Usa e joga fora

Política

Os tucanos apreciam o verbo investigar se o alvo é o governo alheio. Mas se a sujeira está em seu próprio ninho, preferem abafar. O uso da Nossa Caixa a serviço de aliados do PSDB é só uma pequena amostra.


Notíca com total isenção
Além do ex-governador como assunto de capa, revistas de amigos dos tucanos tinham em comum farta propaganda do governo de SP.
A cada semana surgem novas publicações. As incursões do ex-governador do Estado pelo mundo da comunicação, digamos, “alternativa”, vêm causando alguma dor de cabeça ao pré-candidato do PSDB à Presidência da República.
A mais recente, denunciada discretamente pelos jornais em meados do mês de abril, é uma revista da Federação Paulista de Futebol que circulou entre os anos 2004 e 2005. Na edição nº 5, o então chefe do governo está na capa. Em outras cinco páginas da revista há propagandas do governo do estado – duas delas do banco Nossa Caixa.
Essa não foi a primeira publicação em que anúncios pagos por recursos públicos fizeram par com entrevistas e capas em que figuravam o ex-governador. A revista Ch’an Tao, de propriedade do acupunturista de Geraldo Alckmin, Jou Eel Jia, também traz o pré-candidato ao Planalto na capa e acumula anúncios, dessa vez da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (Cteep).
O acupunturista também é proprietário de um spa em que professores da rede estadual faziam cursos. O Sistema de Informações Gerenciais da Execução Orçamentária, da Secretaria da Fazenda de SP, informa que em 2005 foram pagos R$ 354 mil em diárias a esse spa, pela Secretaria de Educação – acusação que, então governador, Alckmin negava.
A onda de denúncias começou pelo depoimento ao Ministério Público do ex-gerente de marketing da Nossa Caixa, Jaime de Castro Júnior. Ele informou que o banco público operou com duas empresas de publicidade, por mais de um ano, sem a licitação obrigatória por lei. Veículos de comunicação de uma série de deputados da base governista na Assembléia foram beneficiados por anúncios da Nossa Caixa, veiculados por essas empresas que atuavam sem licitação.
Castro assumiu parte da culpa e apontou envolvimento de Roger Ferreira, ex-secretário de Comunicação de Alckimin; de Carlos Eduardo Monteiro, presidente do banco; e de Daniel Rodrigues Alves, do departamento jurídico.
Apuração
O ex-governador, assim como outras lideranças do PSDB, a exemplo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, são unânimes em discursar que tudo deve ser apurado. Só esqueceram de avisar a bancada tucana na Assembléia Legislativa.
O mês de abril foi consumido em inúmeras tentativas de parlamentares do PMDB, do PT e de outros partidos que não compõem a base do governo, pela instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar todas as denúncias de aparelhamento do banco Nossa Caixa. Estão sendo convocados ou convidados a depor muitos dos personagens acima. A bancada de deputados ligados ao governo tem recorrido a todos os artifícios possíveis para evitar os depoimentos.
O Sindicato dos Bancários, que há meses trava um intenso embate com o governo contra a privatização do banco e suas subsidiárias, mais uma vez entrou na parada. Desta vez, com uma série de manifestações para exigir respeito à instituição pública e as devidas apurações das denúncias. Um desfile de modas patrocinado por “Da Lu Alckman” lembrou o escândalo dos 400 modelitos chiques “doados” à ex-primeira dama do estado por um estilista. Também foram distribuídos centenas de fogões de brinquedo aos deputados estaduais, numa alusão ao pagamento duplicado de fornos que foram doados pela Nossa Caixa às padarias comunitárias do estado – a gestão tucana do banco lançou a inovadora promoção “pague 1.000 e leve 500”.
O Sindicato acompanha a pressão popular nas sessões que dizem respeito à instalação da CPI, para que essa não seja mais uma entre 69 denúncias com pedido de CPI que a bancada governista joga para baixo do tapete (veja quadro).
E para esconder a sujeira, parece que vale ir buscá-la onde estiver. É essa a suspeita que paira sobre o episódio ocorrido com o corregedor da Assembléia Legislativa, deputado Romeu Tuma Jr. (PMDB). Ele teve seu escritório político invadido no início de abril e muitos documentos importantes, relativos à sindicância que apura essas denúncias, desapareceram. “Não posso acusar ninguém, mas minha experiência de 27 anos como delegado me diz que há algo errado. Nenhum bem material foi levado, somente os documentos”, conta Tuma.
Usa e joga fora
A Nossa Caixa é o último banco público do estado de São Paulo, mas vem sendo ameaçada pela possibilidade de privatização, principal marca do modo tucano de governar. Foi assim com o Banespa, vendido em novembro de 2000 para o grupo espanhol Santander. E com outras empresas como CPFL, Eletropaulo, rodovias e ferrovias estaduais, Comgás, CESP. A Nossa Caixa foi dividida em sete subsidiárias. A primeira, de cartões de crédito, teve a venda barrada, em 2005, por força de ação judicial promovida pelo Sindicato. Depois foi a vez da subsidiária de previdência e seguros que, a despeito da ação dos bancários, foi para o controle da também espanhola Mapfre.
E já está previsto para este mês de maio o leilão da subsidiária de capitalização. A Mapfre foi retirada desse processo, pelos mesmos erros apontados pela Justiça na ação contra a venda da subsidiária de seguros. “A Justiça já reconheceu o caráter privatista desse processo de venda das subsidiárias e informou que é inconstitucional privar o estado de seu último banco público. Esse modo de governar do PSDB já prejudicou muito o país, com a privatização de importantes empresas públicas em níveis federal e estadual. Isso tem que parar”, diz Raquel Kacelnikas, diretora do Sindicato.
O que os tucanos paulistas escondem
Algumas das 69 denúncias que tiveram pedidos de CPIs engavetadas pelo PSDB na Assembléia Legislativa:
  • Irregularidades em empréstimos à Eletropaulo, privatizada pelo governo em 1998.
  • Problemas de precariedade no abastecimento de água pela Sabesp.
  • Suspeitas de desvio de verbas e de irregularidades nas obras do Rodoanel, do Metrô, de rebaixamento da calha do rio Tietê e da Companhia Habitacional de Desenvolvimento Urbano.
  • Irregularidades na gestão da Febem.
  • Desvios de recursos e má gestão dos recursos da TV Cultura.
  • Indícios de corrupção nos programas Viva Leite e Alimenta São Paulo.
  • Aumento da violência policial no estado.
  • Prática de tráfico de influências na contratação de leiloeiros e empresas para a realização de leilões da administração direta e indireta.

Obs.: E querem levá-los para o Planalto.

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