O Banco dos sonhos da FEBRABAN
Fábio Barbosa, presidente da Febraban, defende o setor das críticas e diz que as instituições nacionais não têm condições de suprir imediatamente as linhas de financiamento externo que secaram.
Em busca do crédito perdido
Luiz Antonio Cintra
A quebra do Lehman Brothers descortinou o abismo aos pés do mercado financeiro internacional. Se uma instituição centenária e um dos símbolos do poder de Wall Street podia ir à lona, acentuaram os analistas, o que dizer dos bancos do resto do planeta.
O day after do fim da casa fundada pelos irmãos Lehman parecia ser o prenúncio de um crash global que derrubaria o sistema bancário mundial feito dominó, do Japão à Patagônia.
No Brasil, como no resto do planeta, os boatos superaram os fatos e um certo pânico a respeito do futuro de algumas instituições nacionais espalhou-se como rastilho de pólvora.
O anúncio da compra do Unibanco pelo Itaú, no início de novembro, trouxe as análises de volta ao patamar da lucidez. A sensação foi reforçada depois que o governador de São Paulo, José Serra, chegou a um acordo com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o Banco do Brasil anunciou a aquisição da Nossa Caixa.
É certo que os bancos nacionais levarão algum tempo para suprir o desaparecimento quase completo de linhas externas de financiamento – se é que conseguirão fazê-lo por completo.
O crédito, por conseqüência, ficou mais caro e permanecerá assim até que o cenário da crise se torne claro. É certo também que, por diversos motivos, nem de longe os desafios do setor no Brasil são parecidos com os que afligem a banca nos países desenvolvidos.
De modo geral, especialistas acreditam que as instituições brasileiras sairão da turbulência mais fortes, mais sólidas e com grandes chances de conquistar espaço além das nossas fronteiras, ainda que no momento, como ressalta Fabio Barbosa, presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), seja impossível estabelecer um preço justo para qualquer ativo.
“A infra-estrutura operacional dos bancos brasileiros não deixa a desejar em nenhuma comparação com os concorrentes internacionais. É tudo uma questão de oportunidade. Acredito que, em breve, assistiremos a grandes instituições nacionais comprarem outras de médio porte lá fora, principalmente na vizinhança”, afirma Alberto Borges Mathias, professor da USP de Ribeirão Preto e um dos maiores especialistas em finanças do País.
A crise internacional chegou no momento em que os bancos brasileiros ampliavam a sua presença na economia. Desde 2007, a expansão do crédito foi um dos principais combustíveis do crescimento econômico recente. Apesar do cenário de instabilidade e das recorrentes acusações de que os bancos estão retendo dinheiro em caixa, o volume de empréstimos do sistema bateu novo recorde em outubro e alcançou a marca histórica de 40% do Produto Interno Bruto, praticamente o dobro do registrado em 2004. É um grande avanço em relação ao passado, mas ainda insignificante quando comparado a outros países, onde o porcentual chega a ultrapassar os 100% do PIB.
A questão é saber o quão rápido os bancos brasileiros serão para restabelecer a normalidade do crédito. Desde o agravamento da crise, o governo liberou cerca de 90 bilhões de reais do compulsório, a parcela que as instituições eram obrigadas a depositar no Banco Central. Ainda há margem para liberar mais dinheiro ao mercado por esse mecanismo.
No Brasil, o compulsório chegou a representar 50% dos depósitos bancários. Após a liberação, está em cerca de 40%. Só para comparar: nos Estados Unidos o compulsório equivale a 10% dos depósitos. No Reino Unido, a 2%.
O governo também permitiu aos bancos públicos comprar concorrentes, públicos ou privados, ou adquirir carteiras de financiamento de instituições em dificuldade. As viúvas do neoliberalismo identificaram na autorização um pendor estatizante de Brasília. Mas o que tem ficado claro é que a maior atuação dos estatais pode forçar os privados, em nome da necessidade de preservar sua participação no mercado, a sair da posição de defesa.
“Isso vai aumentar a concorrência. Associada à liberação do compulsório, pode provocar a queda dos juros já a partir de janeiro”, acredita Mathias. Para o economista Luiz Fernando de Paula, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o sistema financeiro nacional será um dos que sairão da crise com menos arranhões.
“O que houve no sistema bancário brasileiro foi uma crise de liquidez, não de solvência. Entre as explicações para essa maior capacidade de resistência está o fato de os bancos, nas últimas décadas, terem contado com a indexação dos títulos públicos contra a inflação e a variação cambial”, afirma o economista. A demora com que o dinheiro extra liberado do compulsório tem chegado à economia real, colocou os bancos na berlinda.
Representantes do governo e da indústria reclamam do “empoçamento” do financiamento e dizem que os banqueiros têm se aproveitado do momento para ampliar seus lucros. “O crédito contraiu-se fortemente, principalmente para as empresas de menor porte. Para todos, o custo do dinheiro está absurdo”, reclama Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial.
“Uma das alternativas para estimular o fluxo é cortar impostos sobre o financiamento.” Segundo Fabio Barbosa, não procede a crítica de que os bancos seguram o dinheiro na expectativa de aumentar seus lucros. “O crédito está chegando sim, o que está acontecendo é que não é suficiente, neste momento, para cobrir as necessidades não mais atendidas pelas fontes alternativas”, afirma.
Enquanto isso, a equipe econômica tenta driblar os gargalos com ações direcionadas. No fim de novembro, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou uma linha de 6 bilhões de reais de capital de giro, com juros fixos e spread de 4%. A intenção é, mais uma vez, pressionar o sistema financeiro privado a emprestar mais.
No caso de micro e pequenas empresas, o banco conta com um cartão de crédito específico, cujo uso tem crescido. De janeiro a novembro deste ano, as transações mensais passaram de 44,4 milhões para 108 milhões de reais, com um valor médio por transação de 15 mil reais.
“A vantagem do cartão é que ele possui um limite pré-aprovado para a aquisição de equipamentos, veículos e serviços, o que faz com que o empresário saiba quanto poderá gastar”, afirma Cláudio de Moraes, superintendente de Operações Indiretas do BNDES. Por conta da legislação, apenas as empresas em dia com a Receita Federal podem ter acesso ao cartão, assim como com as demais linhas das instituições oficiais.
“Além da brutal injeção de liquidez, o que vai forçar a retomada do crédito é a concorrência entre os bancos. Na hora em que os privados perceberem que estão perdendo mercado, voltarão a operar com mais vigor. Acredito que até o fim de dezembro essas operações estarão normais. Poderemos ter, inclusive, uma literal explosão na oferta em 2009”, afirma. O economista chama a atenção para a necessidade de o País cortar substancialmente as taxas de juro básicas, de modo a reduzir o spread – a diferença entre o que os bancos pagam nas aplicações de seus clientes e o que cobram pelos empréstimos.
Lembra também que o Brasil, além de ser campeão mundial em taxas de juro, conta com o spread mais elevado e tarifas operacionais acima da média internacional. “Apesar das condições mais favoráveis de que desfrutam, a rentabilidade dos bancos brasileiros segue a média mundial, o que indica menor eficiência.”
Uma vantagem comparativa considerável tem a ver com o grau de concentração do sistema bancário nacional. No Brasil, os cinco maiores bancos detêm mais de 70% do total de ativos, um dos principais indicadores para avaliar o peso específico de uma instituição financeira.
Nos EUA, esse indicador era de aproximadamente 40%, antes da crise, e no Japão, de 50%. Para os especialistas, o lado positivo da concentração do sistema brasileiro tem a ver com o ganho de musculatura. O lado negativo é aumentar o poder de mercado dos grandes.
No crescimento recente da oferta de crédito, alguns segmentos se destacaram, como o de empréstimos consignados, atrelados a descontos na folha de pagamento, ao financiamento de veículos e outros bens duráveis, e, em menor medida, para a compra de imóveis.
O mais crítico no momento é o de veículos, em decorrência da situação em que o Banco Votorantim se encontra, o maior agente em operação no financiamento de automóveis, com mais de 15% do mercado.
Com prejuízos em suas operações com derivativos e uma negociação abortada para a compra da Aracruz, com boa possibilidade de acabar na Justiça, o Grupo Votorantim tenta vender uma participação acionária de 49% para reforçar seu caixa. O valor dessa participação, que não daria o controle operacional a um eventual comprador, de cerca de 5 bilhões de reais, é um entrave.
No páreo estão o Banco do Brasil e o Bradesco. Este último, por sinal, está em busca de boas aquisições para recuperar o terreno perdido após o anúncio da compra do Unibanco pelo seu principal rival, o Itaú. O Bradesco disputa, por exemplo, as operações do Citibank no País, apesar de a matriz nos Estados Unidos negar que os ativos em terras brasileiras estejam à venda.
Praticamente estatizado e com problemas sérios a resolver, o Citi continua na lista das “presas”.
Ainda é cedo para fazer o balanço dos ganhadores e perdedores, mas o fato é que, no primeiro grupo, restarão poucos. Na sua maioria, sairão desta crise maiores do que entraram.
Bancos e indústrias travam nas últimas semanas uma queda-de-braço pública como há muito não se via. Diariamente, os jornas trazem declarações de representantes de ambos os lados, com acusações recíprocas de distorção dos indicadores oficiais relativos ao crédito. A indústria garante que os empréstimos desapareceram ou estão muito caros, os bancos sustentam que a situação já melhorou e caminha para a normalidade.
Ativo porta-voz das indústrias, o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Iedi, considera que até aqui as medidas adotadas pelo governo para contornar a crise são insuficientes. "Até o governo foi ineficaz no enfrentamento da crise de crédito, que teve uma contração muito forte desde setembro. Será preciso incentivar mais os bancos a investir, o que significa aumentar a rentabilidade dos empréstimos. Reduzir os impostos, como o IOF, é uma saída", afirma.
Na avaliação do economista, as grandes empresas estão conseguindo encontrar financiamento a um custo "absurdo". As companhias de menor porte, afirma, estão à míngua. Quanto ao aumento no volume de crédito em novembro, Almeida atribui à maior disposição dos consumidores para tomar empréstimo, passado o susto inicial, e à chegada do 13º salário. "O governo precisa agir com rapidez, porque a prova dos noves será a virada do ano. Por ora, os projetos de investimento já estão sendo adiados e o risco de as demissões começarem nos próximos meses é grande", afirma. (...)
Fonte: Carta Capital
Comentário: Quando a confiança for restabelecida, tanto quanto a repentina escassez de crédito, a venda de carros e imóveis afetadas pelo temor dos consumidores, a economia jamais será a mesma.
Spread
Brasil tem o maior spread bancário do mundo
O spread bancário no Brasil é o mais alto do mundo, o que provoca atritos entre o sistema financeiro e governos há anos. Spread é a diferença entre as taxas que os bancos pagam ao captar dinheiro no mercado e o juro que cobram nos empréstimos.
Segundo a Agência Estado, essa nova onda de pressão de autoridades de Brasília sobre as instituições, como relatou o jornal O Estado de S. Paulo em sua edição de domingo, tem como pano de fundo a redução dos depósitos compulsórios, dinheiro que os bancos devem deixar parado no Banco Central (BC), estimado atualmente em R$ 270 bilhões.
Para aliviar os efeitos da crise no País, o governo liberou, ao longo dos últimos dois meses, aproximadamente R$ 97 bilhões, segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Apesar disso, o spread bancário médio subiu de 26,4 pontos porcentuais em setembro para 28,4 pontos em outubro. “Não se pode aumentar ainda mais o custo para as empresas brasileiras em um momento difícil como este”, queixa-se o diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz Coelho.
“O spread no Brasil é sete vezes maior que o de outros países. É impraticável.”Anualmente, a Fiesp faz um ranking de competitividade, conhecido como IC. Um dos itens que o compõem é justamente o spread bancário.
No estudo deste ano, a entidade usou dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) relativos a 2007. Os números mostram que o Brasil liderava o levantamento, com spread médio de 25,3 pontos porcentuais.
Em um distante segundo lugar estava a Colômbia, com 7,4 pontos, seguida pela França, com 7 pontos.
Um estudo do próprio Banco Central revelou que o spread brasileiro é composto por vários itens:
- custo administrativo (13,5% do total),
- inadimplência (37,35%),
- compulsório (3,59%),
- tributos (8,09%),
- outros impostos (10,53%) e
- margem líquida dos bancos (26,93%).
Em outras palavras, dos 28,4 pontos do spread em outubro, a margem (lucro) das instituições era de 7,65 pontos porcentuais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
JUROS
BC não vai reduzir juros, diz Belluzzo
9/dezembro/2008 16:23
Em texto da agência Bloomberg, reproduzido na versão online da Folha de S. Paulo, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, assessor ecômico do Presidente Lula, argumenta que o momento para cortar os juros é agora. Mas o BC, devido a seu conservadorismo, não reduzirá a Selic.
BC deveria cortar juro, mas não vai, afirma Belluzzo
DA BLOOMBERG
O Banco Central tem margem de manobra para reduzir os juros, que estão no patamar mais elevado dos últimos dois anos, num momento em que a inflação desacelera mais do que os economistas prevêem, disse Luiz Gonzaga Belluzzo, assessor econômico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os preços ao consumidor, no atacado e no setor de construção, conforme apurados pelo índice IGP-DI, subiram 0,07 por cento em novembro, disse ontem o governo. O índice IPCA, referencial para a meta da inflação, também desacelerou em novembro, segundo o IBGE.
“”O problema é que a reversão da expansão econômica é muito rápida, e o BC não pode ficar esperando, e precisa ser mais energético”, diz Belluzzo.
Belluzzo disse que sua defesa de redução dos juros deverá ser ignorada pelas autoridades em sua reunião de política monetária a realizar-se a partir de hoje em Brasília, devido à natureza conservadora do BC. O banco vai manter a Selic em 13,75% nesta reunião, segundo 19 dos 21 economistas consultados pela Bloomberg.
COMENTÁRIO: Ninguém me consultou, e eu digo que o COPOM irá reduzir a selic em 0,25p na reunião que começou esta tarde.
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