário menos despesista)
(2) Noutro cenário custaria 669 biliões, a tal manutenção de forças americanas como “força de manutenção de paz”, durante estes hipotéticos 10 anos. (Cenário mais despesista)
Mesmo que se optasse pela solução de (”vamos sair depressa”), muito desse dinheiro gasto seria substancialmente menos - apenas 600 biliões em dois anos.
Por isso é difícil ver como se custará menos, porque mesmo 660 biliões é dinheiro.
Num cenário realista, sem juros, chega-se ao tal valor de 3 triliões de dólares.
Ou seja chega-se sempre a 1.3 triliões directos mais os juros e os juros de juros que dão à volta de de 2.7 triliões (daí o titulo do livro - “A guerra de 3 triliões de dólares…”)
A média no orçamento dá 2 trilhões, mas e nesta altura já se está a dar folgas orçamentais dai a equipa de Stiglitz ter chegado aos 3 triliões - num cenário realista, apenas para arredondar os números.
Não deixa de ser algo que dá dores de cabeça discutir quantidades grandes de dinheiro, bilhões e trilhões como se estivesse a falar de 5 euros…
Para o prêmio Nobel de Economia de 2001, Joseph Stiglitz, a crise financeira que atingiu Wall Street e os mercados financeiros de todo o mundo equivale, para o fundamentalismo de mercado, ao que foi a queda do Muro de Berlim para o comunismo. “Ela diz ao mundo que esse modelo não funciona. Esse momento assinala que as declarações do mercado financeiro em defesa da liberalização eram falsas”.
Comentários